Estudantes e servidores da Universidade de Brasília (UnB) entraram em confronto com a Polícia Militar do Distrito Federal, nesta terça-feira (10), durante um ato em frente ao Ministério da Educação. Até as 15h, não havia informação sobre feridos.
Segundo a PM, três alunos foram detidos – um por desacato, um por dano ao prédio e outro por pichação. Como o edifício atingido é de propriedade da União, eles foram levados à Superintendência da Polícia Federal.
No início da tarde, manifestantes foram agredidos, policiais militares usaram spray de pimenta, uma vidraça do MEC foi estilhaçada e as seis faixas do Eixo Monumental, sentido rodoviária, foram fechadas pelos estudantes. Às 15h30, o trânsito havia sido liberado.
O ato começou pacífico, por volta das 9h, quando o grupo marchou do campus Darcy Ribeiro, no Plano Piloto, em direção à Esplanada. Professores, servidores e estudantes pedem o apoio do Ministério da Educação contra a crise financeira enfrentada pela universidade.
O confronto
Nas primeiras horas de manifestação, nenhum incidente foi registrado. No campus Darcy Ribeiro, alunos e funcionários da segurança terceirizada da UnB bloquearam o acesso aos principais prédios – como o Instituto Central de Ciências (ICC), os pavilhões e os blocos de salas de aula Sul e Norte.
Às 11h,40, já em frente ao MEC, houve o primeiro confronto. Conforme o grupo se aproximava da sede ministerial, policiais do Batalhão de Choque da PM usaram spray de pimenta contra os estudantes.
Pelo menos três estudantes foram agredidos com cassetetes. Já os policiais militares foram atingidos com pedradas jogadas pelos manifestantes. Por volta das 14h, um grupo fez uma espécie de "barricada" no meio da pista.
Com os rostos cobertos e gritando palavras de ordem, os manifestantes colocaram fogo em sacos de lixo e conseguem bloquear um dos lados do Eixo Monumental. O número de policiais militares foi reforçado.
O grupo se dispersou, com estudantes atravessando o Eixo Monumental correndo, mas se reagrupou minutos depois, gritando "sem violência". Na portaria do ministério, a PM voltou a utilizar spray de pimenta, dispersando novamente os manifestantes, e isolou a área.
Ao menos uma pedra foi atirada e trincou uma vidraça do ministério. Sinalizadores e pedaços de madeira também foram jogados.
Por volta das 15h15, os manifestantes caminharam em direção à sede do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), no Setor Bancário Sul. Segundo a Polícia Militar, cerca de 50 pessoas conseguiram invadir o órgão.
Pichação e quebra-quebra
Antes da confusão, os manifestantes no carro de som pediam para que os estudantes evitassem confrontos. Depois disso, o tom do discurso mudou, utilizando palavras de ordem. O G1 registrou o momento em que uma estudante com máscara pichava um dos vidros da fachada do ministério.
Por volta das 12h45, uma bandeira do Brasil foi queimada por estudantes. Eles aguardavam posicionamento do MEC para uma reunião. Caso não haja um acordo, os manifestantes ameaçavam ocupar o prédio do ministério.
A coordenadora de comunicação do DCE, Ludmila Brasil, disse ao G1 que "a PM teve uma reação agressiva para cima dos estudantes" e relatou que spray de pimenta foi atirado "diretamente no olho de um deles, que saiu daqui com o olho sangrando".
'Fatos isolados'
A Polícia Militar negou confronto por parte dos militares. "Ocorreram fatos isolados entre alguns manifestantes e um ou outro policial. Os manifestantes quebraram vidraças do MEC e vários indivíduos estavam com os rostos cobertos para não serem identificados, como pode ser observado nas fotos", afirmou, por meio de nota enviada ao G1.
A corporação argumentou que o spray de pimenta "é utilizado como vetor de menor potencial ofensivo e menos que letal para a manutenção da ordem e garantia da incolumidade física das pessoas" e disse que pode fazer "uso progressivo da força" quando "uma ordem verbal é desobedecida e já existe uma situação de confronto".
Manifestação conjunta
O ato foi organizado pelo Diretório Central Estudantil (DCE), pelo Sindicato dos Técnicos da Fundação Universidade de Brasília (Sintfub), a Federação de Sindicatos dos Trabalhadores em Universidades Brasileiras (Fasubra) e o Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes).
O grupo se concentrou no Museu Nacional e afirmou que só encerrará o ato após ser recebido pelo ministro da Educação, Rossieli Soares. A portaria do Ministério da Educação foi bloqueada pela Polícia Militar. Os organizadores estimam que a passeata reúna mais de 800 pessoas. A estimativa da PM é de 500 manifestantes.
O estudante de comunicação Matheus Carvalho afirmou que o objetivo da manifestação é aumentar a quantidade de verbas repassadas à UnB. "A gente espera a recomposição orçamentária a curto prazo. E, a longo prazo, a revogação da emenda constitucional", disse, em referência à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que instituiu o teto de gastos, promulgada em 2016.
Apoio da reitoria
A manifestação recebeu apoio institucional da universidade. O Conselho Universitário, órgão formado pela reitoria e por decanos da UnB, emitiu uma nota na última sexta-feira (6) afirmando ser “solidário ao DCE e aos estudantes que aderirem ao movimento de paralisação”.
A reitoria da UnB trabalha com a previsão de um déficit orçamentário de R$ 92 milhões para 2018, o que levou a universidade a anunciar medidas de austeridade, tais como a demissão de estagiários e a discussão sobre o aumento do preço do Restaurante Universitário (RU).
A instituição prevê arrecadação de R$ 168 milhões, mas, deste valor, só pode usar R$ 110 milhões. Na prática, isso significa que a UnB coloca no caixa do governo federal R$ 58 milhões que não poderão ser utilizados. O valor serve para diminuir o déficit das contas públicas.
Por que a UnB não pode gastar todo o dinheiro que arrecada?
Segundo a reitora Márcia Abrahão, a administração está fazendo "o possível" para manter a universidade em funcionamento com o corte de investimentos do Ministério da Educação e orçamento aprovado pelo Congresso Nacional.
Já a decana de Planejamento e Orçamento, Denise Imbroisi, disse que a PEC de teto de gastos "precisa ser revista se o nosso projeto de sociedade tiver a educação como um elemento importante".
A universidade tenta sensibilizar parlamentares, depois de ter ouvido uma resposta negativa do Executivo. "O MEC (Ministério da Educação) disse que não tem o que fazer. Que o orçamento é um número fechado, que teria de tirar de uma outra unidade se transferisse para a UnB", afirmou Imbroisi.