Gritar “Olha o picolé” já é uma estratégia ultrapassada para o vendedor ambulante Kleber Ribeiro, o Tetéu, de 25 anos. Com o apoio de um amigo, o jovem encontrou uma maneira mais criativa de chamar a atenção dos consumidores e, de quebra, alavancar as vendas neste verão. Há cerca de uma semana, o ato de empurrar o carrinho de picolés pela areia da praia deu lugar às remadas em cima de uma prancha de Stand Up Paddle (SUP).
Com o carrinho amarrado à prancha, ele vai até as embarcações ancoradas no final da Praia do Morro, em Guarapari, para vender o produto a quem curte o dia em alto mar. Como resultado, um aumento de 1000% nas vendas e o ganho do carinho e da admiração de quem aprova a ideia.
Tetéu já rouba a cena ao se preparar para entrar na água com a prancha e o carrinho de picolé. Quando ele começa a remar em direção às embarcações, o ar de tranquilidade e descontração dos banhistas dá lugar a expressões de incredulidade e admiração. Enquanto vários turistas apresentam uma verdadeira sequência de quedas nas pranchas alugadas, Tetéu dá um show de equilíbrio levando o carrinho cheio de picolés em cima do SUP.
Mas a habilidade e a ideia inusitada se explicam: Tetéu já havia trabalhado durante quatro anos como instrutor de vela em uma Escola de Velas localizada no final da praia. Este ano, ele chegou a procurar uma vaga para trabalhar no local, mas não conseguiu. Como alternativa, começou a vender picolés na praia da forma “convencional”.
Logo no primeiro dia de trabalho, o resultado foi desanimador. “Na areia é muito difícil vender, vendi de 15 a 20 picolés em um dia inteiro de trabalho. É muita concorrência, muito carrinho”, explicou Tetéu.
Vendo a situação do rapaz, o ex-colega de trabalho David Rodrigues, que é um dos sócios da Escola de Velas onde Tetéu trabalhou, foi quem ajudou o rapaz a alavancar as vendas. “Vi ele vendendo picolé e perguntei quantos ele já tinha vendido naquele dia. Ele disse que tinha vindo do Centro da cidade e só tinha vendido quatro picolés. Falei ‘quer vender tudo?’. Ele disse ‘só se acontecer um milagre’. Então busquei uma corda, pegamos o carrinho de picolé e colocamos em cima da prancha”, contou David.
E o resultado, segundo a dupla, foi imediato. “Coloquei ele em cima da prancha e ele foi embora. No primeiro dia de vendas ele vendeu 170 picolés”, orgulhou-se David. Além do lucro financeiro, a atitude do rapaz já o tornou praticamente uma celebridade na praia. “Fui para a água e o pessoal já começou a tirar foto, todo mundo achou diferente, ninguém nunca tinha visto. Fui em uma lancha, fui em outra, todo mundo comprando”, contou Tetéu.
De lá para cá, todos os dias a Escola de Velas empresta uma prancha para que o jovem faça as vendas “à domicílio”. Com uma corda, David e o outro sócio, Rodolfo Quirino, amarram o carrinho na prancha e colocam Tetéu para remar. Com a habilidade de quem já praticou a atividade por muito tempo, ele chega facilmente às embarcações ancoradas no mar. “Antes dele era impossível quem estava curtindo na lancha comprar picolé”, disse um jovem que se divertia em uma embarcação.
E mesmo garantindo tanta comodidade aos tripulantes, Tetéu garante que não aumenta o preço do picolé vendido na água. Tanto na areia como no mar, o preço pago pelos consumidores é de R$ 2.
Além de ter a ajuda do colegas, que emprestam a prancha sem cobrar nada, o vendedor também conta com o apoio das escunas e bananas. Algumas delas, que realizam passeios marítimos com várias pessoas, ancoram em determinado ponto da praia e até anunciam no megafone, para os tripulantes, a chegada de Tetéu.
Com o sucesso da ideia, os planos do rapaz são continuar com as vendas no mar. “Vou ficar esse verão aí, juntar um dinheirinho”. E se depender da criatividade, além do “dinheirinho” Tetéu vai juntas fãs e admiradores. “Estamos achando o máximo! A ideia é ótima. Está aprovado!”, apoiou uma compradora.
Fonte: G1