Opinião

A Porta da Esperança

Querida cronista. Finalmente o céu clareou permitindo que o raio de luar encarregado de transportar nossas mensagens pela janela iluminasse o interior de sua cela do outro lado do túnel. Temporal, ó temporais, chuva fina, chuva grossa e até neve, fato sem registro anterior para o início de novembro.

Melhor assim, diante dos incríveis acontecimentos que venho contar. Antes de mais nada, deixo claro que aqui não há um único desvario ou delírio. Afinal, quem está voluntariamente nessa cela não sou eu, é você.

Fica o registro juramentado, por meus poderes intergalácticos de extraterrestre, que reportarei apenas a verdade e que não tomei água oferecida nos bloqueios e manifestações que percorri, o que parece ter provocado alterações significativas no comportamento dos revoltosos que, em nome da liberdade, pediam (juro que é verdade) intervenção militar no governo do presidente. Aquele que fizeram o (im)possível para ver reeleito.

Leia de novo o último parágrafo, por favor, estimada amiga. E vamos ao início do capítulo que, depois de tantas peripécias poderia até se tornar um tomo completo. Um livro inteiro em episódios burlescos, com um enredo rocambolesco coroado por um final cheio de falsas premissas decepcionantes para seus aloprados protagonistas.

Pode me elogiar, cara cronista, pela erudição e a falsa modéstia. Nasceram das sementes que você plantou quando me acolheu na minha chegada ao planeta Terra. Um extraterrestre de passagem, preso na atmosfera poluída e, consequentemente, sem propulsão para ultrapassar a camada de ozônio pluctplacteando ao léu mundo a fora. Lição número um: esse planeta não é para amadores! O Brasil então…

Já aticei sua curiosidade? Nada do que imaginar chegará próximo dos acontecimentos ocorridos e fartamente registrados. Começando pelo dia da votação do segundo turno.

Tudo normal até o registro da passagem de uma eleitora, cujo voto não indaguei por ser secreto, pela moldura da imagem que ilustra essa mensagem. Como uma porta da esperança, sabe? Uma previsão como tantas outras. Essa, do que está por vir.

Com uma fluidez que não se verificou no primeiro turno e sem atropelos a votação transcorreu na calmaria. O resultado apertado de 50,9 a 49,1 para Lula foi anunciado e rapidamente confirmado pelas autoridades constituídas. Menos… pelo presidente da República. Que emudeceu.

Seu silêncio serviu de fermento no bolo que se formou na garganta de seus seguidores derrotados. Foram às ruas e estradas e nelas amanheceram segunda-feira bloqueando rodovias em surto coletivo. Marcharam, oraram e brigaram enquanto a Policia Rodoviária Federal fazia a egípcia nas vias de abastecimento de todo o país. Foram mais de 1.050 bloqueios.

Quem conseguiu começar a liberar os gargalos, acredite, foram as torcidas organizadas. Abriram os caminhos ao se locomoverem para as partidas de futebol fora de casa no feriado de finados.

Mesmo com o fim da afonia presidencial os manifestantes verde e amarelos bandeira não arrefeceram o pedido de intervenção militar. Também, com tantas notícias falsas disseminadas pela rede de informações dos insurgentes, como acreditar num combalido capitão, vestido de Zelenskyy, pedindo os desbloqueios? Depois de anunciada e muito comemorada, entre outras coisas, a prisão de Xandão, o presidente do TSE, demorou um tempo para uma troca de estratégia.

Agora, fazem manifestações exigindo a quebra da constitucionalidade nos portões dos QGs militares. Repito: pedem intervenção militar! O que pressupõe o fim do governo que votaram para continuar. E perderam.

Tudo isso com os deuses da meteorologia despejando muita água e frio país a fora. Uma loucura coletiva onde, entre rezas, penitências e saudações nazistas, cantaram o Hino Nacional fazendo continência a um… pneu!

O raio de luar está por um fio, mas preciso de um espaço extra para registrar dois fatos que marcaram o período. Carla Zambelli, a parlamentar, correndo com uma arma pelas ruas de São Paulo atrás de um eleitor que declarou na véspera do pleito a ela “Te amo, espanhola”, é um deles. O outro “evento” é um caminhão com um abilolado de amarelo colado no gradil frontal em alta velocidade. O motorista querendo passar e o empresário Júnior Cesar Peixoto “grudou” no veículo. O caminhoneiro, louco para ver os filhos, tocou em frente. Verdade ou não, dizem os memes que o parvo foi visto até em Marte.

Posso garantir que não desembarcou na Lua. O dragão de São Jorge negou guarida soltando fogo pelas ventas simbolicamente enrolado no manto vermelho do santo. Lá, Lula ganhou com 2 votos. Deu 100% na urna lunar, a dos poetas, seresteiros e namorados!

*Valéria del Cueto é jornalista e fotógrafa. Crônica da série “Fábulas Fabulosas” do SEM FIM… delcueto.wordpress.com

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