Opinião

A Politização da Fé

Tenho especial aversão ao rumo que a política tomou aqui no Brasil e nos Estados Unidos. Estão criando uma Teocracia ingênua e rasteira, onde atribuem a Deus a escolha dos líderes religiosos que governam o País. O discurso emocionado e lacrimoso com dezenas de citações bíblicas da Michele na grande passeata de 25 de fevereiro mostra esse viés.

Nos Estados Unidos, o Trump tem seu maior reduto eleitoral no protestantismo, grupo percentualmente equivalente aos católicos aqui no Brasil. Este é o fato que chama a atenção: lá o número de protestantes é quase o dobro do de católicos, o que justifica politicamente apoiar-se nesse grupo. Aqui no Brasil a fórmula se inverte, pois os evangélicos são pouco mais da metade do número de católicos.

Por que os protestantes dos Estados Unidos são fascinados pelo Trump se ele não cultiva os valores que os crentes proclamam? Os evangélicos são contrários aos jogos e o Trump é o rei dos cassinos. Também são contra o divórcio e Trump já casou três vezes; condenam fornicação e esquecem os casos de uso de prostitutas do ex-presidente. Sem contar os 90 processos judiciais por diversos crimes a que está respondendo.

Quanto ao Bolsonaro chama a atenção a busca de aproximação com os evangélicos porque são numericamente muito menores que os católicos. Interessante é que os católicos não se importam com essa preferência clara pelos evangélicos e continuam votando no ex-presidente.

Quem liderou a passeata do último dia 25 foi o Silas Malafaia conhecidíssimo Bispo pentecostal, que custeou, segundo ele mesmo disse, grande parte da manifestação.

Minha implicância é com o rumo da política que consegue convencer os protestantes americanos e evangélicos brasileiros de que seus presidentes são enviados de Deus (ungidos, como eles dizem) para governar o povo. Os nacionalistas americanos veem os Estados Unidos como Nação abençoada e creem que na sua origem foi uma teocracia.

A oração emocionada da Michelle Bolsonaro no último dia 25 de fevereiro está na mesma linha, considerando o marido o enviado de Deus para governar o povo brasileiro.

Lá nos Estados Unidos, a julgar pelas pesquisas, o Donaldo Trump tem tudo para ganhar do Biden e aqui no Brasil, se reverterem a cassação política do Bolsonaro (o que não é impossível) ele tem grande chance de se eleger novamente.

O Iluminismo no século XVIII tirou dos reis e governantes a conotação de sagrado e afastou Deus dos objetivos mesquinhos dos homens. Criou também uma necessária distância entre Igreja e Nação. Foi uma ideia maravilhosa deste movimento social e filosófico mostrar para os homens que Deus não tinha preferências políticas e nem interesse em governar países. Aliás, para os iluministas mais puros Ele nem existe.

Mas agora protestantes americanos e evangélicos brasileiros, comandados por líderes excêntricos e políticos espertos, querem devolver o comando das nações para o “Senhor” reservando para si, claro, o direito divino de representá-lo aqui na terra.

Renato Paiva

About Author

Você também pode se interessar

Opinião

Dos Pampas ao Chaco

E, assim, retorno  à querência, campeando recuerdos como diz amúsica da Califórnia da Canção Nativa do Rio Grande do Sul.
Opinião

Um caminho para o sucesso

Os ambientes de trabalho estão cheios de “puxa-sacos”, que acreditam que quem nos promove na carreira é o dono do