A inauguração dos últimos quatro andares do Hospital da Criança, anexo ao Hospital das Clínicas da USP em Ribeirão Preto (SP), foi marcado por tumulto e desencontros, devido a uma manifestação de servidores da saúde e da educação na recepção do complexo hospitalar.
Para evitar o protesto, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), mudou o itinerário e, ao contrário da costumeira programação, visitou primeiro o prédio que estava sendo inaugurado, para só então discursar e descerrar a placa comemorativa.
Embora tenha negado a saia justa com os servidores, que carregavam cartazes e faziam um apitaço para reivindicar reajuste salarial e melhores condições de trabalho, Alckmin chegou a ser perseguido pelos manifestantes nos corredores do hospital.
“Já estou acostumado. Desde a época do Mário Covas isso sempre acontece. E quero dar uma boa notícia, até falei para eles: nós vamos antecipar o pagamento do 13º [salário]. Vai ser pago dia 15 agora e estamos estudando, sim, um reajuste de salário e do vale refeição”, disse.
Presidência do PSDB
Em coletiva, Alckmin foi questionado sobre a disputa à presidência do PSDB e negou qualquer pressão do Planalto na decisão, afirmando que aceitou concorrer depois que o senador Tasso Jereissati e governador de Goiás, Marconi Perillo, abriram mão das pré-candidaturas.
“O presidente é de outro partido. Aliás, não me passou nunca pela cabeça ser presidente do partido. O presidente Fernando Henrique falou: olha, era melhor se a gente conseguisse uma unidade partidária, evitar disputa, acaba deixando sequela. Os dois retiraram as suas pré-candidaturas, tanto o Tasso quanto o Marcone. Quem vai decidir é o diretório”, disse.
Sobre o documento que será apresentado pela cúpula do PSDB nesta terça-feira (28), que traz as diretrizes para o programa do partido e servirá para orientar a campanha eleitoral de 2018, Alckmin defendeu um “Estado democrático” para enfrentar a desigualdade, como consta no texto.
“Nós precisamos tirar esse Estado pesado, ineficiente, das costas dos trabalhadores e dos empreendedores brasileiros. Não cabe no PIB o tamanho desse Estado que hoje acaba sendo um empecilho ao crescimento do país. De outro lado, um Estado que funcione, que seja eficiente, que tenha boas políticas públicas, que atenda aqueles que mais necessitem e que promova o desenvolvimento regional”, afirmou.
Presidente interino do PSDB, O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), que desistiu de disputar a presidência do partido em favor de Alckmin, disse que concordou com a candidatura do governador porque ele "é um ponto de união dentro do partido".
"Ele tem enormes desafios pela frente. Tenho a confiança de que ele vai poder enfrentar as opiniões diferentes que existem, mas, como o ponto de união, de convergência, ele vai ser capaz de convergir com essas diferenças", afirmou Tasso ao sair do Senado nesta terça-feira.
Segundo Tasso, o nome de Alckmin é "pacificador" e ele tem capacidade de dialogar para ajudar o PSDB a retomar seus "princípios fundamentais".
"O partido precisa voltar aos seus princípios fundamentais. A questão não se restringe apenas a ficar no governo. Precisamos ter coerência com as nossas propostas", afirmou.
Confusão em Ribeirão
Previsto para começar às 10h, o evento de inauguração do Hospital da Criança teve início uma hora depois, em um auditório dentro do Hospital das Clínicas (HC-RP), onde se apertaram quase 200 pessoas, entre professores da Faculdade de Medicina da USP, funcionários do hospital, secretários de Ribeirão e prefeitos da região.
Na recepção, à espera do governador, servidores da saúde e da educação faziam um protesto por reajuste salarial com cartazes, apitos e gritando palavras de ordem. Até o superintendente do HC-RP, Benedito Carlos Maciel, e secretários municipais foram hostilizados.
Ao serem informados que Alckmin havia mudado o trajeto previsto e já estava no complexo hospitalar, os manifestantes tentaram se aproximar do auditório e foram impedidos pelos seguranças. Houve confusão e as portas de acessos ao anfiteatro foram bloqueadas.
Investimento
Finalizado 13 anos após o início das obras, o Hospital da Criança custou R$ 167 milhões ao estado, R$ 77 milhões a mais do que o previsto. Nesta terça-feira, foram inaugurados os quatro andares que faltavam, onde ficam os 233 leitos de internação.
A primeira fase, concluída em 2005, consistiu na construção do andar térreo. Mas, em 2010, o empreendimento parou. O contrato não foi cumprido pela empreiteira vencedora da licitação e acabou sendo rompido pelo governo. As obras foram retomadas três anos depois.
Em maio de 2015, o ambulatório, o centro de reabilitação – no subsolo – e a ala destinada à quimioterapia infantil foram entregues. Na época, o superintendente disse que precisaria de mais R$ 15 milhões para encerrar apenas a obra, sem contar equipamentos e mobiliário.
Nesta terça, Maciel afirmou que a inauguração do Hospital da Criança permitirá a ampliação de leitos do HC-RP de 873 para 907 até o próximo ano. Isso porque, os pequenos pacientes serão transferidos para a nova unidade.
Em discurso, o governador destacou a contribuição do setor de serviços no estado e citou que, entre janeiro e outubro, o HC-RP realizou 26 mil cirurgias, 29 mil internações, 1,4 mil partos, 325 mil exames especializados, 603 mil consultas, 2,6 milhões de exames laboratoriais.
“A agricultura mecaniza: você passa uma máquina, chacoalha o pé de café e colhe. A indústria automatiza: é tudo robô, você só programa. Emprego do presente e do futuro vai ser, cada vez mais, serviços. Isso vai segurar emprego e renda”, afirmou.