Alguns exemplos de lavouras que responderam bem às pesquisas e aumentaram a produtividade nos últimos 50 anos: a soja, que produzia cerca de 20 sacos por hectare na década de 1970, hoje alcança uma média nacional de 55 sacos. Teve, pois, um aumento de rendimento próximo de 180%.
Melhor ainda foi o milho. No mesmo período, passou a produzir 240% a mais, ou seja, há meio século produzia 27 sacos por hectare e hoje atinge mais de 90 sacos de média.
A cana-de-açúcar progrediu também, embora mais modestamente: em 1970 produzia 45 toneladas por hectare e hoje chega a 85. Aqui o ganho foi de 90% – bem menor que o do milho e da soja.
Mas parece que a cana nos reservou uma surpresa, como noticiaram os grandes jornais do País, na semana passada.
Vocês se lembram do fanfarrão Eike Batista? Aquele que chegou a ser considerado o sétimo homem mais rico do mundo e que batia bumbo, garantindo que chegaria a ser, pelo menos, o terceiro bilionário do planeta.
Tendo quebrado financeiramente, foi preso duas vezes envolvido em crimes, quando a Lava-Jato fazia os brasileiros crer que enfim a corrupção seria punida no Brasil. (A corrupção continua firme, mas ela (a lava-jato) foi extinta.)
Eis que o Eike voltou, desta vez com novo projeto mirabolante, ancorado na supercana – uma variedade de cana-de-açúcar que promete transformar o setor de açúcar e álcool.
Ela produziria 180 toneladas por hectare – um recorde mundial – e mais que o dobro do que rende hoje no Brasil. Além disso, a quantidade de biomassa (bagaço) também aumenta muito, em torno de 7 a 12 vezes, conforme estimativas dos idealizadores desse milagre.
Entretanto, essas promessas são tão grandiosas que parecem “muita banana por um tostão” como diz o ditado antigo. Os entusiastas e criadores desse fenômeno vão mais longe: os canaviais, que hoje são renovados a cada cinco anos, durariam dez com alta produtividade. Sem contar que os gastos com renovação de cada área seriam menores.
Este feito agronômico teria sido alcançado por pesquisadores que se dedicam a ele desde 2010. O mérito do Eike foi acreditar no projeto e, usando sua imagem de empreendedor, ajudar a formatar o pacote e conseguir apoio financeiro internacional.
É verdade que sua imagem está desgastada aqui no Brasil, diante de tantos fracassos em diversos projetos espalhafatosos que criou. Consta que de seu antigo império resta-lhe somente um restaurante de cozinha oriental no Rio de Janeiro.
Entretanto, ele afirma que já conseguiu US$ 500 milhões para garantir a expansão da supercana. O grupo Brasilinvest (do empresário Mário Garnero) se comprometeu a bancar este valor para plantar 70 mil hectares da cana milagrosa.
Os aumentos de produção agrícola alcançados até hoje foram conseguidos lentamente, acrescentando com paciência um ganho sobre o outro. O conhecimento desta dinâmica nos leva a suspeitar da cana do Eike que, de repente, duplica a promessa de colheita.
O histórico do místico Eike, que acredita no condão do X de multiplicar fortunas, não recomenda o projeto. Entretanto, não custa esperar.
Renato de Paiva Pereira.
Foto Capa: Chat GPT