Em 2015, o Goeth-Institut apresentou na cidade do Rio de Janeiro a mostra “O Papagaio de Humboldt”, composta por 15 instalações sonoras que reproduziram parte dos trabalhos de artistas e antropólogos da América Latina, todos familiarizados com a linguística indígena.
O naturalista Humboldt explorou diversas partes do mundo. Na América esteve nos Estado Unidos, Venezuela, Colômbia, Equador, Peru, Cuba e México. Interessado em realizar expedições no Brasil, foi impedido pelos portugueses por ser considerado um espião alemão. Foi ele, juntamente com Aimé Bonpland, também explorador científico, quem deu o nome de Hiléia à floresta Amazônica.
“O Papagaio de Humboldt” é um papagaio adquirido pelo naturalista dos indígenas do Caribe, na selva do Orinoco, Venezuela. Diz o mito que Humboldt percebeu que a ave não falava a língua dos índios que visitava, mas a língua Maipuré (ou Aituré), então exterminada. O papagaio, portanto, era o único falante vivo daquela língua.
A exposição foi um grito de alerta ao sério problema da extinção de línguas indígenas na América Latina. Em todos os vinte países, com exceção do Uruguai, Cuba, Haiti e República Dominicana, são faladas 600 línguas ameríndias, 10% dos idiomas falados no planeta, sendo que um terço destes está ameaçado de extinção e outro terço está em situação alarmante. No Brasil são faladas mais de 160 línguas. Desde à época da chegada dos portugueses, calcula-se a extinção de 85% das línguas “vivas”. A cada língua que se extingue perde-se preciosos patrimônios linguísticos e esplêndidas visões de mundo.
Em uma das salas da exposição, depois da leitura do painel contendo as 700 línguas latino-americanas com os números de falantes de cada uma delas, o visitante seguia por um tapete sonoro, a ouvir um murmúrio polifônico. Alto-falantes reproduziam falas de cada uma das 15 línguas selecionadas. Painéis individuais apresentam textos com o conteúdo das falas e o desenvolvimento histórico de cada uma delas.
É urgente que o Brasil mostre sua cara aos próprios brasileiros. Que oportunize nos ambientes escolares a fabulosa diversidade cultural existente no país. Que exercite os olhos dos brasileiros a olhar em várias direções e vivenciar a fantástica experiência de conhecer os modos de pensar, de sentir, de viver de seus filhos, a desmanchar preconceitos que geram violências que parece não ter fim.
Afinal, quem é o Brasil?