Primavera à espreita para entrar em terras ao sul do Equador, uma sugestão de leitura: “A majestade do Xingu”, de Moacyr Scliar. O autor, também médico sanitarista e professor, se propõe a contar duas aventuras: a de Noel Nutels e a do próprio narrador do romance. O primeiro, nascido na Ucrânia, chega ao Brasil em 1921; o segundo, o narrador do romance, ao contrário, um anônimo, também da Ucrânia.
A narrativa é extremamente envolvente. Isso é possível em razão de como Scliar vai tecendo a história das duas personagens e entrelaçando suas vidas. Além de serem originários da Ucrânia, traços biográficos de Nutels e do narrador se encontram em diversas passagens. O narrador e Noel Nutels andam lado a lado, ainda que um vá para São Paulo, o outro para Pernambuco; um trabalha na loja de tecidos A majestade; o outro se torna médico sanitarista; um casa-se com Paulina, o outro com Elisa. Em sua companhia, Nutels viajará pelo interior do Brasil, principalmente pela região do rio Xingu, tornando-se um dos grandes defensores da criação do Parque do Xingu, quando receberá o apelido de “médico dos índios”.
O narrador, no andar da trama, conhece uma moça chamada Iracema, que se torna sua amante. É quando Scliar cria uma referência com a “Iracema” de José de Alencar, para indicar ao final do romance que o narrador consegue incorporar valores da cultura brasileira à sua, como um “atestado de nacionalidade.
Nutels, em meio aos índios do Xingu, não se depara somente com surtos de malária e tuberculose, mas com João Mortalha, grileiro de terras que quer se apossar das terras indígenas. Noel Nutels expulsa-o do convívio com os indígenas.
O romance chega ao fim nos anos 80, quando o narrador anônimo está em uma cama de uma UTI e, ao longo de horas, conta ao médico suas duas histórias. Por último, chega à morte dos dois personagens. Nutels, o narrador e Scliar se eternizaram em um mesmo tempo em um único lugar: na Majestade do Xingu.