Comecei a estudar Propaganda e Marketing em 2002. Logo no começo da faculdade fui entendendo que existia uma grande diferença entre o que era produzido na área pelas empresas e agências de publicidade em Cuiabá em comparação ao que era desenvolvido nos grandes centros, ou seja, Rio e São Paulo. Certa vez perguntei em uma aula: “Professor, você que está no mercado há muitos anos, me fala uma coisa, a distância entre o mercado publicitário de mato grosso e o mercado de são Paulo tem diminuído ou aumentado ao longo dos últimos anos?” Ele me respondeu: “Se você fosse uma menina eu te dava um beijo na boca!”. A pergunta realmente foi boa. Rendeu alguns minutos de conversa. A conclusão que chegamos é que jamais o nosso mercado chegaria lado a lado com o que as grandes empresas fazem na terra da garoa, mas, naquela época, poderíamos dizer que se essa comparação fosse uma corrida de carros, o mercado de São Paulo já conseguia ver no retrovisor alguns players se aproximando. Curitiba, Recife, Fortaleza, Goiânia e Cuiabá com empresas e estruturas de marketing cada vez mais profissionalizadas e caminhando a passos largos.
Desde então essa comparação ficou no meu radar. Sempre gostei de olhar o nosso mercado em Mato Grosso e tentar entender onde estamos em relação ao mercado de São Paulo. Sou paulistano mas moro em Cuiabá há 28 anos. Portanto, essa relação entre as duas cidades é natural na minha vida. O que me faz estar presente tanto lá, quanto aqui. Dez anos se passaram daquela aula e no final dos anos 2010 era claro e evidente pra mim que a inteligência de marketing nas empresas e a criatividade das agências de publicidade em Cuiabá estavam cada vez mais niveladas em relação ao que víamos sendo desenvolvido no sudeste. Evidente que o fator “dinheiro investido” sempre desequilibrou a balança. Portanto a análise não pode ser feita olhando apenas para o que é veiculado na TV, e sim o conhecimento das estratégias, o olhar para o consumidor, a capacitação dos profissionais, expertise dos fornecedores e a maturidade dos empresários.
Mas aí, quando estávamos quase lá, veio o tal do marketing digital e chacoalhou todo o mercado. Links patrocinados, mídias sociais, content marketing, inbound marketing, marketing de performance, big data, automação, marketing preditivo, chat boots… Nessa corrida dos mercados o nosso de Mato Grosso mais uma vez ficou para trás. Como se fossemos pegos de surpresa por uma chuva e o nosso pneu não estava preparado para a pista molhada.
Cheguei ontem, 26 de outubro, de uma missão de inovação e benchmarking em São Paulo. Organizada pelo Sebrae Mato Grosso e a pela Confraria dos Profissionais de Marketing, a missão visitou diversas empresas de segmentos e tamanhos diferentes. Google, ESPM, Audi, Youse, Traianons, Eletrônica Santana entre outros. Apesar de serem empresas bem distintas, existe uma coisa muito forte em comum entre elas que vou chamar de MATURIDADE DIGITAL.
Enquanto aqui estamos engatinhando com geração de conteúdo e um pouco de mídia nas redes sociais, todas essas empresas visitadas usam ou oferecem ferramentas e estratégias de marketing para um ecossistema completo que cada vez mais é digital. A Audi, por exemplo, tem como meta atual usar 30% do investimento nos canais digitais e disse trabalhar para chegar nos 50%. Todas as concessionários no Brasil são obrigadas a seguir esse alinhamento Global. A Youse revolucionou o mercado das corretoras de seguros e montou uma empresa 100% online. Além de contar com uma agência terceirizada de Sac 2.0 (e.life), que responde e interage com os clientes nas redes sociais, dentro da Youse existe uma área enorme de marketing voltada exclusivamente para Branding e mais um profissional de performance em mídia online (adwords e Social Ads) para cada produto: seguro de casa, seguro de carro e seguro de vida. Já no caso da Eletrônica Santana, uma loja de componentes elétricos criada na década de 60 na região da Santa Efigênia, hoje fatura nove vezes mais vem pelo e-commerce do que na loja, investe pesado em Adwords através de uma agência especializada, acompanha cada centavo investido medindo seu retorno em vendas e produz internamente vídeos ensinando as pessoas a utilizarem seus produtos eletrônicos.
As empresas em Cuiabá até sabem da importância do digital. Por isso querem profissionais de marketing que entendam de tudo. Que por sua vez querem agências que façam tudo, criação, mídia, programação, monitoramento, estratégia e automação. E as agências procuram no mercado profissionais completos que também façam e saibam de tudo. E assim, nessa síndrome de pato vamos ficando para trás. Falta conhecimento, falta profissional, falta tecnologia, falta investimento… falta MATURIDADE DIGITAL. Professor, você que está no mercado há muitos anos, me fala uma coisa, a distância entre o mercado publicitário de Mato Grosso e o mercado de São Paulo tem diminuído ou aumentado ao longo dos últimos anos? Hoje vou dar essa resposta olhando o copo meio cheio. Na minha opinião já foi pior. Nos últimos dois anos começamos a retomar a nossa corrida. Mas certamente São Paulo já não nos enxerga mais no retrovisor. Ficamos para trás sim, ainda temos muito a desenvolver nessa área. E instituições como o SEBRAE, a CPM-MT e as universidades e escolas de treinamento são fundamentais nessa qualificação do mercado.
Leandro Magalhães – Consultor e professor de marketing digital. Bem Digital Marketing e Cursos.