Opinião

A Arrogância da Anvisa

A Anvisa existe há mais de 20 anos e nós nunca nos preocupamos com ela. Discreta, como convém a um órgão técnico, sempre exerceu sua atividade com eficiência, longe das pressões do povo ou da imprensa.

Mas, eis que de repente o País muda com a chegada da Covid, que vai gulosamente comendo vidas e espalhando a pobreza. Nessa circunstância o órgão de vigilância sanitária ganhou destaque, porque dele depende a aprovação das vacinas que têm o dom de vencer esse bichinho maldoso e insaciável.

Creio que a Anvisa continuou a agir com os mesmos critérios científicos que lhe deram prestígio nesses anos de existência, gastando o tempo que julga necessário em cada análise, alheia à ansiedade dos que aguardam a publicação dos resultados.

Como todo órgão público que se preza, deve ter um rígido código de conduta, principalmente por regular uso de medicamentos potenciais  causadores de males à população.

Certamente seus técnicos são treinados a não se desviarem um só milímetro dos manuais e a não deixar de observar nenhuma norma, por mais irrelevante que possa parecer aos leigos.

Assim, enquanto nós nos desesperamos aguardando a aprovação de uma vacina, eles devem estar trabalhando com a disciplina de sempre, desobrigados de acelerar processos, cumprindo com exatidão cada etapa que seu treinamento exige.

A vacina sob análise no momento é a Sputinik V, que segundo a Agência não apresentou todas as informações necessárias para ser aprovada e por isso não pode ser aplicada no Brasil.

Nós os leigos que nos abastecemos de notícias na imprensa, estamos convencidos de que esse imunizante seria utilíssimo ao País, nesse momento que faltam doses e que, por conta disso, só vacinamos pouco mais de 15% da população com uma aplicação e nem chegamos a 8% com duas injeções.

Mas essa é a nossa posição, certamente diferente  da dos técnicos, os quais não se interessam pela informação de que mais de 60 países no mundo vem utilizando a Sputinik V com sucesso. Eles estão firmes na sua posição de não se contaminarem com a pressão popular, mas sim seguir à risca as normas tradicionais.

 Será que devemos culpá-los por serem técnicos tão exemplares ou podemos demonizá-los pela lentidão, diante da urgência que a doença impõe?

Alguns acham que eles devem manter o seu padrão de qualidade e que circunstâncias adversas e passageiras não podem interferir no trabalho. Outros, opinam que o salvamento de vidas justificariam a flexibilização de algumas normas, principalmente as de natureza burocrática.

Não custa lembrar que se eles descumprirem qualquer norma a que estão sujeitos e acontecer um acidente, haverá pessoas dispostas a processá-los, sem contar o Ministério Público, sempre pronto a incriminar transgressores. 

Minha opinião é que os diretores e gerentes da Anvisa têm formas de ajudar no salvamento de vidas sem se comprometerem. A principal delas seria deixar de lado as “togas” de arrogantes julgadores, trocando-as por simpáticos “jalecos” da empatia.

Poderiam, por exemplo, abandonar a empáfia de apontar erros e omissões dos fabricantes e em seguida lavar as mãos, por um atitude colaborativa de ajudar na superação de cada dificuldade, à medida que aparece.    

Renato de Paiva Pereira – empresário e escritor

renato2p@terra.com.br

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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