Opinião

A CRISE

Olhei meu reflexo e quase caí pra trás: uma baleia, barba por fazer, rugas. Reflexo da atual fase econômica política brasileira: inchada, rastejante. Simplesmente decadente. Quanto mais se vive, mais perto da morte. Não sei se era reflexo de mim mesmo, ou se era reflexo dos nossos sentimentos. Sentimentos obesos que pesam as juntas da esperança. Sentimentos que fazem a gente estar onde está. E do jeito que está. 

– Nossa, como decaiu aqui. Antigamente aqui no Gaúcho era infinitamente mais gostoso – falo para Genésio, meu amigo, que balança em sinal positivo.
– É. A tal da crise chegou – responde da forma mais japonesa possível.

A crise. Aliás, é impossível dizer onde estaremos daqui a 10 anos. Se é que estaremos em algum lugar. Ou melhor, para onde mudaremos daqui a 10 anos. Mas pra onde? Marte é muito longe. Além da crise mundial, a Terra está ficando demodê, cor de areia, unicolorido. Tá ficando tom pastel. Não sei se pelo pastelão que virou a política, ou pelos eleitores pastéis, dos quais eu e você fazemos parte. Já que há 33 anos escuto a mesma história. Desmatamos e poluímos demais, e reflorestamos de menos. Mas temos sentimentos obesos. Sentimentos obesos que pesam a junta da esperança. Temos de ganhar mais. Temos de ganhar sempre. Temos de ser melhores do que os outros. Temos de ser executivos. Temos que destruir para construir, para depois destruirmos de novo. Mas isso até quando? Eu sei. Até quando tudo acabar. Pois eles também vão morrer, e o dinheiro deles também não servirá pra nada. 

– Oi, Gordo. A paradeira tá brava. Hoje é meu último dia aberto – dispara o Gaúcho, dono do restaurante, sentando na nossa mesa.

Demos uma longa pausa na conversa e respiramos profundamente os 3 juntos.

João Manteufel Jr.

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Mais conhecido como João Gordo, ele é um dos publicitários mais premiados de Cuiabá e escreve semanalmente a coluna Caldo Cultural no Circuito Mato Grosso.

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