A presença da onça-pintada, na terra, e o gavião-real no ar do Parque Sesc Serra Azul, unidade do Polo Socioambiental Sesc Pantanal, são os principais indicadores da importância da área para a conservação da biodiversidade no Cerrado mato-grossense. Em quatro anos, cinco espécies ameaçadas foram avistadas na área de cinco mil hectares, que representa um refúgio diante da perda de habitat pelo desmatamento, caça e captura para criação em cativeiro.
Celebrado neste sábado (22/5), o Dia da Biodiversidade foi criado pela Organização das Nações Unidas (ONU) com o intuito de conscientizar a população de todo o mundo a respeito da importância da diversidade biológica e sua preservação. A data é uma oportunidade para destacar o papel das áreas conservadas para a manutenção da biodiversidade, diz a superintendente do Polo Socioambiental Sesc Pantanal, Christiane Caetano. "Tudo está conectado: semente, planta, bicho e gente. Por isso, a conservação da biodiversidade é tão importante, pois impacta a todos", destaca a superintendente.
De acordo com o engenheiro florestal do Parque Sesc Serra Azul, Henrique Freire de Andrade, na unidade já foram registradas 15 espécies ameaçadas. O Parque existe há nove anos e está localizado em Rosário Oeste, na região de Nobres (MT), em pleno Cerrado. A região é cercada por fazendas de gado e áreas de agricultura extensiva. Nela, já foram avistados cachorro-vinagre, anta, gato-mourisco, jacu-de-barriga-castanha, lobo-guará, macaco-prego-de-papo-amarelo, onça-parda, queixada, tamanduá-bandeira e tatu-canastra, todos presentes na categoria de risco denominada vulnerável.
Mais recentemente encontrados estão a onça-pintada, registrada pela primeira vez em 2018, o gavião-real, em 2019, o cervo-do-pantanal, em 2020, a azulona e raposa-do-campo, ambas em 2021. “Essa linha do tempo é um indicador de que o Parque dá condições de sobrevivência, permanência e recuperação de populações de animais vulneráveis. É uma alegria ver essa lista de presença crescendo a cada ano, pois é o mais evidente resultado de cumprimento da missão de trabalhar pela conservação da biodiversidade”, diz o engenheiro florestal.
Uma espécie está vulnerável quando as melhores evidências disponíveis indicam que enfrenta um risco elevado de extinção na natureza em um futuro próximo, a menos que as circunstâncias que ameaçam a sua sobrevivência e reprodução melhorem. A vulnerabilidade é causada principalmente por perda ou destruição de habitat. Atualmente, há 4.796 animais e 5.099 plantas classificadas como vulneráveis.
Espécies vulneráveis avistadas
A onça-pintada é o maior felino das Américas e ocupa áreas naturais com presença de corpos d’água e disponibilidades de presas. Ela apresenta preferência por ambientes com pouco distúrbio causado pelo homem, o que faz com que ela seja um excelente indicador para identificar áreas conservadas. “A presença da onça-pintada indica, portanto que há um ambiente saudável e equilibrado no local, com boa disponibilidade de presas e recursos que as sustentam”, destaca Henrique.
Como espécie topo de cadeia, a onça pode ser definida como espécie guarda-chuva, tendo todas as demais espécies abaixo de si. A falta dela, portanto, implica em um desequilíbrio de toda a cadeia alimentar. As onças-pintadas estão ameaçadas no Cerrado. Na última edição do Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção, a espécie é tida como Vulnerável (VU) na classificação geral, porém, Em Perigo (EN) na avaliação feita para o Cerrado.
Em 2019, outra espécie topo de cadeia, a maior águia do país, foi vista pela primeira vez no Parque Sesc Serra Azul. A harpia ou gavião-real é mais comum na Amazônia. O Pesquisador do Museu Nacional/UFRJ, professor Luiz Flamarion Oliveira destaca a relevância da presença do gavião-real na área. "A aparição da harpia é um evento muito importante. Isso mostra a qualidade da área. Acho que o mundo no Serra Azul está completo. Desde os voadores aos pintados terrestres", diz ele.
Em 2020, a aparição do cervo-do-pantanal surpreendeu. Mais de 80% da população de cervos do Brasil reside no Pantanal, restando uma pequena fração nos demais biomas. “É uma caça de fácil abate e, geralmente, em locais com presença humana, é rapidamente erradicada. Considerando isso e o fato de que o Parque já possui um longo histórico de ocupação, a presença de um cervo representa um grande sucesso na conservação. O funcionário mais antigo, que já trabalha na região há mais de 20 anos, disse nunca ter avistado essa espécie. Segundo especialistas, a fêmea é um bom sinal de que a espécie pode se reestabelecer por aqui”, conta com otimisto o engenheiro florestal.
Em 2021, outras duas espécies foram registradas ineditamente: a raposa-do-campo e a azulona. A raposa-do-campo é o único canídeo brasileiro que ocorre somente no Cerrado. Além disso, não há registros dessa espécie fora do Brasil. Sua população diminui com o avanço das atividades humanas. Há mortalidades por predação por cães domésticos e também pela matança, devido à crença de que essa raposa pode predar animais domésticos.
Encontrada em florestas preservadas, principalmente na Amazônica e na transição com o Cerrado, a ave conhecida como azulona é considerada um registro importante, também em 2021, por ser uma espécie dispersora de sementes e que necessita de áreas preservadas para viver.
“Certamente, o empenho para conservação e restauração de ecossistemas nativos tem gerado um ambiente propício para que tais espécies prosperem e passem a compor a rica biodiversidade encontrada no Parque Sesc Serra Azul”, finaliza o engenheiro florestal.