Opinião

A CIVILIZAÇÃO DA PALHA

Na 9ª Primavera de Museus, o Centro Cultural Ikuiapá/Museu do Índio/Funai e o Museu da Imagem e do Som apresentam a exposição A civilização da palha: um tributo a Berta Ribeiro. Berta Ribeiro chegou ao Brasil em 1933. Anos depois, em um comício do Partido Comunista, conheceu Darcy Ribeiro e, junto a ele, realizou trabalhos entre os índios Kadiwéu, Kaiwá, Terena e Ofaié-Xavante, Mato Grosso do Sul. A década de 1950 trouxe a vivência no Museu Nacional da Universidade do Brasil.

O regime militar, marcado pelo exílio no Uruguai e na Venezuela, não imobilizou Berta Ribeiro. Seu interesse de pesquisa juntou-se ainda mais aos de Darcy Ribeiro para a publicação de Antropologia da civilização e A universidade necessária. A década seguinte trouxe o fim do exílio e do casamento com Darcy Ribeiro.

Referência no campo da etnografia e etnologia indígenas, Berta Ribeiro publicou  um conjunto de obras que, como as técnicas do trançado da palha, entrelaça a história da arte indígena e a história indígena à história do Brasil. De seu ofício, trançou um outro Brasil, um projeto de reconstrução da memória nacional.

Incontáveis linhas seriam necessárias para escrever sobre Berta Ribeiro e sua contribuição ao conhecimento dos povos indígenas. Mas, seu encantador biógrafo, Darcy Ribeiro, descreveu de maneira ímpar a sua “bela e doce” Berta: “uma menina comunista que tinha uma história heroica”. Em suas Confissões, acrescentou: “Berta alcançou o clímax da carreira ao fazer a sua tese de doutorado sobre os trançados, tema extraordinariamente complexo, que ela a denomina A civilização da palha. Graças a seu estudo, temos hoje uma tipologia e uma taxonomia desses artefatos, diferenciados em estilos culturais e modos de adaptação ecológica, bem como valorizados por sua significação simbólica e iconográfica”.

Berta deixou um legado ao Brasil! Um legado ainda à espera de reconhecimento. À espera de que o Brasil compreenda a rica oportunidade que a nossa Pindorama, a terra das palmeiras, oferta, como uma dádiva, em vivenciar a diversidade cultural indígena.

 

Anna Maria Ribeiro Costa

About Author

Anna é doutora em História, etnógrafa e filatelista e semanalmente escreve a coluna Terra Brasilis no Circuito Mato Grosso.

Você também pode se interessar

Opinião

Dos Pampas ao Chaco

E, assim, retorno  à querência, campeando recuerdos como diz amúsica da Califórnia da Canção Nativa do Rio Grande do Sul.
Opinião

Um caminho para o sucesso

Os ambientes de trabalho estão cheios de “puxa-sacos”, que acreditam que quem nos promove na carreira é o dono do