Plantão Policial

Apesar dos investimentos, criminalidade tem aumentado

Mesmo com todo investimento em segurança pública, divulgado constantemente pelo Governo do Estado, Cuiabá e sua vizinha Várzea Grande vêm passando por tempos difíceis no que se refere à criminalidade em 2016. A Secretaria de Estado e Segurança Pública (Sesp) divulga dados mensais que apontam o índice da criminalidade e, analisando os números de janeiro a março desse ano, pode-se dizer que a situação não é nada boa para os moradores dessas duas cidades. Praticamente todas as categorias analisadas – homicídios, roubos, furtos e roubo e furto de automóveis – tiveram um aumento considerável em relação ao mesmo período do ano passado. 

Destaque para o número de furto de automóveis em Várzea Grande, que nos três primeiros meses deste ano teve um aumento de 126,4%, em relação ao mesmo período do ano passado. Sem contar o número de homicídios nas duas cidades, que até o fim de março somavam 115 assassinatos, na maioria deles com uso de arma de fogo. O número de roubo também deu um salto de 50% na capital do Estado.

Investimento ‘tapa buraco’

Em setembro de 2015 o Governo do Estado anunciou investimentos em Segurança pública, afirmando que, de R$ 80 milhões que já estavam no orçamento de 2015, o governo suplementou a verba em mais R$ 250 milhões, chegando ao montante de R$ 330 milhões nas ações para a segurança.  Segundo a Sesp, foram feitos investimentos no aumento do efetivo e aquisição de equipamentos para atividade nas ruas.

Na ocasião, o governador Pedro Taques argumentou a respeito dos homicídios na cidade. “Estamos concentrando esforços na segurança e já temos bons resultados como a diminuição no número de homicídios”. 

À época realmente houve redução de um homicídio em Cuiabá e 25 em Várzea Grande – entre janeiro e março- no comparativo com o mesmo período de 2014. Porém esse ano aconteceu o contrário, tendo aumento no número de mortes nas duas cidades. Em Cuiabá o total de homicídios passou de 54, em 2015, para 68, em 2016, entre janeiro e março. Já em Várzea Grande o número subiu de 27, em 2015, para 47, em 2016, no mesmo período.

Grupo de extermínio

Na quarta-feira (26.04) uma operação da Segurança Pública desarticulou uma organização criminosa voltada para a prática de homicídios praticados por pistoleiros que recebiam para matar.

Até o momento, 17 mandados de prisão foram cumpridos. Desses, seis de policiais militares envolvidos no “Grupo de Extermínio”. Os suspeitos foram indiciados inicialmente por nove assassinatos em Várzea Grande, incluindo uma chacina no dia 13 de abril, no Bairro Cristo Rei.  Segundo o Secretário de Segurança Pública, Rogers Elizandro Jarbas, os investigadores ainda terão muito trabalho, já que o grupo é, segundo ele, “responsável por, no mínimo, 40% dos homicídios cometidos nas duas cidades desde 2013”.

Isso, em parte, justificaria o aumento no índice de homicídios. Porém, há outras modalidades que também tiveram o espantoso crescimento, mesmo com os R$ 250 milhões investidos no final do ano passado. “A Segurança Pública estava sucateada, então pode parecer um investimento, mas era simplesmente um recurso imprescindível e que precisava ser feito, já que as polícias não tinham sequer fardas e nem viaturas para rodar”, explanou Jarbas.

Em relação ao aumento nas estatísticas, o secretário informou que a população tem registrado mais as ocorrências por estar “acreditando nas ações da polícia” e, para ele, isso é importante, pois possibilita que a secretaria atue de maneira científica e promova ações de combate onde a criminalidade está em alta. 

“Crise na Segurança pública”

Para o especialista em segurança pública, doutor em Sociologia e professor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Naldson Ramos da Costa, “estamos passando por uma crise na segurança pública” já que, para ele, o sistema é falho. Mas, o que falta para reduzir essa criminalidade? 

Segundo o sociólogo, essa é uma pergunta ainda sem resposta por parte das autoridades e gestores públicos. Para ele, estamos passando por uma “crise na segurança em razão da falência do nosso modelo de controle social baseado, quase exclusivamente, na ideia de repressão policial e aprisionamento dos criminosos. Essa fórmula está exaurida, não produz mais os efeitos desejados”. 

Ele explica, na teoria, como seria o modelo ideal de segurança pública. “Gestão qualificada, com planejamento estratégico, mais ação, análise dos resultados, revisão dos indicadores e as variáveis, aliados com um trabalho de inteligência da polícia irá produzir melhores resultados do que ficar insistindo em contratação de mais homens, mais armas, mais leis severas e mais presídios. Essa fórmula está falida. É pouco inteligente e muito caro para o contribuinte lançar mão de uma fórmula ou receita que não faz mais efeito para o problema da violência e da criminalidade. Debater e reformar todo o sistema de justiça criminal é o caminho para superarmos o medo e a insegurança em nosso país”. 

Naldson explica também, dentre outras coisas, o que leva as pessoas a cometerem atos criminosos. Para ele, há vários fatores que levam à ação de um indivíduo, mas eles agem racionalmente para conquistar seus objetivos, lícitos ou não.  “Não se pode atribuir este aumento da criminalidade na região metropolitana a um único fator. O comportamento humano é motivado por vários fatores internos e externos. Os internos têm a ver com a percepção da realidade e como ele se coloca diante dos problemas diários. Os indivíduos fazem escolhas racionais de como agir para conquistar seus objetivos, sejam eles lícitos ou ilícitos”.

Enquanto o secretário de segurança pública acredita que os índices na criminalidade aumentaram porque a população está registrando as ocorrências por “não acreditarem mais na polícia”, o sociólogo Naldson diz que os índices aumentaram porque os criminosos acreditam que o crime compensa, diante da impunidade da justiça. “Alguns, intencionalmente, buscam a criminalidade como forma de sobrevivência diante do quadro de dificuldades para se inserir no mercado de trabalho, ou por julgar que crime compensa diante da impunidade que se verifica em relação à repressão e atuação da justiça. Por isto, alguns acabam apostando na ideia de que o crime compensa os riscos de perder a liberdade ou morrer cedo” explica.

Ou seja, estamos diante de um embate em que a população – de acordo com o secretário – acredita na ação da polícia e os criminosos – de acordo com o sociólogo, especialista em segurança pública – escolhem o crime por acreditarem na impunidade da justiça.

Estatistica

Os números acerca dos índices de violência no Estado são levantados pela Diretoria de Inteligência – Seção de Estatística Criminal da Polícia Judiciária Civil (PJC) e no último levantamento – relativo a Cuiabá e Várzea Grande – alguns dados surpreenderam pelo expressivo aumento.

Homicídio: Até 31 de maço de 2015, os casos de homicídios na capital de Mato Grosso somavam 54 casos. Já em 2016, esse número saltou para 68 casos, um amento de 25,9%.

Em Várzea Grande, o aumento da porcentagem é bem maior que o da capital, chegando a 74%, já que até 31 de março de 2015 foram registrados na cidade 27 assassinatos e no mesmo período deste ano, os casos saltaram para 47.  

Roubo: O número de roubos (quando por meio de violência ou grave ameaça) no ano de 2015, em Cuiabá, somavam 1.729 casos. Agora, em 2016, esse dado subiu para 2.594 casos. Um aumento de 50%. Se somarmos os 2.594 casos e dividirmos pelos 91 dias que dão até 31 de março – data do fechamento da pesquisa – chegaremos ao impressionante resultado de 28,5 roubos por dia, isso somente na capital.

Várzea Grande novamente supera a capital, num quesito que não é de se orgulhar. O índice de roubo na cidade atingiu o alarmante aumento de 93,9%. Os cidadãos do município até puderam respirar um pouco aliviados quando os casos caíram de 865 em 2014, para 762 roubos em 2015, queda de 11%. Porém, essa porcentagem ultrapassou esses 93,9%, pois os casos chegam ao impressionante número de 1.478 até 31 de março deste ano. Isso em uma cidade que tem a densidade populacional bem menor em relação à da Capital, Cuiabá.

Furto: Na capital de Mato Grosso, o número de furtos (apropriar-se de algo sem que o dono saiba e sem uso de violência ou qualquer tipo de contato), até 31 de março de 2016, chegou a 3.537 casos, um aumento de 29,2% em relação ao mesmo período do ano passado, que registrou 2.736 casos nos três primeiros meses.

Na cidade de Várzea Grande, vizinha da capital, no ano de 2015 eram 886 casos até 31 de março daquele ano. Agora, em 2016, os números chegaram a 1.065 casos, um aumento de 20,2%.

Roubo de automóvel: Em 2015, 193 automóveis foram roubados até 31 de março daquele ano na capital. Já em 2016, esse número saltou para 282, o que dá um aumento de 46,1%. Praticamente três automóveis foram roubados por dia em Cuiabá.

Em Várzea Grande, o número de roubos de automóveis caiu 29,7% se compararmos o período até 31 de março de 2014 que teve 178 automóveis roubados e o ano de 2015 com 125. Porém, esse número novamente subiu no mesmo período de 2016. Agora, foram registrados 162 casos, aumento de 29,5%.

Furto de automóvel: Os dados ruins não param por aqui, pois nos três primeiros meses de 2015 foram furtados 149 automóveis em Cuiabá. Já em 2016, esse dado saltou para 192, um aumento de 28,8%. Cerca de dois automóveis furtados por dia.

Na cidade de Várzea grande, foram furtados, nos três primeiros meses do ano passado, 34 automóveis, e agora, em 2016, 77 foram furtados, o que dá o impressionante aumento de 126,4% nos casos.

Confira detalhes da reportagem na edição 581 

Raul Bradock

About Author

Você também pode se interessar

Plantão Policial

Ladrões explodem caixa eletrônico em VG

Inicialmente, os ladrões usaram um maçarico para cortar o equipamento, mas não conseguiram e usaram explosivo.    Os bandidos fugiram
Plantão Policial

Em Sorriso 66 motos são apreendidas em operação da PM

"Esta é uma determinação do comandante, tenente coronel Márcio Tadeu Firme. Até o carnaval, faremos todos os dias blitz em