Cartaz avisa os pais sobre a suspensão de aulas na escola (Foto: Glauco Araújo/G1)
O menino Caio, de 8 anos, único ainda internado na UTI do Hospital Brasil, em Santo André, no ABC, acordou da sedação nesta terça-feira (25) e brincou que está famoso. "Ele disse que não lembra de nada e que está famoso porque muita gente viu a foto dele na TV", disse a tia Gabriela Vieira Maria. Ele foi um dos mais de 50 alunos do Colégio Jatobá internados desde a semana passada com sintomas como diarreia, vômito e febre.
Laudo do laboratório Adolfo Lutz atestou que a água fornecida para o colégio estava com a potabilidade de acordo com as normas vigentes. A suspeita agora recai sobre os alimentos servidos aos estudantes.
Caio fez laparotomia recuperadora para investigação de possível perfuração intestinal provocada pela bactéria Shigella sonnei. Ele chegou a respirar com ajuda de aparelhos. A tia, que também é a madrinha do menino, disse que o sobrinho deve permanecer mais dois dias na UTI. "Ele está muito melhor, está brincando, conversou comigo e com minha mãe. Ele é muito engraçado", disse Gabriela.
Ela afirmou ao G1 que a família ainda não sabe o que fazer após a divulgação dos laudos sobre o que pode ter causado a internação de tantos alunos do Colégio Jatobá. "Minha irmã [mãe de Caio] e meu cunhado ainda não decidiram se ele vai continuar na escola ou não. Mas acreditam que devam deixá-lo na mesma escola e que o que aconteceu foi uma fatalidade."
Segundo a Secretaria de Saúde do município, 50 crianças seguem internadas na rede hospitalar do Grande ABC e de São Paulo. Duas estão em em UTIs. Desde segunda-feira (24), houve quatro altas e três novos casos registrados em um hospital de São Bernardo.
Bactéria
A Prefeitura de Santo André divulgou nesta segunda-feira (24) que eram 51 os alunos internados após passarem mal. “A contaminação pela água está descartada, em perfeitas condições de potabilidade, o mais provável é que seja contaminação por alimento servido na escola, mas os laudos definitivos ficarão prontos na próxima sexta-feira (28)", disse durante entrevista coletiva. A análise da água foi feita pelo Instituto Adolfo Lutz.
Nas fezes de quatro crianças, foi detectada a bactéria Shigella sonnei, segundo a Prefeitura. “[Ela é] comum em doenças diarreicas. Fizemos um questionário nas 400 crianças, que tem como finalidade fazer um rastreamento do que ocorreu", afirmou o secretário. Ainda não é possível determinar, no entanto, se foi esta bactéria que causou o problema em todas as crianças.
Nepomuceno disse que aguarda a contraprova dos testes das amostras dos lanches, almoço e jantar servidos na escola nos dias 17, 18 e 19 de agosto. "Todo mundo que faz parte do fornecimento, manipulação e distribuição está em análise. Bastante provável que a gente deve proceder algumas mudanças de procedimento na escola", afirmou.
Contaminação
Alguns alunos da escola participaram de uma festa infantil em um bufê. Mas, segundo o secretário, isso não entrou no rol de investigação, “pois algumas crianças deixaram de ir ao evento porque já estavam mal”. “Uma fonte de contaminação que seja fora do ambiente da escola é praticamente descartada", disse Nepomuceno.
As primeiras crianças que se contaminaram foram as que ficavam em período integral, com idades entre 4 a 9 anos. Depois, segundo a Prefeitura, evoluiu para crianças de 1 a 12 anos. O secretário disse que o período da encubação é de uma semana, "e por isso é prematuro abrir a escola antes deste prazo”. “Só na próxima semana que a escola abre", garantiu.
A direção do Colégio Jatobá, onde as vítimas estão matriculadas, divulgou uma nota de esclarecimento na sexta-feira (21) falando de “virose, infecção intestinal e bactéria muito agressiva” dos alunos. O comunicado também diz que o “colégio encontra-se com todas as documentações administrativas na mais completa regularidade e à disposição dos senhores [pais] para eventuais consultas”.