Internacional

Alta de crimes no verão detona medo de onda de violência

Pelo menos 35 grandes cidades dos EUA registraram altas nas taxas de homicídio nos últimos meses, e parte da imprensa já fala em uma onda de violência.

Embora muitos especialistas considerem essa definição precipitada e alarmista, o tema vem gerando preocupação.

Em cidades como Baltimore e St. Louis, o número de homicídios até o início de agosto já ultrapassa em mais de 50% o registrado no mesmo período do ano passado.

Baltimore registrou seu 200° homicídio nesta segunda-feira. Em 2014, essa marca só foi alcançada em dezembro.

Washington e Chicago registram até o momento alta de mais de 20% no número de homicídios em relação ao mesmo período do ano passado. Em Nova York, o aumento é de 10%.

Em Los Angeles, apesar de queda de 6,7% na taxa de homicídios em relação ao mesmo período de 2014, houve aumento de 20% em outros crimes violentos.

Alarmados com estas estatísticas, mais de 60 chefes de polícia de todo o país se reuniram em Washington na semana passada para tentar entender os motivos do fenômeno e discutir como enfrentar o problema.

"Há décadas não víamos o que estamos vendo neste momento", disse a chefe de polícia da capital americana, Cathy Lanier, após o encontro.

Causas
Policiais e especialistas não sabem explicar o que está por trás da alta nas taxas de criminalidade em tantas cidades e citam diversos fatores que podem ter contribuído para o aumento da violência.

Aumento do tráfico de heroína, do uso de drogas sintéticas e dos casos de violência doméstica foram alguns dos fatores mencionados durante a reunião de chefes de polícia na capital americana.

Os policiais também chamaram a atenção para o grande número de armas e munição nas ruas.

O chefe de polícia de Los Angeles, Charlie Beck, aponta para a atividade de gangues rivais e também para o aumento no número de moradores de rua na cidade.

Alguns policiais mencionam o chamado "efeito Ferguson", em referência à cidade onde há um ano um jovem negro desarmado foi morto por um policial branco, em um episódio que gerou comoção e protestos em todo o país.

Diversos outros homens negros desarmados foram mortos por policiais recentemente – segundo levantamento do jornal The Wahington Post, já foram 24 neste ano –, o que acirrou as críticas à polícia.

Nestas circunstâncias, alguns policiais estariam mais receosos em responder a incidentes.

Olhar crítico
"A falta de explicações concretas para as altas ressalta como é importante abordar esse cenário com um olhar crítico", disse à BBC Brasil o especialista em criminologia Samuel Bieler, do centro de pesquisas Urban Institute, com sede em Washington.

"Precisamos ter cuidado para não confundir uma anomalia estatística com uma tendência. Talvez mais adiante, no fim do ano, tenhamos dados que apontem para uma tendência. Mas agora é simplesmente especulação. É muito cedo para chamar o que estamos vendo de onda de violência", afirma.
Bieler lembra que a segurança pública vem melhorando de forma contínua nos últimos 15 ou 20 anos em várias dessas cidades.

"Nunca houve época mais segura para se viver nos Estados Unidos. Não acho que se possa reverter uma tendência de 20 anos com base em dados de oito meses (de janeiro a agosto deste ano)", afirma.

Bieler observa que, quanto mais seguras as cidades, maior a probabilidade de pequenas altas no número de crimes serem interpretadas como grandes aumentos.

Ele cita o exemplo de Washington, que até esta terça-feira registrava 91 homicídios, alta de 28% em relação aos 71 do mesmo período do ano passado.
"Quando se fala em alta de 28% no número de homicídios, parece incrivelmente devastador, até você perceber que estamos falando de 20 mortes", observa.

"E apesar de cada morte ser uma tragédia, quando se olha em uma escala macro, percebe-se que não há um enorme aumento absoluto de crimes violentos."

Verão
Bieler chama a atenção ainda para o fato de que os meses de verão costumam registrar alta nos índices de violência. "Há mais gente na rua, mais oportunidade para conflito", diz.

Um dos maiores especialistas em criminologia dos EUA, Alfred Blumstein, professor da Universidade Carnegie Mellon, em Pittsburgh, salienta que a situação agora é bem diferente da observada no fim dos anos 1980 e início dos anos 1990.

Na época, o país enfrentou uma grande alta nas taxas de homicídio, alimentada pelo tráfico de crack, o que era um fenômeno de alcance nacional.
"Mas agora não vejo um fenômeno nacional significativo em andamento, nada que me faça prever um grande aumento de violência", disse Blumstein à BBC Brasil.

De 1993 a 2000 houve queda de cerca de 45% nas taxas de homicídio e roubos nos Estados Unidos. De 2000 a 2008, a taxa permaneceu estável, e partir de 2008 voltou a cair, ainda que menos acentuadamente.

Segundo Blumstein, o fato de as taxas já registrarem níveis tão baixos dificulta novas quedas.

"É difícil saber se esse movimento que vemos em algumas cidades representa uma nova direção", afirma.

"Mas, no agregado, estamos com uma taxa de homicídios impressionantemente baixa, como não vista há 40 anos ou mais. Então, pode ser que não vá mais cair dramaticamente, porque já caiu tanto."

Fonte: BBC BRASIL

Redação

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