Em noite marcada por emoção, reconhecimento e profunda reverência ao saber, a historiadora, educadora e escritora Anna Maria Ribeiro tomou posse na Academia Mato-Grossense de Letras, na última sexta-feira, 11 de julho de 2025, assumindo a Cadeira nº 32, anteriormente ocupada pelo intelectual José Ferreira de Freitas.
A cerimônia, realizada na Casa Barão de Melgaço, sede da instituição, reuniu acadêmicos, autoridades, pesquisadores e representantes da cultura e da educação mato-grossense. Em seu discurso de posse, Anna Maria evocou não apenas sua formação acadêmica, mas também sua vivência junto aos povos indígenas e sua dedicação à memória cultural do estado.
“Entro nesta Casa com os pés descalços de quem caminhou aldeias, arquivos, escolas e campos de pesquisa. Trago comigo os cantos Nambiquara, a resistência das educadoras anônimas e o silêncio que guarda o saber ancestral”, declarou, sob aplausos.
Um legado de pesquisa e escuta
Com sólida formação nas principais instituições do país — da UFRJ à UFPE e à PUC-SP —, Anna Maria Ribeiro é referência em etnologia indígena, especialmente por sua atuação de mais de três décadas na Fundação Nacional do Índio (FUNAI). Sua obra “Além do artefato: cultura material e imaterial Nambiquara” é considerada leitura essencial para estudiosos da antropologia cultural e da história de Mato Grosso.

Mas é fora dos círculos acadêmicos que seu trabalho ganha corpo vivo: em projetos de educação indígena, iniciativas de preservação da memória oral e nas colaborações frequentes com o jornalismo cultural local, como o Circuito Mato Grosso, onde sua escrita ajudou a iluminar faces ocultas da identidade regional.
A força simbólica da Cadeira 32
Ao assumir a Cadeira 32, Anna Maria se insere numa linhagem de intelectuais comprometidos com a diversidade, o pensamento crítico e o diálogo intercultural. Sua presença renova os compromissos da Academia com a pluralidade de vozes que constituem o patrimônio simbólico de Mato Grosso.
O presidente da AML, ao saudá-la, afirmou: “Anna Maria traz à Casa não apenas erudição, mas escuta. É uma mulher de saberes e silêncios. Uma ponte entre a ciência e a alma das culturas que nos fundam”.
Entre arquivos e afetos: o papel da intelectual pública
Mais que uma acadêmica, Anna Maria é vista como uma intelectual pública, alguém que articula pesquisa, militância cultural e produção de conhecimento com forte impacto social. Em tempos de revisionismo histórico e apagamentos culturais, sua eleição representa um gesto político e poético.
A posse de Anna Maria Ribeiro marca não apenas o início de uma nova trajetória na Academia, mas também o fortalecimento de um compromisso coletivo com a preservação da memória, da identidade e da diversidade que fazem de Mato Grosso um território múltiplo e profundo.