Circuito Cinema

Alceu Valença estreia como diretor de cinema em ‘A Luneta do Tempo’

 
O músico também assina o roteiro da obra, que tem Irandhir Santos e Hermila Guedes (destaque nos filmes Baixio das Bestas e O Céu de Suely, como protagonista) nos papéis dos personagens Lampião e Maria Bonita.São personagens que integram o inconsciente coletivo não só do Nordeste, mas de todo o país. É como dizia Ariano Suassuna: o regional também pode ser universal, afirmou o artista em entrevista ao G1, em meio à lotada agenda que agora contempla a divulgação do longa-metragem e shows pelo país, além do lançamento do DVD Valencianas, em que sobe ao palco ao lado da Orquestra de Ouro Preto (MG).
 
A exibição em Gramado será a primeira vez que as cenas serão projetadas em uma tela de cinema.A expectativa é a melhor possível. Se os prêmios vierem, melhor. Mas o grande prêmio para mim é estrear ‘A Luneta do Tempo’ em Gramado, declarou.O enredo gira em torno do conflito entre dois irmãos e as consequências para três gerações. Vários traços da culturam  nordestina estão na trama: cangaço, aboiadores, emboladores, violeiros, grupos de forró, poesia e circo.
 
 A narrativa é baseada na infância do artista, em São Bento do Una, no agreste de Pernambuco. O cenário inspirou a realização do longa-metragem. Surgiu em 1999, quando voltei a minha cidade natal para os funerais de meu pai, Décio de Souza Valença. Fui tomado de assalto pelas referências da minha infância, a cultura dos cantadores, violeiros, emboladores, cegos de feira, cordelistas, vaqueiros, os velhos circos do interior, o cangaço, recorda o músico.
 
A opinião do diretor e fotógrafo Walter Carvalho que, aliás, é um dos homenageados do Festival de Gramado neste ano serviu de incentivo para que o então poema de cordel fosse transformado em um roteiro de cinema.Comecei a escrever um longo poema de cordel com as referências. Certa vez mostrei o texto ao Walter Carvalho, ele examinou os escritos e me disse: ‘Isto é cinema!’.Passei a me dedicar a adquirir maior conhecimento sobre audiovisual. Estudei roteiro, direção, montagem, obsessivamente, até me sentir preparado para o desafio. Participei de todas as etapas e o resultado saiu exatamente como eu queria. Me descobri como contador de histórias, diz Valença sobre o produto final.
 
O envolvimento do músico com o filme é completo: além da direção e roteiro, a trilha sonora naturalmente é assinada pelo autor de canções memoráveis como Morena Tropicana e Anunciação. O diretor ressalta que trata-se de um musical, com todos os diálogos cantados ou ao menos rimados.O filme é um musical, compus mais de 80 canções para a trilha sonora. Tanto a montagem, como a dinâmica dos diálogos, possuem um ritmo absolutamente musical, destaca.
 
Alceu Valença ainda se aventurou em frente às câmeras na pele do palhaço Véio Quiabo. Mas não é a primeira vez que ele teve a experiência de atuar. A estreia foi em 1973 no filme A Noite do Espantalho, de Sergio Ricardo, com participações também em Pátria Amada, de Tizuka Yamasaki (1984) e da minissérie Mandacaru, da TV Manchete, onde, inclusive, encarnou o papel de Lampião ao lado da cantora Daniela Mercury como Maria Bonita.
 
Com carreira consolidada na música, o artista confessa que encontrou dificuldades quando decidiu fazer cinema.Não criei expectativas, apenas fui movido por uma vontade obstinada em realizar este filme. Fazer cinema no Brasil é difícil, sim, sobretudo para quem, como eu, vem de outro segmento, no caso a música. Houve dificuldades, descrença, resistência por parte de algumas pessoas. O fato de estrear em Gramado é uma prova de que ‘A Luneta do Tempo’ venceu tudo isso, conclui.
 
O Festival de Cinema de Gramado começou na sexta-feira (8) e vai até sábado (16), quando ocorre a premiação e a entrega dos Kikitos no Palácio dos Festivais. Ao todo, em nove dias de evento, 44 filmes serão exibidos, todos dentro da mostra competitiva que é dividida em quatro categorias: longa-metragem nacional, longa-metragem estrangeiro, curta-metragem nacional e curta-metragem gaúcho.
 
G1

Redação

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