Um levantamento feito pela BBC Brasil junto às prefeituras dos municípios que sediarão os jogos do Mundial no ano que vem revela que em nenhum deles mais de 10% do lixo recolhido diariamente é reciclado via coleta seletiva.
Em grande parte das cidades-sede, a taxa é inferior a 5%. Em quatro delas (Fortaleza, Manaus, Natal e Cuiabá), o índice não supera 1%. Porto Alegre (9,1%) lidera a lista com o maior coeficiente de lixo reciclado, seguida por Belo Horizonte (7%) e Curitiba (6,6%).
Completam o ranking Brasília (5%), Salvador (5%), São Paulo (2,1%), Recife (2%) e Rio de Janeiro (1,4%). Juntas, as 12 cidades-sede e suas regiões metropolitanas são responsáveis pela produção diária de 35% dos resíduos sólidos urbanos do país, ou 91 mil toneladas de lixo.
Na avaliação de especialistas, o cenário reflete décadas de falta de políticas públicas para combater o problema.
Reagindo a isso, há cerca de três anos, o Congresso aprovou o Plano Nacional de Resíduos Sólidos, que estabelece as diretrizes para a destinação adequada do lixo e prevê que as prefeituras criem programas de coleta seletiva.
"Economia gigantesca"
Atualmente 766 dos 5.565 municípios brasileiros, ou 14% do total, operam programas de coleta seletiva, segundo a mais recente pesquisa Ciclosoft, realizada pelo do Compromisso Empresarial para a Reciclagem (Cempre), associação empresarial dedicada à promoção da reciclagem e gestão integrada do lixo.
De acordo com o levantamento, a população atendida por tais programas chega a cerca de 27 milhões de brasileiros, um número baixo se considerado os quase 200 milhões de habitantes do país.
Além disso, a maior parte das iniciativas ainda se concentra nas regiões Sudeste e Sul do país. Do total de municípios brasileiros que realizam esse serviço, 86% estão situados nessas regiões.
Em praticamente a metade deles, a coleta seletiva de resíduos sólidos (a chamada fração seca, ou seja, tudo o que não é lixo orgânico, como restos de alimentos, por exemplo) é feita pela própria prefeitura, que, em sua grande maioria, apoia ou mantém cooperativas de catadores.
Mas o grau de abrangência já foi pior. Em 1994, quando o Cempre iniciou o levantamento, somente 81 municípios possuíam programas de coleta seletiva.
"Grande parte do que vai parar nos lixões ou aterros sanitários poderia ser reciclado", afirmou à BBC Brasil Sabetai Calderoni, presidente do Instituto Brasil Ambiente e especialista no assunto. "A conta do lixo poderia sair a custo zero. Isso traria uma economia gigantesca aos cofres públicos", acrescenta ele.
Um levantamento do Instituto de Política Econômica Aplicada (Ipea) encomendado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) calcula que o Brasil perde cerca de R$ 8 bilhões por ano ao deixar de reciclar resíduos que, em vez de ganharem nova utilidade, vão parar em aterros e lixões das cidades.
BBC Brasil