Internacional

A cada cinco minutos, a violência mata uma criança no mundo

Lucas* tinha oito anos. Eu sempre o encontrava, todo esperto, com um sorriso no rosto, brincando por aqui e por ali, adorando visitar minha família, junto de sua madrinha, Heloísa*, amiga da família, também sempre presente. Eu ainda era uma adolescente, cheia de sonhos e expectativas. Lucas era apenas uma criança, cheia de sonhos e expectativas também.

Até que aquele dia nublado, chuvoso em nossos corações, aconteceu.

"Ana, o Lucas foi estuprado por outros cinco meninos mais velhos", disse minha mãe, em tom grave.

Revoltante. Lucas tinha somente oito anos.

Foi o primeiro caso da cruel violência contra pessoas tão vulneráveis, como só as crianças podem ser, com que tive contato. Heloísa se lembra de como foi difícil para todos da família aceitarem – e ainda é, mesmo tendo se passado dez anos. Especialmente para a mãe de Lucas, Alana*, que estava tão próxima do filho quando tudo aconteceu.

O menino foi abusado sexualmente em sua própria casa pelo grupo de adolescentes que tinham entre 12 e 14 anos. Ele teve mãos e pernas amarradas e uma fita colocada em sua boca, não podendo gritar por socorro. E, na verdade, nem gritaria, assim como não gritou depois de tudo acontecer. Lucas não disse uma só palavra a ninguém. Não desabafou por ter sofrido a invasão de seu corpo, de sua infância, se sua inocência.

"Ele era uma criança ativa, esperta. Hoje é recluso, não conversa muito. Não fala nada sobre isso, nunca aceitou continuar com a terapia", conta Heloísa.

Segundo a tia e madrinha, foi um vizinho da família quem desconfiou do crime por flagrar os meninos saindo da casa de Alana de forma desconfiada, rápida, ainda ajeitando as calças. Ele contou para o avô do menino, que informou a mãe, que contou para o pai – que achou que Lucas tinha feito "por vontade" e ficou um pouco "desconfiado da inocência" do menino de apenas oito anos. Depois de tudo descoberto, Lucas confirmou o ocorrido, mas com a voz de culpa (sentimento comum que as crianças tenham em situações como ess, por não entenderem que são vítimas e não são responsáveis pela violência sofrida).

Menina sorri em escola no Iraque
Na época, Lucas teve de ir ao juiz, à delegacia, à terapia por cinco meses. Mas nada para ele foi pior do que continuar a ir à escola: os seus abusadores estavam lá. Ameaçavam-no. Depois de alguns poucos anos, desistiu de estudar. Então, foi assim que a vida dele, de menino simples do subúrbio de uma pequena cidade em Minas Gerais, mudou para sempre. E ninguém ficou sabendo, não foi divulgado, muito menos noticiado. Lucas, afinal, era apenas mais uma das vítimas do abuso sexual no mundo.

A história de Lucas me toca, pois conheço seu sorriso, sua história, sua família. Mas, em todo o mundo, outros milhões de meninos sofrem isso todos os dias. Provavelmente, enquanto escrevo, crianças têm sua infância destruída. Segundo dados da ONU, 4% de meninos em todo o planeta já passaram pela mesma tragédia de Lucas. E, entre as meninas, a coisa ainda é pior: são 120 milhões que já vivenciaram alguma forma de violência sexual. O que quer dizer que 1 em cada 10 meninas já foi abusada.

Para piorar as esperanças, esses números são calculados em cima de casos relatados. Entre 30% e 80% dos menores abusados não divulgam experiências de violência até a idade adulta.

Além disso, o abuso sexual é apenas uma das faces da agressão contra a criança, segundo uma classificação feita pela Unicef, que aponta as violências física, emocional, negligência emocional, ‘disciplinar’ e tratamento negligente.

Fonte: Terra

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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