Texto e foto de Valéria del Cueto
Vendo a vida da Ponta do Arpoador é que me inspiro para mais uma conexão com você, cara cronista enclausurada.
Tudo é prata nesse mar de ressaca dominical que, diz a moça do tempo que quase sempre erra, mas dessa vez acertou, se estende por grande parte do litoral sul e sudeste do Brasil.
Tem chovido muito por aqui e mesmo com o céu cheio de nuvens, o que explica a prata predominante na palheta de cores que anunciei acima, muita gente aproveitou para lagartear ao sol que recorta e é fonte de luz para rebater as más energias e ampliar as positivas.
Tá todo mundo precisando e deveria haver mais esforço na busca de harmonia.
Mas, cá pra nós, amiga voluntariamente encarcerada do outro lado do túnel, o que tenho encontrado por aqui é justamente o oposto.
Os sensores de meu sofisticado equipamento interestelar energético estão em níveis críticos. Indicam que o desastre é eminente.
Não vou dizer que a situação é irreversível porque aprendi que nessa parte do globo terrestre a gente sempre tem que avaliar e considerar a hipótese da não hipótese. As chances da exceção a regra são geométricas, tomara!
Olhando esse mar maravilhoso em que os surfistas riscam as ondas como se rabiscassem uma coreografia celestial no contra luz do sol que começa a cair não dá para acreditar nos nefastos acontecimentos. São eles que geram os prognósticos negativos.
Nem vou entrar em detalhes que de tão cabulosos e agressivos estão levando a população à beira de um ataque de nervos coletivo.
Além da perda de direitos e das esperanças o que se vê é o prenúncio de uma guerra anunciada. Em que um dos lados dá sinais de que nem as regras básicas do jogo serão cumpridas. A intenção claramente é a de demolir as instituições. As palavras de ordem são invasão e agressão.
Tá danado, amiga. E todos os recursos, inclusive os motores e robôs das redes sociais, estão na arena.
Talvez você não saiba do que estou falando ou talvez já imaginasse em suas projeções, as que abriram seu caminho para a clausura voluntária.
São novidades perversas, instrumentos de disseminação do medo, do ódio e da confusão. Entraram em voga depois do seu exílio, querida, derrubando a credibilidade e provocando a multiplicação da desorientação generalizada. É um bate cabeça interminável.
Não, (agora reconheço seu alerta, amiga) esse mundo não é para amadores.
E, sinto muito dizer, nem para as abelhas, polinizadoras da vida, que morrem aos borbotões indicando (também) que tem alguma coisa errada na ordem natural das coisas.
Paralelamente, uma das “ilhas de prosperidade” da combalida economia brasileira nos primeiros meses de 2019 foi, justamente, as vendas de defensivos agrícolas que subiram mais de 27%!
Enquanto o mundo se preocupa o governo brasileiro abre a porteira da agressão ao meio ambiente agindo de forma criminosa e inconsequente na contramão dos alertas ambientais mundiais.
Não preciso dizer o que isso significa nos meus planos de partir desse para mundos melhores. A força propulsora dos motores da minha nave cada vez tem menos chances de me irar dessa roubada.
Para finalizar, e poetar, porque ninguém é de ferro, nos restam a fresta (da janela) e a lua (tão nua). Ligações amorosas que nos unem (ainda) na luz.
Do seu Pluct, Plact.
*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Da série “Fábulas Fabulosas”, do SEM FIM… delcueto.wordpress.com