Opinião

A exposição Xaray no cotidiano de um Shopping Center

A exposição O Doméstico e o Ritual no Universo Xaray teve sua mais recente apresentação em Outubro e Novembro de 2018. Infelizmente, por primeira vez, não contou com a participação da arqueóloga responsável pelas escavações na região do Pantanal de Cáceres-MT, Dra. Maria Clara Migliácio, Caia, como era mais conhecida. Falecida em 2017, portanto, é uma dupla homenagem aos Xarayes e também à pesquisadora. Prestigiou o evento o Pantanal Shopping, Instituto Homem Brasileiro e o IPHAN. Participei como monitor e trago aqui a experiência compartilhada nesse espaço.

Primeiramente, a exposição torna obsoleto o paradigma evolucionista, desconstruído pelos artefatos que não mostram nenhum povo primitivo e selvagem. Ao contrário, os adornos e utensílios eram sofisticadíssimos. Em seguida, como mediador da relação visitante/artefato, optei pelo diálogo entre arqueologia e antropologia para proporcionar um mergulho na alteridade, quando a etnologia indígena brindou esse método. Com seus exemplos, levando o visitante para um campo outro, o da cosmologia indígena, ou seja, outra perspectiva da relação do humano com a natureza. Nela é possível pelo xamã fazer atravessamentos de corpos entre humanos e não humanos, relações de reciprocidade, vivências coletivas e seres encantados.

Não escapa desse conceito o conflito. É outra dimensão da realidade, onde o visitante demonstrou espanto, admiração, entusiasmo, indiferença, nojo, desconfiança entre outros aspectos. Os frutos dessa experiência foram a troca de informação, principalmente com os descendentes indígenas, indigenistas, professores, entre outros. Eles, através do diálogo, transcenderam as interpretações simbólicas do trabalho.

Portanto, diante do exposto é possível afirmar que o Shopping é um espaço multicultural de troca de informação. A arqueologia, assim, não serve apenas para pensar o passado, mas principalmente o contemporâneo, no sentido de chamar à atenção para formas e saberes com os quais os povos originários, por milênios, manejaram os recursos da floresta e dos rios.

 

Redação

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