Opinião

A Infância que Sangra: a Violência que Já Não Choca 

“Menina morre após ser agredida por alunos dentro de escola no Sertão de PE.” 

Essa Manchete me chocou profundamente. 

A morte brutal da pequena Alícia Valentina, de apenas 11 anos, após ter sido espancada dentro da escola por colegas, não pode ser encarada como um episódio isolado. 

O triste fato revela uma chaga aberta em nossa sociedade: crianças e adolescentes se tornando protagonistas de atos de crueldade, dentro do espaço que deveria ser de proteção e aprendizado. A escola, que deveria abrigar sonhos e esperanças, tornou-se palco de uma tragédia irreparável. O mais assustador é que não se trata de um caso isolado; situações semelhantes vêm se repetindo com frequência, como se estivéssemos normalizando o horror. 

Foto: Reprodução/Redes Sociais

O que está acontecendo com nossas crianças? 

 O que lhes falta: empatia, humanidade, a noção do valor da vida?  

Crescem em meio a uma sociedade que banaliza a violência, que aplaude o ódio em programas de televisão, que consome diariamente agressividade nas redes sociais e que, muitas vezes, falha em transmitir os valores mais básicos de respeito e solidariedade. A ausência de diálogo dentro das famílias, a negligência em relação à saúde emocional e o abandono da convivência saudável criam um terreno fértil para que a indiferença floresça. E quando a indiferença se alia à violência, o resultado é devastador. 

Não basta responsabilizar apenas a escola ou a família. O problema é mais profundo e exige engajamento social. Instituições civis, religiosas e comunitárias precisam somar esforços para reconstruir valores que parecem estar se perdendo.  

Precisamos de políticas públicas sérias, de profissionais preparados para lidar com a realidade das salas de aula, de campanhas permanentes que combatam a cultura da violência e incentivem a convivência pacífica. Mas também precisamos de igrejas, associações, vizinhos, lideranças locais, todos unidos na tarefa de ensinar pelo exemplo, de resgatar a compaixão e de despertar a consciência coletiva. 

O exemplo é a verdadeira chave para ensinar como viver em paz e de forma saudável, física e emocionalmente. Não acredito que palestras isoladas, tão comuns quando se quer mostrar que algo está sendo feito, sejam capazes de transformar realidades sem ações concretas e consistentes. 

Parece que estamos todos brincando de faz de contas: faz de conta que não há um problema sério, faz de conta que há políticas eficazes, de faz de conta que as escolas são seguras, de faz de conta que a violência infantil não grita diariamente em nossa cara.”  

A morte de Alícia não pode ser reduzida a uma notícia a mais no noticiário. É um grito de alerta. Se nada mudar, outros nomes surgirão, outras famílias serão destruídas, e continuaremos a enterrar crianças que sequer tiveram tempo de viver.  

O futuro depende da coragem de transformar o presente. E essa transformação não virá apenas das leis ou das escolas, mas de uma verdadeira mobilização de toda a sociedade, disposta a devolver às novas gerações aquilo que mais nos falta: humanidade. 

Que triste!

Olinda Altomare é magistrada em Cuiabá e cinéfila inveterada, tema que compartilha com os leitores do Circuito Mato Grosso, como colaboradora especial.

Olinda Altomare

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Olinda Altomare é magistrada em Cuiabá e cinéfila inveterada, tema que compartilha com os leitores do Circuito Mato Grosso, como colaboradora especial.

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