A advogada cuiabana Jacqueline Haddad, que trabalha e estuda em Portugal, engrossa a voz dos brasileiros que denunciam casos de xenofobia naquele país, especialmente dentro das faculdades.
No último dia 29, acadêmicos da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, a mais tradicional instituição de formação de advogados da capital portuguesa, usaram cartazes oferecendo pedras para atirar em alunos brasileiros. Nesta quinta, há protesto de brasileiros enfrente a faculdade contra a atitude xenofóbica dos portugueses.
“Grátis se for para atirar a um zuca (que passou à frente no mestrado)”, dizia o cartaz. Zuca é uma gíria para se referir a brasileiros. Segundo Jacqueline Haddad, a atitude do grupo de estudantes portugueses seria uma forma de ‘retaliação’ ao fato dos brasileiros conseguirem melhores pontuações na faculdade.
A advogada lembra que antigamente muitos brasileiros desqualificados se mudaram para Portugal em busca de oportunidades.
“Nos últimos dois anos, no entanto, tem vindo uma leva muito grande de brasileiros qualificados e os portugueses estão sentindo isso e não estão sabendo lidar com essa mudança. São brasileiros mais cultos, educados, com pós, doutorado, falam outras línguas, e que estão quebrando a condição de colonizados superando os colonizadores”.
Segundo Jacqueline Haddad, o que aconteceu na faculdade não é diferente do resto do que está acontecendo no país, o que ela vê como problema institucional, governamental. “Existe um tratado de reciprocidade e igualdade entre os dois países. Eles abriram a oportunidade, e nós cumprimos todos os requisitos e conseguimos entrar na universidade. Não foi nada ganho. Foi por mérito. Nós competimos juntos com os portugueses, infelizmente o valor de escala que a universidade dá é muito diferente do Brasil. Nós acabamos sendo melhores pontuados”.
Sobre a alegação de que os estudantes portugueses também alegam que eles não estão podendo ingressar na universidade porque os brasileiros estão ocupando as vagas deles, a advogada cuiabana afirma que não é verdade.
“Tem vaga sobrando. A universidade está abrindo mais vagas, e sempre eles sempre pedem para o instituto de educação do país – como se fosse o Ministério da Educação no Brasil – ele abre, mas os portugueses não alcançam a pontuação. Então, se existe um problema de cálculo e valores é que é um problema entre a universidade e os estudantes portugueses”.
A advogada vê com indignação o protesto ocorrido no dia 29. “Isso é muito sério, não está correto, um fato que acontece dentro de uma faculdade de Direito onde há muitos mestrandos e doutorandos que chegaram ao ponto de pedir para apedrejar brasileiros não é aceitável”.
Segundo Jacqueline Haddad, quando os brasileiros foram reclamar do protesto acabaram sendo zombados pelos estudantes portugueses. “Eles disseram que somos recalcados, que brasileiro reclama muito. Zombaram da nossa indignação e disseram que poderíamos reclamar que não iria dar em nada”.
Os brasileiros, então, começaram a mandar e-mail para a universidade, para o Departamento de Direito, para a Reitoria, e no final do dia receberam uma carta dizendo que a universidade, não tolera xenofobia, discriminação, mas que todo mundo tem o direito de fazer brincadeiras e sátiras, praticamente ignorando o fato.
Diante disso, os brasileiros denunciaram o fato à imprensa e a direção da faculdade acabou mudando a postura.
“A universidade teve que reavaliar a conduta, porém ainda assim tem professores dizendo que estamos dramatizando, que gostamos de bagunça, de confusão. Não podemos aceitar que uma faculdade de Direito, onde se estuda sobre xenofobia, crimes raciais, que é formada por mestres e doutores, muitos condecorados, alegar que isso não foi nada. E isso não pode ocorrer não só na faculdade de Direito como outras faculdades do mundo”.
Jacqueline Haddad expôs sua indignação em sua página no facebook: