A assessora de Direitos Humanos da Anistia Internacional, Renata Neder, disse à reportagem que ações e atividades de mobilização são feitas normalmente pela organização não governamental. As ações de solidariedade são promovidas em apoio a famílias ou pessoas que são vítimas de violência, estão em situação de risco ou têm seus direitos violados. Na segunda-feira passada (5), a Anistia lançou um apelo para que todos os seus membros, no mundo inteiro, escrevam cartas fazendo uma demanda. “Nesse caso, a gente lançou uma ação urgente, pedindo investigação sobre o paradeiro do Amarildo”.
Renata informou que a decisão de fazer o ato de solidariedade hoje, quando se comemora o Dia dos Pais, objetiva “brincar que, neste domingo, seremos todos filhos e filhas do Amarildo, esperando ele voltar para casa. É um ato de solidariedade com a família, mas também reforçando esse pedido de investigação do caso”.
A assessora destacou a importância de se começar a discutir, também, outros fatos que permanecem sem resposta até hoje. Um deles é que, se Amarildo foi detido para averiguação por ser parecido com algum traficante para o qual havia um mandado de prisão, por que ele foi levado para a UPP e não para uma delegacia de polícia, como seria o correto, indagou Renata Neder. “Foi um procedimento que não é o correto”.
É preciso indagar também as autoridades, segundo ela, para saber por que o aparato de segurança instalado em área de UPP “e, inclusive, na Rocinha”, não funcionou naquele dia. “As câmeras que vigiariam a entrada e a saída da sede da UPP na Rocinha não estavam funcionando e, portanto, é impossível ver a imagem do Amarildo saindo pela porta, como os policiais dizem que aconteceu”.
Outra pergunta se refere ao equipamento de GPS (Sistema de Posicionamento Global, por satélites) dos carros da polícia que, segundo informações, estavam também desligados no dia do desaparecimento do ajudante de pedreiro. “Afinal de contas, todos esses instrumentos, as câmeras, por exemplo, não podem servir somente para vigiar a população da Rocinha. Tem que ser para garantir segurança e, inclusive, garantir transparência à ação da própria polícia. Afinal, a polícia está ali agindo em nome do estado e deve existir total transparência em relação ao que a polícia está fazendo”, disse.
Outra coisa que preocupa a Anistia Internacional é a tentativa de se criminalizar de alguma forma a família do Amarildo, disse a assessora de Direitos Humanos da organização. Segundo ela, o relatório apresentado pelo ex-delegado adjunto da 15ª Delegacia Policial (DP) da Gávea, na zona sul da cidade, Ruchester Marreiros, aponta envolvimento do pedreiro Amarildo de Souza e da mulher dele com o tráfico de drogas da comunidade. O delegado titular da 15ª DP, Orlando Zaccone, contesta essa avaliação. Zaccone assegura que o material colhido durante as investigações não garantem o indiciamento da mulher e de Amarildo nem comprovam o envolvimento deles com o tráfico. Marreiros foi transferido para a Delegacia de Repressão a Crimes de Informática.
“Esse relatório insinuando o envolvimento da família de Amarildo com o tráfico é muito grave por dois motivos. Nem que a família de Amarildo tivesse envolvimento com o tráfico, não seria justificável que ele sumisse. A gente vive em um Estado Democrático de Direito e existe um devido processo legal de investigação, de indiciamento, julgamento e aplicação das penas cabíveis”. O segundo ponto, disse Renata, é que essas acusações “não procedem”. Ela acredita que as insinuações feitas parecem ser “uma tentativa de criminalizar a vítima para desviar o foco do que deveria ser de fato a investigação sobre o paradeiro do ajudante de pedreiro”. O estado tem que dar um desfecho para esse caso, ser capaz de investigar e dizer o que ocorreu e punir os responsáveis pelo desaparecimento do Amarildo, declarou Renata.
Agência Brasil