Cidades

Altos e baixos na produção do etanol marcam os 40 anos

Foto: Ahmad Jarrah / CMT

Passados 40 anos da implantação do Programa Nacional do Álcool (Proálcool), em novembro de 1975, quando o governo brasileiro intensificou a produção do etanol para substituir os combustíveis derivados do petróleo, listamos os avanços e os principais desafios do segmento no Estado.

Ao longo dos últimos dez anos, a produção da cana-de-açúcar e do biocombustível se consolidou, com crescimento bastante expressivo. Em 1995, foram moídos 6,7 milhões de toneladas de cana em Mato Grosso, com a produção de 376 milhões de litros de etanol e284 mil toneladas de açúcar.

Dados do Sindicato da Indústria Sucroalcooleira do Estado de Mato Grosso (Sindalcool-MT) referentes à última safra (2014), mostram que o volume de cana moída chegou a 17 milhões de toneladas, com a produção de um bilhão de litros de biocombustível e 405 mil toneladas de açúcar.

Tecnologia

Resultado que não poderia ser alcançado sem fortes investimentos, principalmente no que tange à tecnologia. “Nós temos feito a lição de casa, investindo em tecnologia, criando novas soluções e produzindo novas variedades de cana. Somente neste mês, vão ser lançadas 16 novas variedades, que são mais adaptáveis a determinados tipos de solo, mais resistentes à secas ou às pragas, que resultam em maior produtividade, atendendo finalidades específicas das demandas de cada região”, sintetiza o diretor executivo do Sindalcool, Jorge dos Santos.

Atualmente dez usinas estão em atividade no Estado, sendo oito dos primeiros anos após a implantação do Proálcool, uma que começou a operar no ano de 2012 em Alto Taquari e outra que começou a operar este ano em Sorriso. Duas unidades foram desativadas recentemente.

Otimização de recursos

Hoje, nas lavouras de cana, o gasto de água caiu para aproximadamente um sexto do que era necessário há dez anos. A vinhaça (resíduo que sobra da trituração da cana), que antes era descartada, passou a ser distribuída em canais e reaproveitada na irrigação da própria lavoura, já que é rica em nutrientes.

Emprego

A força de trabalho criada pelo setor é de grande relevância para o Estado: são 16 mil empregos diretos e 60 mil indiretos. Os avanços sociais também aconteceram.  Cerca de 80% da colheita é mecanizada, possibilitando considerável diminuição das nocivas queimadas e gradativamente eliminando a figura do boia-fria cortador, que hoje atua apenas em pequenas áreas, onde não é possível utilizar maquinários.

Além da parte social, projetos de responsabilidade ambiental também têm ganhado força no setor. “Hoje os trabalhadores têm condições melhores, alimentação, assistência médica e alojamento, diferente do que acontecia há alguns anos. Além disso, grande parte das empresas tem seus programas ambientais, como produção de mudas, conservação de áreas de proteção permanente e recuperação de nascentes”, exemplifica Santos. 

Diversidade

Além do etanol, as usinas sucroalcooleiras também produzem açúcar de consumo doméstico, açúcar especial para indústria de bebidas, levedura, que serve como composto ou ingrediente para ração animal e energia elétrica, gerada pelo vapor das caldeiras de alta pressão que são alimentadas pelo bagaço da cana.

Diversidade que foi implementada ao longo dos anos em uma usina no município de Barra do Bugres. “Começamos a produzir açúcar em 1994 e também naquele ano nos tornamos pioneiros na venda de energia em Mato Grosso. Algum tempo depois passamos a produzir levedura para ração animal. Todos esses produtos são fontes de renda importantes para a empresa”, afirma o diretor executivo Dante Petroni Neto. 

Adequações necessárias para sobreviver no mercado. Assim como os demais empreendimentos do segmento, foram muitas as dificuldades enfrentadas pela empresa, desde que iniciou suas atividades, em 1980. “O setor sempre passou por muitas fases difíceis, sendo a pior delas entre 97 e 99. Ficamos endividados, nos reestabelecemos e hoje estamos tentando manter a estrutura rodando. A gente vê que a situação não é fácil pra ninguém. Além das usinas que fecharam no País, mais de 40 estão em recuperação de crédito. As dificuldades são pra todos”, avalia Neto.

Altos e baixos

Apesar do balanço positivo apresentado, em especial no Estado, historicamente o segmento passou e passa por muitas crises, que ainda representam grandes desafios para os empreendedores. Nos últimos anos foram fechadas mais de 80 usinas em todo o País e muitas das que continuam operando estão endividadas.

Estimativas das entidades ligadas ao setor indicam que a dívida atual das grandes usinas do País chega a R$ 80 bilhões (principalmente de financiamentos bancários). O montante é superior ao faturamento global das usinas em uma única safra, estimado em R$ 65 bilhões. Apesar disso, as usinas ganharam fôlego com as vendas recordes de etanol, graças ao aumento da Cide na gasolina e à redução de impostos estaduais.

Sobre o Proálcool

Na primeira década do Proálcool os resultados foram positivos, visto que os consumidores priorizavam os automóveis movidos pelo biocombustível. Em 1983, as vendas desses veículos dominaram o mercado brasileiro. Em 1991, aproximadamente 60% dos carros do País (mais de seis milhões) eram movidos por essa fonte energética.

Porém, apesar de substituir parcialmente o petróleo, o Programa Nacional do Álcool promoveu uma série de problemas: elevação da dívida pública em consequência dos benefícios concedidos; aumento dos latifúndios monocultores de cana-de-açúcar; elevação dos preços de alguns gêneros alimentícios (pois ocorreu a redução do cultivo de alimentos em substituição à cana-de-açúcar), entre outros.

Durante a década de 1990, a redução do preço do barril de petróleo foi outro agravante. Esse fato fez com que a diferença entre a gasolina e o álcool diminuísse. Os usineiros passaram a destinar a produção de açúcar para o mercado internacional, pois o mercado interno tornou-se menos lucrativo. Todos esses aspectos contribuíram para que os consumidores e fabricantes de veículos voltassem a priorizar automóveis movidos à gasolina.

Motores flex

A venda de veículos movidos a álcool caiu drasticamente, até que em 2003 chegaram ao mercado os carros com tecnologia flex. Naquele ano foram vendidos pouco mais de 48 mil veículos bicombustíveis. Em 2006, foram vendidas mais de 1,43 milhão de unidades. Em 2013, o número de carros flex vendidos passou de 3,1 milhões.

Veja a reportagem na íntegra na edição 564 do jornal Cicuito Mato Grosso 

Thales de Paiva

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