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Alta na indústria no Brasil em 2024 foi a mais acentuada desde 2021, revela IBGE

O setor industrial mostrou perda de ritmo na reta final do ano, mas o saldo final de 2024 foi robusto, com crescimento considerável em relação a 2023, avaliou André Macedo, gerente da Pesquisa Industrial Mensal, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A produção industrial teve uma redução de 0,3% em dezembro ante novembro, terceiro mês seguido de quedas, levando a uma perda de 1,2% acumulada no período. No fechamento de 2024, porém, a produção cresceu 3,1%.

O desempenho anual foi o melhor desde 2021, quando houve um avanço de 3,9%, em recuperação ao choque da pandemia de covid-19, que derrubou a indústria em 4,5% em 2020.

“Isso contrasta com essa leitura do final do ano de 2024, com essa perda de intensidade”, disse Macedo. “O ponto mais elevado da produção no ano de 2024 foi alcançado no mês de junho”, completou.

Segundo Macedo, o crescimento do setor industrial em 2024 foi impulsionado pelo aquecimento do mercado de trabalho, com redução no desemprego, maior número de pessoas trabalhando e aumento na massa de salários em circulação na economia. O cenário favorável levou a um aumento no consumo das famílias, beneficiado por medidas de estímulos fiscais, alta na renda e maior concessão de crédito.

O crescimento na produção industrial em 2024 foi disseminado, com expansão nas quatro grandes categorias econômicas e em 20 dos 25 ramos industriais pesquisados. As principais influências positivas para a média total da indústria partiram de veículos automotores (12,5%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (14,7%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (12,2%), produtos alimentícios (1,5%) e produtos químicos (3,3%).

Entre as categorias de uso, os destaques foram os avanços em bens de consumo duráveis (10,6%) e bens de capital (9,1%), embora também tenham crescido os bens intermediários (2,5%) e os bens de consumo semiduráveis e não duráveis (2,4%).

Macedo explica que os bens de capital e os bens duráveis se beneficiaram da conjuntura econômica positiva ao longo de 2024, uma vez que a reversão desse cenário favorável ocorreu apenas nos últimos meses do ano.

Além disso, ele ressalta que os bens de capital vinham ainda de uma base de comparação baixa, após terem recuado 11,7% em 2023. “A base de comparação é um fator importante. É um crescimento que se dá sobre essa base de comparação muito depreciada”, ponderou.

Recuo pelo 3º mês com perda de 1,2% entre outubro e dezembro

Segundo o IBGE, a produção industrial brasileira recuou em dezembro pelo terceiro mês consecutivo, acumulando uma perda de 1,2% entre outubro e dezembro de 2024. Conforme o instituto, uma sequência de três quedas consecutivas não ocorria desde o período de fevereiro a abril de 2021.

As perdas de outubro (-0,2%), novembro (-0,7%) e dezembro de 2024 (-0,3%) eliminaram assim o ganho de 1,0% visto nos meses de agosto e setembro.

“Claramente, os três últimos meses de 2024 têm comportamento de menor intensidade”, disse André Macedo.

Segundo ele, a perda de dinamismo da indústria na reta final de 2024 tem relação com a redução nos níveis de confiança das famílias e dos empresários, sob impacto do atual ciclo de aperto na política monetária, que tem elevado a taxa básica de juros.

Há influência negativa também da desvalorização do real ante o dólar e da aceleração da inflação, especialmente a de alimentos, enumerou Macedo. “Esse contexto ajuda a entender essa perda de intensidade que o setor industrial mostra nos últimos meses de 2024”, afirmou.

O pesquisador pondera que o efeito da política monetária mais restritiva “não se dá de modo direto” e imediato sobre a cadeia produtiva, mas ocorreu, sim, afetando os níveis de confiança, além de influenciar as decisões de investimentos, de produção e de consumo.

15,6% abaixo do nível recorde

Em dezembro de 2024, a indústria brasileira operava 15,6% aquém do pico alcançado em maio de 2011, conforme o IBGE.

Na categoria de bens de capital, a produção está 28,2% abaixo do pico registrado em abril de 2013, enquanto os bens de consumo duráveis operam 32,1% abaixo do ápice de março de 2011.

Os bens intermediários estão 12,3% aquém do auge de julho de 2008, e os bens semiduráveis e não duráveis operam em nível 15,5% inferior ao pico de junho de 2013.

1,3% acima do patamar de fevereiro de 2020, no pré-pandemia

De acordo com o IBGE, a indústria brasileira chegou a dezembro de 2024 operando 1,3% acima do patamar de fevereiro de 2020: 12 das 25 atividades investigadas estão operando em nível superior ao pré-crise sanitária.

Em dezembro de 2024, os níveis mais elevados em relação ao patamar de fevereiro de 2020 foram os registrados pelas atividades de outros equipamentos de transporte (22,8%), máquinas e equipamentos (9,6%), derivados do petróleo (7,0%) e impressão e reprodução de gravações (6,8%).

No extremo oposto, os segmentos mais distantes do patamar pré-pandemia são móveis (-24,9%), produtos diversos (-20,8%), couro e calçados (-18,3%) e vestuário e acessórios (-18,0%).

Entre as categorias de uso, a produção de bens de capital está 9,8% acima do nível de fevereiro de 2020.

A fabricação de bens intermediários está 6,3% acima do pré-covid. Os bens duráveis estão 9,3% abaixo do pré-pandemia, e os bens semiduráveis e não duráveis estão 7,1% aquém do patamar de fevereiro de 2020.

Estadão Conteudo

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