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Alegando problemas psicológicos, policiais procuram Hospital

O Hospital da Polícia Militar (HPM), em Vitória, recebeu e prestou atendimento a dezenas de policiais depois que os batalhões começaram a ser esvaziados, entre sábado (11) e segunda-feira (13), segundo informações de parentes dos policiais e de associações que representam a categoria.

Para os famíliares, eles estão enfrentando problemas psicológicos por conta da pressão sofrida pelo comando durante os protestos, que chegam ao 12º dia, nesta quarta-feira (15).

No domingo (12), a Secretaria de Segurança Pública (Sesp) confirmou que alguns policiais saíram do quartel e foram direto para o HPM.

O governo não divulgou quantos estão internados, nem qual é o quadro clínico deles, mas disse que todos passaram pela avaliação de uma junta médica, que tem dado o suporte necessário para o retorno dos PMs ao serviço operacional.

Na noite de sábado (11), helicópteros foram usados para retirar policiais de dentro do Quartel do Comando Geral da Polícia Militar. No domingo (12), a mesma operação foi feita com os militares do Batalhão de Missões Especiais. Segundo familiares e associações, foi depois disso que os policiais começaram a dar entrada no hospital.

Um policial militar, que não quis se identificar na reportagem, entrou no HPM na noite de domingo (12) e na manhã desta segunda-feira (13). Ele contou ao G1 que foi até o local depois de saber que um policial, amigo dele, estava internado na unidade porque havia “surtado”.

Com o celular, ele conseguiu filmar os corredores do hospital lotados. Em um trecho do vídeo, é possível ver uma mulher com uma camisa de identificação da PM, sentada no corredor e chorando.

“Corredores extremamente lotados, colegas completamente abatidos. Olho fundo, alguns com tremedeira, tomando soro, provavelmente porque fizeram escala de serviço seguida. Alguns estiveram na rua e passaram mal com o excesso de carga horária, além do stress. Todos alegam que não estão em condições psicológicas de portar arma em serviço, porque sofreram muita pressão”, disse o policial.

Outro vídeo mostra uma policial militar sendo carregada no colo e, em seguida, colocada em uma maca. Uma outra gravação mostra alguns policiais fardados sentados, com as mãos na cabeça, dentro do Quartel do Comando Geral da PM.

Ameaça e pressão psicológica
Selma Souza, que é policial civil aposentada e mãe de um policial militar, contou que o filho está enfrentando pressão psicológica neste momento de protestos.

"Meu filho está em estado de pressão psicológica e isso acontece sempre. Os policiais vão para as ruas todos os dias numa situação de risco muito grande, a gente sabe que tem a questão da adrenalina, porém ainda é difícil. Meu filho é forte, mas eu sei que ele está sofrendo. Eu vi meu filho chorar", disse, emocionada.

Selma participa das manifestações no quartel de Maruípe. Ela reclama que os PMs que foram resgatados nos batalhões estão passando por problemas, mas que ninguém dos Direitos Humanos quis ouvi-los.

"Esses policiais que foram resgatados dos quartéis estão indo pra rua sem carro. Muitos deles foram para o HPM, tomaram medicação, estão com atestado médico, mas foram obrigados a retomar o trabalho”, afirmou Selma.

“A população quer dormir em paz, mas é hipócrita, porque é às custas do perigo que o PM corre”, completou.

Associação
A Associação de Oficiais (Assomes), afirmou que os PMs estão abalados psicologicamente por causa da pressão que eles sofreram nos últimos dias dentro do quartel.

Conselho Estadual de Direitos Humanos
A presidente do Conselho Estadual de Direitos Humanos, Morgana Boostel, disse que várias queixas chegaram ao órgão. A maioria delas relacionada à falta de condições físicas e emocionais para ir trabalhar e desgaste psicoemocional dos policiais militares.

“Hoje [terça-feira] a gente fez uma rápida visita lá no hospital, mas não conseguimos ter acesso a nenhum profissional que atendeu de fato os policiais. A gente solicitou algumas informações para apurar todas essas questões, e elas ainda estão sendo elaboradas para serem passadas para a gente. Eles afirmaram que teve um aumento significativo na quantidade de atendimento no fim de semana. O maior pico foi no sábado e domingo”, informou.

Secretário de Direitos Humanos
Questionado por telefone, o secretário de Direitos Humanos, Júlio Pompeu, disse que “o que eles [policiais militares] chamam de pressão, é o que um trabalhador chama de bater ponto”. Ele disse que o que o Governo tem feito é um pedido, em nome da honra, para que os policiais voltem ao trabalho.

Comissão de Direitos Humanos da OAB
O G1 entrou em contato com a Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil no Espírito Santo (OAB-ES), que disse que as diversas situações ocorridas durante a paralisação dos policiais estão sendo acompanhadas.

Secretaria de Segurança
O G1 tenta, desde domingo (12), apurar com a Secretaria de Segurança Pública (Sesp) a quantidade de policiais que deram entrada no Hospital da Polícia Militar, mas até a publicação desta reportagem o número não havia sido divulgado.

Além disso, por e-mail, o G1 questionou a Secretaria sobre a denúncia de que médicos teriam sido proibidos de dar atestado médico aos PMs atendidos e, também, de que os policiais teriam sofrido pressão e ameaça para deixarem os batalhões de helicóptero.

A assessoria de imprensa respondeu apenas  “Confira a entrevista do secretário André Garcia transmitida pelo Facebook do Governo.”.

Entretanto, na referida entrevista coletiva, os dados relacionados ao HPM e às denúncias de pressão e ameaça aos policiais não foram mencionadas ou respondidas pelo secretário.

Psiquiatra fala sobre stress
O psiquiatra Valdir Campos explicou que situações adversas, como a que o Espírito Santo está vivendo, podem causar diferentes reações. Uma delas é o stress patológico.

“Toda situação que gera medo, apreensão, insegurança, incerteza, é geradora de muito stress. Esse stress está generalizado na nossa comunidade agora. Os policiais podem estar sentindo isso nesse momento. No caso deles, principalmente pelo fato de ir contra àqueles princípios assumidos durante o engajamento em uma profissão. O stress advém dessa necessidade de retomar o equilíbrio em função da transgressão desses princípios”, disse.

De acordo com o psiquiatra, os principais sintomas desse problema são aceleração cardíaca, pressão arterial, dor de cabeça, insônia, perda de apetite, cansaço e irritabilidade.

Mulheres dizem que não vão desistir
Mesmo com a volta parcial do policiamento no Espírito Santoe o reforço das forças federais – Exército e Força Nacional – as mulheres que protagonizam os protestos garantem que não vão deixar as portas dos batalhões. Segundo elas, a volta do funcionamento de ônibus, comércios e escolas não representa o retorno à normalidade.

"Estão falando em sensação de segurança. Mas a população não quer só essa 'sensação'. A cidade tem que estar segura de novo, com os policiais. O movimento continua e nosso fôlego é inesgotável", disse Selma de Souza.

Uma outra manifestante, que preferiu não se identificar, disse que, depois de todos esses dias, não é agora que o movimento vai perder força e acabar. "Agora é tudo ou nada!", disse.

Manifestação
O Espírito Santo ficou sem polícia militar nas ruas por 7 dias por causa do protesto de familiares, na porta de batalhões, que impedia a saída dos PMs. O policial militar não pode fazer greve porque é proibido pela constituição. Nas ocupações, as mulheres sempre alegam que são elas que estão no comando da paralisação. Mas, para as  autoridades, essa é uma tentativa de encobrir o que, na verdade, seria um motim dos PMs.

A Justiça determinou a intimação de 10 mulheres, identificadas como manifestantes, para que deixem as portas de batalhões no Espírito Santo, sob pena de pagamento de R$ 10 mil em caso de descumprimento, por dia. O mandado foi expedido pelo juiz Mário da Silva Nunes Neto, da 3ª Vara da Fazenda Pública, nesta terça-feira (14).

Fonte: G1

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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