Opinião

“ADEUS GRANDE CAPITÃO”

Do italiano Umberto Eco (1932-2016), “Obra aberta”, “Como se faz uma tese”, “O nome da rosa”, “O pêndulo de Foucault” e “A memória vegetal e outros escritos de bibliofilia” são os livros que li e reli. Não gosto da crônica “Como ser um índio”, com ideias quiméricas ou excêntricas, do “Segundo diário mínimo”, sobre o futuro das nações indígenas. Também não gosto de uma entrevista dada à Serena Kutchinsky, em especial a resposta à pergunta “O que eu faria se governasse o mundo? 

Gosto da última entrevista que concedeu à jornalista Ilze Scamparini, no ano passado, especialmente dois trechos: “Todo tipo de racismo, fundamentalismo, quase sempre, se baseia em afirmações falsas. É natural que toda forma de crime na história nasça da desinformação orientada” e, sobre o Papa Francisco, “eu o vejo com extrema simpatia. Não por acaso é um jesuíta sul-americano. E não é argentino, é paraguaio. Eram os jesuítas das missões, dos seiscentos, que armaram os índios contra os espanhóis. Para mim, é assim. Ele veio deste mundo ali. Não dos jesuítas reacionários franceses dos oitocentos. Mas dos jesuítas um pouco revolucionários, paraguaios, dos seiscentos. E, então, assim nasce esse personagem bastante singular”.

Gosto de saber que Eco esteve a mirar “Adoração dos Magos”, do pintor renascentista português Grão Vasco. Considerada a primeira pintura europeia em que um índio brasileiro aparece, representando o rei Baltazar, datada entre 1501 e 1506.

Eco deixou seu nome como escritor, filólogo, jornalista, ensaísta, filósofo, historiador, professor, crítico e bibliófilo (tinha duas bibliotecas com cerca de 30 mil livros). Suas afirmações ecoaram pelos quatro cantos do mundo, a dividir opiniões: “as redes sociais dão voz a uma legião de imbecis” e “quem não lê, quando chegar a 70 anos terá vivido só uma vida. Quem lê terá vivido cinco mil anos”. 

Gosto de imaginar que Eco está à frente da “Nave de Teseo”, a navegar eternamente, pois nessa embarcação, quando uma peça se quebra, logo é substituída. Pouco importa se o barco continua a ser o mesmo ou se torna outro. “Adeus Grande Capitão”.

Anna Maria Ribeiro Costa

About Author

Anna é doutora em História, etnógrafa e filatelista e semanalmente escreve a coluna Terra Brasilis no Circuito Mato Grosso.

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