Opinião

A MENINA É DOS OLHOS DE OYÁ

Raios de Iansã clareiam os caminhos da Mangueira em 2016. No centenário do samba é a campeã da Sapucai,  solo sagrado do carnaval

Foi de mansinho que o vento começou. Carnavalesco novo chegando ao grupo especial, Leandro Carvalho assumiu uma tremenda responsabilidade com a comunidade mangueirense e sua homenageada, Maria Bethânia. Mas, até a bateria da Mangueira embicar na curva do Balança Mas Não Cai, muita coisa aconteceu no Sambódromo do Rio de Janeiro, nos dois dias da disputa…

A Estácio de Sá abriu o Desfile do Grupo Especial falando de São Jorge. O santo preferido dos cariocas não a ajudou a “firmar”. Última colocada, voltará para o Grupo A. No penúltimo lugar, a União da Ilha e seu enredo Olímpico, com vários representantes de equipe brasileira batendo ponto. Ito Melodia levou o Estandarte de Ouro de intérprete, defendendo um dos sambas com pior avaliação: 29,4. Os outros foram os da Mocidade e da São Clemente…

A Beija-Flor, queria o Bi. Veio mais leve, mas suntuosa. Ficou em 5º lugar. Perdeu décimos em enredo(0,3) – pobre Marquês de Sapucaí, fantasia (0,3) e na bateria com orquestra(0,1). A  enorme bola de ar na comissão de frente da Grande Rio não a ajudou a chegar as campeãs, com o enredo sobre Santos. A Mocidade teve problemas em vários setores. Sem somar 30 pontos em nenhum quesito, caiu para 10º posição.

A Unidos da Tijuca, com o enredo sobre Sorriso, foi vice. Mestre sala e porta bandeira (0,1) e enredo (0,2) foram os quesitos que tiraram pontos da escola do Borel. Tudo lindo e colorido até as alegorias do tratorzão e do combate ás pragas arrasa meio ambiente. O samba gabaritou e a lenda se manteve: a escola campeã sairia da segunda noite de desfiles…

Martinho a abriu apresentando a Vila Isabel e seu enredo sobre Miguel Arraes. Só chegou aos 30 pontos em samba enredo e enredo. Ficou em 8º.  

O Salgueiro fez a malandragem ser saudada em coro uníssono pelas arquibancadas. Mas fantasia (0,2) e alegoria e adereço (0,3) deixaram a escola na 4º posição. Não sem batalhar bravamente pelo título, decidido no último quesito. O casal Marcella Alves e Sidclei voltaram a gabaritar! Lindos… O desfile irreverente da São Clemente, encerrado com um panelaço dos palhaços de Rosa Magalhães não entusiasmou os jurados. A escola não passou da 9º posição.

Cheia de expectativas (inclusive do prefeito-torcedor Eduardo Paes) e promessas Sem Fim do mago Paulo Barros, veio a Portela, com seu sambaço. Depois do fogo, a água. Em 2015, na Mocidade, Barros tocou fogo na porta bandeira. Agora caprichou na pista (molhada por sua própria comissão de frente!) para incrementar o bailado do primeiro casal! A águia portelense, não  encontrou o elo perdido nem  ajudou a impulsionar o foguete de  Oswaldo Cruz rumo a Apoteose. Os pontos descontados, 0,1 por quesito, foram em enredo, comissão de frente e mestre sala e porta bandeira.  Já  a Impetratriz, em 6º, foi de dobradinha: 0,2 pontos na comissão de frente, no enredo (sobre Zezé de Camargo e Luciano), nas fantasias, e no casal. O samba ficaria mais bonito sem o andamento acelerado…

Na boca da madrugada chegou a Menina de Oyá. Posso dizer que desfilei com a bateria na apresentação, vi o impacto da comissão de frente, que perdeu os dois únicos décimos da escola, a performance espetacular do casal Squel e Raphael Rodrigues, o lindo carnaval de Leandro Vieira… e aquilo que a gente não sabe explicar. Que supera as dificuldades, afina o canto, une os corações e sintoniza as almas. Até a apuração a Mangueira era uma incógnita!

Com grandes apresentações e a zona norte carioca ocupando seu devido lugar entre as melhores no centenário do samba o que mais poderia temperar o carnaval 2016? Uma vitória verde e rosa, ora!

Valéria del Cueto

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Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Essa crônica faz parte da série “Ponta do Leme”, do SEM FIM... delcueto.wordpress.com

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