Opinião

A CPI é um Circo

O espetáculo que a CPI da Covid nos oferece através de todas as mídias é deplorável. Ali políticos mal-educados, incivis e vulgares, agem com os interrogados como um policial truculento e malformado abordando um ladrão de extensa capivara, pego de novo em flagrante.

Esses parlamentares, que exigem serem tratados de excelências, não hesitam em chamar de mentirosas as vítimas indefesas. Indefesas sim, porque os valentes Senadores, tomados de brios, podem prendê-los se sentirem-se ofendidos.

Quarta-feira passada o relator Renan Calheiros, que aposta na visibilidade da Comissão para sair do ostracismo, quase consegue a prisão do interrogado Wajngarten. Isto lembrou-me a prisão do Celso Pita, que foi prefeito de São Paulo, na CPI do Banestado. Claro que não defendo nenhum dos dois, o que me chama a atenção é o prazer mórbido dos políticos de humilhar os que não podem se defender.

O Pita era uma cria do Paulo Maluf e tinha “Um defeito de Cor” – tomando emprestado o título do excelente romance da Ana Maria Gonçalves – e estava totalmente derrotado politicamente quando foi convocado. A sua inexpressividade, tal qual a do Wajngarten, aliada ao fato de ser negro (especulação minha) devem ter motivado o pedido de prisão. Fossem o Paulo Maluf (poderoso na época) ou o Paulo Guedes que mentissem na CPI, os senadores teriam coragem de pedir a prisão?

Neste circo chamado CPI os palhaços somos nós: uma parte bate palmas para a grosseria do Renan e sua turma (contra o governo) e a outra, aplaude o bronco Girão, que com seus aliados defendem o Bolsonaro. 

Mas esta comissão tem alguns detalhes diferentes. Creio que não busca municiar o processo de impeachment do Presidente Bolsonaro, mesmo porque me parece quase impossível, diante do apoio popular que ele tem.

O tempo é outro fator que conta: um processo iniciado hoje não terminaria antes de um ano. O da Dilma Rousseff, que não tinha mais apoio do povo, levou 10 meses.  Parece que na atual encenação, o Senado procura duas coisas: a primeira seria fragilizar o governo e cobrar caro para salvá-lo. O preço será pago em ministérios, cargos em todos os escalões, emendas parlamentares, cujo principal beneficiário, claro, será o Centrão.

A segunda, completando a primeira, quer o desgaste político do Presidente para que chegue enfraquecido nas eleições de 2022. Essa é a estratégia do PT, porque o sagaz líder do partido, prefere o Bolsonaro como adversário, pois julga ser mais fácil abatê-lo do que a um candidato que una centro e centro esquerda. Pesquisas divulgadas em 12/05 parecem confirmar a intuição do Lula, pois o colocam como vencedor em eventual segundo turno com larga vantagem.

Repetem-se, enfim, os velhos esquemas que conhecemos tão bem: o Presidente Bolsonaro está acuado pelo Parlamento e já abandonou de vez o discurso de combater a tal “velha política”, prometida lá atrás quando sonhava em governar apoiado não pelos partidos políticos, mas sim pelas bancadas tais como a da bala, a evangélica e a ruralista.

Claro que essa tese de ignorar os partidos foi um sonho ingênuo, inadmissível para quem estava na Câmara dos Deputados há mais de 28 anos.

Renato de Paiva Pereira – empresário e escritor

renato2p@terra.com.br

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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