Este artigo sobre agropecuária é baseado em observações feitas nestes mais de 70 anos que perambulo pela terra. Para falar sobre o assunto tenho alguma bagagem, ou, para usar o chavão atual “estou em lugar de fala”: nascido em uma fazenda de café e leite no sul de Minas Gerais, participei do dia a dia da roça até os 14 anos. Algum tempo depois, já na fase adulta, trabalhei como fiscal da Carteira Agrícola do Banco do Brasil, onde pude ver o início da mecanização no noroeste do Paraná.
Era uma época em que o agropecuarista tinha status elevado. Ainda não havia prosperado no Brasil a campanha difamatória nascida nos meios artísticos e intelectuais de esquerda que chegaria ao absurdo, como ainda é hoje, de classificar o produtor rural como vilão da natureza e envenenador da população. Ajudou a criar essa ideia desfavorável ao agricultor o desenvolvimento do Centro-Oeste brasileiro por meio de tecnologia, transformando os pequenos proprietários vindos do sul em prósperos empresários. Alguns por inveja, outros por total desconhecimento apressaram-se a inundar a mídia de notícias alarmantes sobre a degradação da natureza e o envenenamento por hormônios e antibióticos das carnes e do leite.
Creio que foi neste momento que passaram a usar o termo “agronegócio” que deu munição aos urbanos para separar os agricultores em dois grupo distintos: de um lado os “heróis” da agricultura familiar e orgânica e, de outro, os “nefastos” produtores empresariais. Não sabiam, e ainda não sabem, que há espaço suficiente para ambos os seguimentos, cada um explorando o seu mercado sem concorrência direta entre si.
Também desconhecem que só é possível alimentar os oito bilhões de bocas do planeta porque houve pesquisas e investimentos de governos e da iniciativa privada melhorando geneticamente os animais, potencializando a capacidade produtiva das plantas, transformando os campos improdutivos em áreas férteis com insumos inovadores e desenvolvendo máquinas cada vez mais eficientes.
Testemunhei essa transformação. Vi a soja dominar o cerrado de Mato Grosso; o milho produzir colheitas inimagináveis, o algodão bater recordes de produção e a pecuária modernizar-se. Revoltado – porque tenho um vínculo sentimental com o campo – observei também que a imprensa acompanhava a ingenuidade e arrogância de artistas e intelectuais malhando os ruralistas, à medida que eles prosperavam.
Renato de Paiva Pereira
Hoje o agronegócio representa 25% do PIB brasileiro, Mato Grosso tem a 3ª melhor taxa de desigualdade do Brasil medida pelo índice de GINI e somente 2% dos produtores não respeitam o código florestal.
A Folha de São Paulo, com 30 anos de atraso, está publicando uma série de reportagens sobre nossa agropecuária: “O Poder do Agro”. Não creio que este jornal tenha se convertido ao liberalismo econômico, é que não é mais possível ignorar a importância do campo que a grande mídia teimava em negar.