Opinião

A PELE QUE HABITO.

Quem me conhece, sabe. A casa da minha avó de 90 anos, Dona Lola, está sempre, literalmente, de janelas abertas. Aliás, é a única casa que ainda abre as janelas na charmosa Rua 24 de Outubro. Porque foi assim que ela educou a sua prole de 12 filhos: se alguém quer água, se alguém quer um prato de comida, ou quem sabe como disseram Liu Arruda e Roberto França, se alguém quer ver televisão ( coisa rara na época), era só chamar na janela. Não interessa: rico, pobre, mendigo, aventureiro, barbeiro. Precisou, era só chamar na janela. Por um único e simples motivo: pra gente, todo mundo é gente. E não tem nada a ver com o fato de minha bisavó ser negra, minha avó ser parda, de meus tios terem cabelo pixaim. Quer dizer que somos todos humanos. Como disse uma senhora: se cortar minha pele, sai sangue.

Nunca havia sentido tanto ódio de outras pessoas como num dia desses. Nunca tive problema com ninguém. Sempre flutuei bem por todas as tribos. Nesse dia, porém, levei um susto. Numa bancada, levei três horas de uma agressão corporal e verbal incessante, como se me colocassem aos leões, por um único motivo: a cor de minha pele.  E por uma razão: ajudar a fazer uma Mostra de Cinema Negro. O mais chocante foi quando um negro ( o diretor do evento e curador dos filmes) se desculpou pelos erros, e os participantes o acusaram de estar cobrindo a culpa dos brancos. Não acreditaram que ele tinha poder pra tudo aquilo.

Cenas tristes de um filme de terror.  Infelizmente chego a dizer que Bolsonaro está fazendo escola. Qual a diferença de um pra outro? Se existe violência, perdem-se quaisquer motivos. Precisamos diminuir as diferenças e, não, aumentar a violência.

Humanos: mais amor, por favor.

João Manteufel Jr.

About Author

Mais conhecido como João Gordo, ele é um dos publicitários mais premiados de Cuiabá e escreve semanalmente a coluna Caldo Cultural no Circuito Mato Grosso.

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