O acerto inicial entre Estados Unidos e China, que poderá encerrar a disputa comercial entre as maiores potências econômicas do mundo, preocupa governo e exportadores brasileiros. O Brasil praticamente tomou o espaço dos EUA no mercado chinês de soja. E ampliou suas exportações de carne para a China, com reflexo também de um surto de peste suína africana no país, o que acabou provocando uma alta de preços no mercado brasileiro.
O acordo negociado semana passada com os EUA prevê que a China aumente suas compras de produtos agrícolas americanos. Serão US$ 16 bilhões por ano até 2022, podendo chegar a até US$ 50 bilhões por ano, segundo o presidente americano Donald Trump.
“Brasil e EUA são os maiores exportadores de soja do mundo. E, agora, é como se o Trump estivesse criando uma reserva de mercado com a China”, avalia José Augusto de Castro, presidente da Associação do Comércio Exterior do Brasil (AEB).
Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior e sócio da consultoria Barral M Jorge, diz que o Brasil poderá exportar soja para os outros mercados. O impacto maior será no preço, que deve cair. Mas ele não vê efeitos para as exportações de carne brasileiras para a China, já que a demanda no país está muito alta.
Segundo o secretário substituto de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Flavio Bettarello, a saída será diversificar a pauta exportadora para a China e buscar mercados na Ásia, na África, na América do Sul e na própria União Europeia (UE). Em meados do ano, os europeus assinaram acordo de livre comércio com o Brasil que deverá ser ratificado pelo Legislativo de cada país em 2020.
“Sabemos que um dia esse acordo será firmado. Os exportadores brasileiros se aproveitaram do momento, mas não podemos deixar que essa oportunidade acabe se transformando em dependência”, disse.
De janeiro a novembro deste ano, o Brasil exportou US$ 57,6 bilhões para a China, 28% a mais do que no mesmo período de 2018. A soja representou 34%.
O Brasil também foi prejudicado pela guerra comercial. No ano passado, outros países, além da China, tiveram exportações de aço e alumínio sobretaxadas em, respectivamente, 25% e 10%. Para fugir da tarifa, indústrias brasileiras, argentinas e sul-coreanas firmaram acordo de restrição de exportações para os EUA.
Há duas semanas, Trump ameaçou numa rede social sobretaxar o Brasil e a Argentina, no que foi visto por especialistas como um recado para agradar os produtores agrícolas americanos insatisfeitos com o espaço cada vez maior conquistado por soja e carne brasileira no mercado chinês.
Nada saiu de oficial. Na última terça-feira, o principal conselheiro econômico de Trump, Larry Kudlow, disse que não havia decisão ainda sobre sobretaxar o aço.