Cidades

Adauto vive insanidade administrativa

 
“O problema é crônico, a mesma situação se repete há anos. Dos 15 anos que trabalho no local já perdi as contas de quantas vezes ele teve que fechar as portas por conta dos mais diferentes problemas”, relatou a enfermeira Ubenice da Silva Rondon, que atua no Centro de Atenção Psicossocial (Ciaps) Adauto Botelho, localizado no bairro Coophema. 
 
A profissional alega que a situação é de caos generalizado na unidade. “Uma hora falta médico, outra falta medicamento, isso sem contar os problemas de superlotação. Chega a um ponto em que a unidade tem que fechar mesmo, pra evitar aquilo que chamamos de ‘leito-chão’”, disse a enfermeira ao se lembrar das inúmeras vezes em que pacientes tiveram de dormir no chão do hospital por falta de leitos. 
 
Ela ainda questiona o fato de o Estado investir milhões nas Organizações Sociais de Saúde (OSSs) em detrimento de investimentos na área da saúde mental. “O Estado simplesmente virou as costas para a saúde mental. Onde será que está todo o dinheiro do governo?”, indagou a servidora. 
 
O médico Werley Peres, que atuou no Adauto Botelho entre os anos de 2005 e 2011, afirma que em Mato Grosso a saúde mental está completamente sucateada. “A situação é mesmo complicada em todas as unidades do Adauto Botelho. Os doentes mentais foram deixados de lado pelo poder público”, assegura. 
 
Ele revela que o atendimento à saúde mental é feito de maneira completamente equivocada no Estado. “Se você, por exemplo, vai até a porta de entrada do Adauto depois das 19 horas, não tem atendimento. Aqui o paciente tem que escolher horário para surtar. Essa questão está sendo jogada pra debaixo do tapete e não é tratada com a seriedade que deveria”, alegou Peres. 
 
O médico ressalta que a situação caótica que familiares de pacientes internados no Adauto é fruto de um “erro no processo de condução da saúde pública”. Ele pontua que os servidores têm muita vontade de trabalhar, mas acabam pagando o preço pela ineficiência do Estado. 
 
“Aqueles que trabalham com a saúde mental é porque querem, porque realmente gostam do que fazem. Infelizmente, muitos não têm condições mínimas de desenvolver seu trabalho por conta do sucateamento da saúde mental em Mato Grosso”, declarou. 
 

Redação

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