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Após sequência ruim, Ibovespa inicia semana em alta, de volta a 134 mil pontos

Após ter fechado a sexta-feira no menor nível em quase três meses, na casa dos 133 mil pontos, a depreciação acumulada pelo Ibovespa desde a máxima histórica de 141 mil, em 4 de julho, induzia uma recuperação técnica neste começo de semana, na ausência de novidades, desde o sábado, 19, que agravassem ainda mais a disputa comercial com os Estados Unidos. Pelo contrário: declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de que não há planos para retaliar ou criar restrições a remessas de dividendos contribuíram para uma relativa descompressão dos ativos brasileiros, com recuo do dólar e do DI futuro, e avanço do Ibovespa.

No fechamento desta segunda, 21, o principal índice da B3 mostrava ganho moderado a 0,59%, aos 134.166,72 pontos, tendo rompido o limiar de 1% de alta no melhor momento da sessão, à tarde, aos 134.864,53 pontos, saindo de mínima (133.367,36) quase correspondente ao nível de abertura (133.381,58) do pregão. O giro financeiro desta segunda-feira ficou em R$ 17,5 bilhões. No mês, o Ibovespa cede 3,38% e, no ano, ainda avança 11,54% – em 4 de julho, no fechamento em recorde histórico, o ganho acumulado em 2025 chegava a 17,44%.

Apuração do Estadão/Broadcast mostra que o governo está preparando defesa com base em argumentos técnicos e econômicos, o que envolve também aspectos que foram colocados meio de ‘contrabando’, como o Pix, nas queixas apresentadas pelo governo Trump para abrir uma investigação comercial sobre a conduta brasileira. As portas para uma negociação bilateral em alto nível, contudo, permanecem fechadas. A colocação de uma cláusula política, que colide com a própria jurisdição do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre uma questão doméstica, dificulta recuo do republicano neste momento, o que reforça a perspectiva de que se chegue a 1º de agosto sem uma revisão da tarifa de 50% sobre produtos brasileiros prometida pela Casa Branca.

Nesta segunda-feira, ações associadas ao ciclo doméstico, como Pão de Açúcar (-7,73%), Magazine Luiza (-3,55%) e CVC (-3,35%), puxaram a fila perdedora entre as componentes do Ibovespa. No lado oposto, Fleury (+14,89%) – com a notícia sobre possível aquisição da empresa pela Rede D’Or -, à frente de BRF (+4,90%) e de CSN Mineração (+4,76%).

Entre as blue chips, Vale ON, a principal ação da carteira do índice, fechou em alta de 2,73% após ter chegado a mostrar ganhos perto de 4% mais cedo. Petrobras ON e PN também moderaram o avanço em direção ao fechamento, com a ON em leve alta de 0,27% e a PN, de 0,19%. A perda de dinamismo do Ibovespa à tarde também se associava ao setor financeiro, com Banco do Brasil na mínima do dia no fechamento (ON -1,97%). Ao fim, Itaú PN conseguiu sustentar ganho de 1,17% na sessão, de leve variação para Bradesco (ON +0,22%, PN +0,06%).

“O mercado veio de uma série de eventos muito voláteis, e hoje a curva de juros, em especial, mostrou-se mais acomodada, com leve inclinação na parte mais longa, mas com variações bem pequenas. O macro esteve um pouquinho mais calmo no dia de hoje, uma calmaria depois da tempestade”, diz Nicolas Merola, analista da EQI Research, destacando também a regressão dos rendimentos dos Treasuries nesta abertura de semana, os quais vinham avançando desde o começo do mês. “Foi apenas o terceiro ou quarto pregão de queda de juros por lá desde o início do mês, e hoje especialmente mais forte do que em sessões anteriores.”

Ele ressalta também uma reacomodação do câmbio após uma relativa retomada do “trade” de dólar forte – aqui, a moeda americana fechou a sessão em baixa de 0,40%, na casa de R$ 5,56. “A Bolsa vinha de uma queda forte na sexta-feira e hoje o setor de materiais básicos foi o chamariz para a recuperação, com indicativos de um ponto de inflexão para a demanda por minério de ferro na China, depois de um intervalo de muito pessimismo com relação à economia do país”, acrescenta.

O analista destaca, no fim de semana, o investimento anunciado pela liderança política da China em um grande projeto hidrelétrico no oeste do país. “Tivemos mais um dia de alta para o minério de ferro após essa grande notícia”, diz Merola, referindo-se ao projeto de US$ 170 bilhões anunciado pela China. Assim, na B3, o IMAT, índice de materiais básicos, subiu hoje 2,09%, comparado a ganho de apenas 0,39% para o índice de consumo (ICON), mais correlacionado ao ciclo doméstico.

“Demanda por aço e minério cresce com um projeto dessa envergadura, e há também, na China, uma iniciativa para redução de capacidade ociosa no setor industrial, o que sustenta essa retomada da matéria-prima, do minério em particular, que subiu hoje 2%, ajudando Vale por aqui e o setor siderúrgico em geral”, diz Guilherme Petris, operador de renda variável da Manchester Investimentos.

Dólar

O ambiente externo propiciou uma leve recuperação do real – mas ainda distante de apagar as perdas de mais de 2% em julho -, na esteira da desvalorização global do dólar e da alta do minério de ferro. O fluxo foi baixo em meio a uma agenda enxuta, que teve como destaque o boletim Focus, com alívio nas expectativas inflacionárias, e a sinalização do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de que o governo brasileiro não retaliará os Estados Unidos.

Com mínima a R$ 5,5514 e máxima a R$ 5,6119, ambas pela manhã, o dólar à vista encerrou o pregão desta segunda-feira, 21, em queda de 0,40%, a R$ 5,5650. O diretor de investimentos Leonardo Monoli, da Azimut Brasil Wealth Management, afirma que o desempenho do câmbio nesta segunda-feira esteve mais relacionado com o ambiente externo favorável. “O dólar fraco com relação a outras moedas é o fator mais importante, e segue prevalecendo”, afirma, enfatizando que não houve um motivo doméstico para a melhora do real.

A desvalorização do dólar ocorreu tanto entre moedas fortes – vide DXY cedendo a 0,6% no fim da tarde -, quanto ante moedas emergentes (com exceção do peso colombiano), em meio ao cenário de incerteza sobre as tarifas e a campanha da Casa Branca contra o Federal Reserve (Fed). Para economias exportadoras, como é o caso do Brasil, o aumento de 2% do minério de ferro em Dalian, na China, e de 3% em Cingapura também ajuda em termos de fluxo.

O gerente de câmbio da corretora Treviso, Reginaldo Galhardo, observa, contudo, que o dólar subia contra o real no início da manhã, mas diz que o mercado “se acalmou” após comentários de integrantes do governo de que não haverá retaliação contra os EUA – e foi só então que a divisa americana se firmou em baixa contra o real.

O comentário faz referência à declaração do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, à rádio CBN, de que não vai adotar qualquer retaliação contra empresas ou pessoas físicas dos EUA como resposta à tarifa de 50% sobre os produtos do Brasil e às ações de caráter político contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) brasileiro.

Destaque de agenda enxuta neste início da semana, o Boletim Focus mostrou que a mediana para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) 2025 caiu de 5,17% para 5,10%, e a de 2026 recuou de 4,50% para 4,45% – abaixo do teto da meta pela primeira vez desde março. Alguns operadores consideram que a revisão também contribuiu para maior fluxo.

Juros

Em um dia de agenda esvaziada aqui e no exterior e melhora generalizada no comportamento dos ativos locais, a curva a termo operou em queda na segunda parte do pregão, movimento que, para agentes de mercado, não teve gatilho específico. Investidores continuam atentos a ruídos políticos e ao desenrolar do impasse com os EUA sobre a tarifa de 50% imposta ao Brasil, mas sem maiores novidades sobre os dois temas, as taxas seguiram o alívio nos rendimentos dos Treasuries.

Terminado o pregão desta segunda, 21, o contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) de janeiro de 2026 passou de 14,956% no ajuste anterior para 14,960%. O DI de janeiro de 2027 oscilou de 14,378% no ajuste de sexta para 14,320%. O DI de janeiro de 2028 cedeu para 13,660%, vindo de 13,732% no ajuste antecedente, e o contrato do primeiro mês de 2029 diminuiu de 13,639% no ajuste para 13,590%.

Na parte mais longa da curva, o DI de janeiro de 2031 passou de 13,821% no ajuste para 13,800%. A taxa de janeiro de 2033 marcou 13,870%, vindo de 13,896% no ajuste anterior. Por volta das 16h, os vértices a partir de 2029 chegaram a tocar mínimas intradia.

Divulgado hoje pelo Banco Central, o relatório Focus apontou que o consenso de mercado para a alta do IPCA de 2026 caiu ligeiramente entre a semana passada e a atual, de 4,50% para 4,45%. Já a projeção para 2027 segue estacionada em 4%, e a de 2028 ficou praticamente estável, ao passar de 3,81% para 3,80%. O alvo central perseguido pelo BC é 3%.

“Apesar de muitos ruídos políticos em geral, seja na questão fiscal doméstica, seja em relação ao impasse entre Brasil e EUA, a correção nas projeções de inflação no Focus contribuiu para o fechamento da curva”, avalia Vitor Oliveira, sócio da One Investimentos, ponderando que o ambiente ainda é de volatilidade e que as quedas observadas hoje nos DIs foram modestas. “A curva fechou um pouco, mas ainda está ‘de lado’. O mercado ainda precifica nível de risco”.

O Focus saiu pela manhã, assim como a entrevista do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, à CBN, em que o titular da Pasta mostrou tom mais conciliador sobre a ofensiva comercial americana. Haddad afirmou que o governo não vai adotar nenhuma retaliação à tarifa, e que o Itamaraty segue empenhado em negociar com Washington até 1º de agosto, data em que a alíquota deve entrar em vigor. No entanto, as taxas longas mostravam alta moderada até o início da tarde, enquanto as demais rondavam estabilidade. A reversão para quedas a partir do miolo da curva ocorreu após 15h.

“Pela manhã, a curva de juros no exterior estava fechando e a brasileira caminhava em sentido contrário. No fim das contas, o dia foi bem monótono e uma convergência para a tendência internacional é natural sem outros gatilhos adicionais”, afirma Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos.

Diretor de gestão e economista da Alphawave Capital, Tiago Hansen também não viu um vetor específico que tenha explicado a ligeira queda de hoje, a não ser o exterior. “Internamente, tivemos o relatório Focus com números melhores do que nas últimas semanas, e a balança comercial com superávit na terceira semana de julho”, diz Hansen. De acordo com a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), a diferença entre exportações e importações foi positiva em US$ 1,53 bilhão no período.

Oliveira, da One Investimentos, pondera que, a despeito do alívio observado hoje na curva, o risco tarifário ainda é relevante. Não houve avanços concretos na questão entre Brasil e EUA e, se o presidente Lula subir o tom novamente, os juros longos podem ser afetados, disse. “A força de negociação está muito mais do lado dos EUA.”

Estadão Conteudo

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