Na semana passada o Presidente visitou países comercialmente interessantes para o Brasil como Japão, China e Nações Árabes, grandes compradores de nossos produtos agropecuários.
Mas como seria esperar demais que ele ficasse 10 dias sem desafinar, a nota dissonante veio com a inoportuna intromissão na política da vizinha Argentina, nosso terceiro maior parceiro comercial.
É difícil entender a obsessão do Presidente brasileiro de classificar como inimigo qualquer nação que esteja politicamente mais à esquerda. Inexiste razão para interrompermos relações comerciais com a Argentina só porque a Cristina Kirchner voltou ao poder. Até o Trump – ídolo do Mito – parabenizou o eleito Fernández e garantiu a manutenção das negociações bilaterais.
Alguns países – China por exemplo – são tão poderosos e importantes nas relações mundiais que conquistam o direito de não dar a menor bola para o que pensam deles. Claro que o Brasil não é uma dessas nações e precisa cultivar com carinho o relacionamento que melhora os negócios.
Interessante notar que depois da reforma da Previdência – concluída apesar do Presidente – o mercado está ansioso por boas notícias para começar a deslanchar e tende a ignorar os desacertos políticos do governo. Até a possibilidade de o Supremo enterrar a prisão após julgamento em segunda instância não consegue impressionar o mercado. O dólar que sempre sobe com os sinais de instabilidade não deu bola para o STF; a bolsa, também muito sensível aos riscos, mantém o viés de alta, ainda que moderado. O risco Brasil está baixíssimo – por volta de 117 pontos – e a inflação comportada. A taxa Selic foi reduzida para inéditos 5% e o desemprego lentamente começa a ceder.
Outra sinalização do deslocamento do mercado foi ignorar o fiasco da Rede Globo sugerindo o envolvimento do Presidente com o caso Marielle, mesmo com toda evidência contrária. A maldosa notícia nem arranhou o mercado; chamuscada ficou sim a imagem da poderosa emissora.
Surpreendentemente a Bolsa e o dólar ignoraram até a mais absurda de todas das confusões do clã dos Bolsonaro que foi a sugestão do deputado Eduardo – o autor da frase que um cabo e dois soldados fechariam o STF – de reeditar o AI-5 caso a oposição não se comporte como o governo quer.
Aliás, este episódio da emissora de TV dava uma excelente oportunidade para o Presidente e sua turma enfatizar a inoportunidade da notícia e o viés político dela. Mas eles jogaram fora a chance, criando uma nova situação (reedição do AI-5) que pode ser desastrosa politicamente, diante da ameaça de cassação do filho 03 na Câmara dos Deputados.
Espero que o Congresso releve a verborragia do parlamentar e aceite suas desculpas – mesmo porque o Presidente foi enfático em condená-la – e receba com simpatia as importantíssimas medidas que o Paulo Guedes e sua equipe estão propondo nesta primeira semana de novembro.
Agora, mesmo que o mercado esteja ignorando as bravatas e estultices da família presidencial, ninguém sabe o limite da resistência do País a elas.
Renato de Paiva Pereira – empresário e escritor
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