Muitas vezes nós leigos não conseguimos entender as atitudes dos burocratas ou dos cientistas. Não cabe em nossa cabeça de pessoas ansiosas pela chegada da vacina contra o Coronavírus, que os testes necessários para a aprovação final e consequente distribuição para a população, sejam interrompidos por um acidente de percurso. Eis que um participante que recebeu a vacina (ou placebo, não se sabe ainda, mas não importa) suicidou-se em 29 de outubro e por conta dessa morte a Anvisa mandou parar a aplicação da vacina experimental.
A atitude, segundo ela, foi tomada porque as informações do óbito eram incompletas. Se era esse o motivo, não seria melhor pedir os dados faltantes, antes de causar um dano tão grande? Bastava aguardar mais algumas horas e a suspensão dos testes seria totalmente desnecessária, pois 15 horas após a precipitada atitude a imprensa descobriu que o óbito não tinha nada a ver com a vacinação do voluntário.
Agora depois da sujeira feita, os cientistas voltam atrás e autorizam a retomada dos testes. Acontece que o mal já foi feito: a Anvisa conseguiu colocar mais uma pitada de dúvida sobre a vacina chinesa.
Ela afirmou que quando tomou a decisão ainda não sabia que o voluntário havia tirado a própria vida. Ora, se algumas horas depois os técnicos ficaram sabendo da verdadeira causa da morte, qual o problema de voltar atrás e revogar a decisão imediatamente? Não havia razão para demorar mais de um dia em um assunto que exige tanta urgência.
Mas não é só a atitude dos cientistas que nos assusta. Custa-nos assimilar a euforia do Presidente Bolsonaro diante do insucesso (rapidamente desmentido) da vacina Coronavac. Nas redes sociais, na terça-feira antes de saber que a morte do voluntário não tinha relação com a vacina, ele comemorava o fracasso da “Vacina do Dória”.
“Mais uma que o Jair Bolsonaro ganha”. Disse ele nas mídias sociais, desnudando seu caráter mórbido, que troca mortes de brasileiros pela reeleição.
Além dessa insensatez e descaso com vidas, o presidente deu outros sinais que preocupam. Parece que ele está perdendo totalmente a noção do ridículo, se é que já teve alguma.
No mesmo dia ele pede que o Brasil deixe de ser um país de maricas com medo da Covid, numa afronta aos cento e sessenta mil que morreram pela doença e ao “marica” general Pazzuelo, que quarta-feira (11/11) declarou que está tendo dificuldade de voltar ao normal, depois da covid.
Não satisfeito com as “bolsonaradas”, manda um recado ao presidente eleito dos Estados Unidos sobre a soberania da Amazônia, avisando que “quando acaba a saliva, tem que ter pólvora”. Arroubo infantil, ridículo e ingênuo, porque nossa “pólvora” é pouco mais que um estilingue contra as forças americanas.
Para completar o Presidente volta a desacreditar a nossa Urna Eletrônica, exaustivamente testada e garantida pelo TSE, TREs e órgãos de segurança eleitoral. Tal qual o narcisista Trump, ele se prepara para por em dúvida eventuais resultados desfavoráveis nas próximas eleições.
Minha esperança é que esse episódio da interrupção dos testes da vacina tenha sido simplesmente uma manifestação de arrogância dos cientistas; mas não tenho nenhuma expectativa quanto à melhora dos destemperos do Presidente.
Renato de Paiva Pereira – empresário e escritor