Como um pugilista grogue, depois de receber um golpe violento, o governo tenta se recuperar do forte impacto sofrido com o vazamento das primeiras informações vindas das delações da Odebrecht. Com o próprio presidente Michel Temer sendo citado dezenas de vezes na delação de Cláudio Melo Filho e ministros e aliados sendo acusados de também receberem pagamentos irregulares, restou ao governo a estratégia de produzir alguma espécie de reação para sobreviver.
O plano, elaborado de forma emergencial por Temer e assessores, tem um ponto central: acelerar a agenda econômica para demonstrar que o governo não parou, apesar das gravíssimas acusações que seus integrantes sofrem. Há um consenso no Planalto de que uma paralisia nas ações alimentaria a tese de que o governo Temer acabou e o presidente deveria renunciar. A pesquisa divulgada neste domingo, 11, pelo Datafolha, com a maioria dos entrevistados apoiando a saída do presidente, aumentou ainda mais essa preocupação. O governo sabe que dispõe de algum tempo para tentar apresentar pacotes para a economia, concluir a votação da PEC do Teto e deflagrar a votação da reforma da Previdência. Afinal, todas as delações da Odebrecht ainda precisam ser homologadas pelo STF, o que não ocorrerá antes de 2017.
Com a proximidade do recesso parlamentar e do Natal e Ano Novo, governistas acham que a poeira pode baixar um pouco com a interrupção das atividades do Congresso e Judiciário. Mas sabem que ainda há outras 76 delações sendo feitas, com poder explosivo desconhecido. Mas, neste momento, o governo precisa se concentrar em desviar as atenções das acusações de Melo Filho. Assim, antes do recesso, governo e aliados correrão com as votações e tentarão anular o valor legal de prova das informações de Melo Filho, alegando que o material vazou irregularmente. É o que resta ao governo, que tenta se agarrar às cordas para não ser nocauteado.
Fonte: Estadão