Apesar de causar impacto negativo ao consumidor final, a expressiva alta do dólar acaba por beneficiar alguns setores específicos. Divergência que ficou ainda mais acentuada no mês de setembro, quando a cotação da moeda passou de R$ 4, atingindo recorde histórico no País.
Se por um lado a alta da moeda norte-americana pressiona a inflação, reduzindo o poder de compra do consumidor brasileiro, por outro lado, quem exporta comemora. A indústria que gasta em reais para produzir e vende em dólares é a que mais se beneficia com o avanço da moeda.
Os segmentos de produção de papel celulose, carne e soja estão entre os mais beneficiados. A valorização do dólar tem beneficiado a exportação de carne bovina oriunda de Mato Grosso. O câmbio tem ajudado a manter a arrecadação em altos patamares e aumentando os destinos da carne mato-grossense.
No entanto, em muitos casos a produção depende de insumos que são atrelados ao preço do dólar. “Nos casos das commodities, fica mais barato pra quem é de fora comprar. Ou seja, há um estímulo para a compra dessa produção. Mas, muitos desses insumos são importados, então, se os custos aumentam demais, no final acaba ficando empatado para o produtor. Já para o setor madeireiro, por exemplo, os preços ficam mais atraentes para os compradores externos, porque os produtos de origem de reflorestamento têm outra dinâmica, sem insumos atrelados ao preço de dólar”, analisa o economista e consultor econômico Renato Gorski.
O cenário é positivo para as empresas que produzem e vendem no País. Ou seja, a indústria nacional ganha fôlego e competitividade frente aos produtos estrangeiros, que ficam mais caros. “Isso realmente faz com que aumente a preferência pelos produtos nacionais, porque a diferença de preços fica muito acentuada. No caso de produtos específicos, que não têm substitutos imediatos, o consumidor acaba sendo taxado. Mas, no geral, o consumo tende a migrar pra essas mercadorias nacionais”, avalia Renato Gorski.
Turismo
O turismo nacional é outro setor impulsionado pela alta da moeda. Com o preço do dólar, ficou praticamente inviável viajar para o exterior. Consequentemente, diversos destinos pelo Brasil afora passam a ser bem mais procurados. Com isso, o comércio de cada localidade é beneficiado com a movimentação em restaurantes, hotéis, agências de turismo e o comércio de forma geral. A vinda de turistas estrangeiros, atraídos pelo real mais baixo, também ajuda o turismo interno.
Em uma agência de turismo de Cuiabá, foi possível perceber nitidamente o aumento da procura pelos destinos regionais. “Com certeza o turismo interno foi beneficiado. Nessas últimas semanas, aumentou muito a procura por passeios no Pantanal, Chapada dos Guimarães e Nobres. Por outro lado, a gente percebe uma forte queda no turismo internacional. Imagina uma passagem que custava mil reais, de repente ir pra quatro mil, isso sem falar no IOF, porque quem usa o cartão paga o dólar mais o imposto”, sintetiza o agente de turismo Alexandre Pacheco.
Apesar de algumas áreas específicas serem beneficiadas pela alta do dólar, no geral essa recessão econômica pela qual passa o País é negativa. O aumento dos custos invariavelmente recai no consumidor, que sofre com a inflação e perde poder de compra. Muitas matérias-primas são importadas, como o trigo, gás e a gasolina. Ou seja, o preço de produtos essenciais acaba sendo puxado pela alta.
Além disso, diversos itens produzidos aqui no Brasil também têm o valor influenciado pela volatilidade da moeda americana. É o que acontece com a soja, a carne, o café, o açúcar, entre outros produtos. Mesmo que eles sejam produzidos no País, quando o dólar está mais caro fica mais vantajoso para o produtor exportar. Então, se o produto é vendido aqui, o preço também sobe.
Empresas importadoras também são muito afetadas pela alta. Indústria química, farmacêutica, revenda de carros importados, de perfumes, eletrônicos, bebidas e outros produtos se depararam com drástica queda nas vendas, desde que o dólar começou a disparar. De acordo com informações da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave-MT), o impacto deve ser ainda maior para o segmento até o final do ano.
“Não estamos sentido tanto porque ainda estão sendo vendidos veículos do estoque, comprados antes da alta. Quem pretende comprar, tem que aproveitar esse momento. Com a chegada de novas unidades, o impacto vai ser mais forte e teremos outro ritmo nas vendas por conta do preço do dólar. Isso vai afetar bastante o segmento de distribuição de automóveis, especialmente para as concessionárias que trabalham com o maior volume de veículos importados.”, afirma Manoel Guedes, presidente da Fenabrave MT.