Vai a júri nesta quarta-feira (29), o delegado aposentado Ronaldo Antônio Osmar, acusado de agenciar o assassinato do missionário Vicente Cañas há trinta anos. Indígenas e familiares do missionário acompanharão o julgamento que acontecerá na Justiça Federal às 8h30, em Cuiabá.
No primeiro julgamento realizado em 2006, quase duas décadas depois do assassinato, 2ª Vara Federal em Mato Grosso inocentou por seis votos a um o delegado aposentado de Polícia Civil de Juína. Ele chegou a conduzir o inquérito que investigou o assassinato, induzindo a responsabilidade da morte de Vicente aos indígenas.
Segundo as provas de acusação, Ronaldo acordou a morte do missionário com oito homens que realizaram a emboscada. O Ministério Público Federal (MPF) pediu a condenação do delegado por homicídio duplamente qualificado por intermediar o assassinato.
Em 2015, o Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Região determinou a realização de um novo júri para julgar a morte de Vicente Canãs. O desembargador Italo Fioravante Sabo Mendes, aceitou o pedido do Ministério Público Federal (MPF) que indicou invalidade do primeiro julgamento por não considerar provas substanciais apuradas durante o processo.
O caso.
O crime ocorreu em 1987, na época, Cañas morava à margem do rio Juruena, que corta o Norte do Mato Grosso. Vivia só em um barraco de madeira que ergueu para viver perto da aldeia dos Enawenê-Nawê, os índios bravos.
Metódico, em folhas de papel ele anotava minuciosamente dados sobre os costumes e tradições da tribo. Seu estudo preenche 700 páginas distribuídas em três volumes. Sua missão era proteger os índios de quem queria avançar sobre a terra dos nativos.
O corpo do pregador, que tinha 46 anos, foi encontrado por indigenistas cerca de 40 dias depois de sua morte. A perícia apontou sinais de violência na habitação de Cañas. O laudo médico-legal informa que ele teria sido atingido a golpes de porrete e de uma faca peixeira.
A investigação indicou um suposto conluio entre o delegado e fazendeiros irados com os Enawenê-Nawê, que não aceitam intrusos em sua reserva. Ronaldo Antonio Osmar, na época, comandava a Polícia Civil em Juína, a 737 quilômetros de Cuiabá.