Entre 2021 e 2023, três países tiveram seus regimes políticos contestadas e quase acontecem golpes de estado. Dois deles – Estados Unidos e Brasil – por estimulação dos ex-presidentes que perderam as eleições e quiseram melar o jogo democrático. O outro – a Rússia que se diz democrata, mas carece de muita boa vontade para ser considerada como tal – teve um golpe abortado na última hora graças a uma negociação, quando as tropas rebeldes já estava a um dia de viagem de Moscou. Não sabemos ainda se esta paz precária vai durar.
O movimento de janeiro de 2021 na América do Norte tentou perpetuar o Trump no poder, impedindo a validação pelo Capitólio do vencedor Joe Biden. O do Brasil – em janeiro deste ano – seguiu o mesmo roteiro, invadindo as sedes dos três poderes em Brasília na vã esperança de convencer o Exército Nacional a apoiar a intentona.
Creio que Brasil e Estados Unidos passaram muito perto de ter o regime democrático suspenso, interrompendo mais de 200 anos de democracia americana e quase 40 anos da redemocratização brasileira.
Entretanto, o movimento russo, em termos mundiais, talvez tenha mais importância geopolítica que os outros dois porque o líder soviético é absolutamente imprevisível e o que o mercenário que contesta a forma de governo parece ser muito mais inconfiável que o instável presidente.
O que piora a situação é o arsenal nuclear soviético que já incomoda o mundo estando sob a guarda de Putin. Se passar para a responsabilidade do Prigozihn homem cruel e violento por certo vai tirar a paz do mundo. Este comandante já cumpriu pena de oito anos de cadeia não por delito político, mas por roubo. Imaginem um desclassificado desse com acesso aos dispositivos nucleares que podem liquidar o mundo.
Uns avaliam que trinta mil a cinquenta mil homens estão sob seu comando. Estes combatentes foram contratados pelo governo russo para guerrear na Ucrânia e à medida que o serviço demanda mais guerreiros eles são buscados nas penitenciárias mediante pagamento e promessa de liberdade se sobreviverem à guerra. O comandante Prigozhin, portanto, fala a mesma língua dos mercenários, pois vieram do mesmo extrato social – delinquentes condenados.
Se os golpes dos Estados Unidos e do Brasil tivessem prosperado, teríamos, sim, ditaduras, mas, com certeza não seriam cruéis como a da Coreia do Norte ou potencialmente sanguinárias como a esperada da Rússia, se fosse liderada pelo grupo paramilitar Wagner que o milionário Prigozhin comanda.
Renato de Paiva Pereira