Com Cátia Alves
Na última audiência de instrução do ano de 2016, o réu ex-servidor Fábio Frigeri negou as acusações. Em depoimento a juíza Selma Arruda, ele disse que todas as acusações são falsas tanto as referentes às fraudes em licitações, quanto a de que ele teria integrado uma organização criminosa.
Figeri foi ouvido, na tarde desta sexta-feira (16), pela ação penal decorrente da Operação Rêmora, que investiga fraudes e propinas em licitações na Secretaria de Estado de Educação (Seduc).
Frigeri recuou do acordo de delação premiada que iria fazer junto ao Ministério Público Estadual (MPE) e o motivo seriam ameaças recebidas para não revelar detalhes do esquema de corrupção que tem conhecimento. "Ele [Guizardi] disse que todos tinham família lá fora. Depois ele falou dos nossos filhos e eu fiquei muito preocupado, me calei e não discuti. Na última vez ele me chamou ao quarto dele e disse que tinha contratado quatro detetives que tinham levantado os horários e as rotinas de todos que estavam no processo, inclusive do Ministério Público. Ele relatou até que um promotor buscava a namorada na UNIC (Universidade de Cuiabá) e os horários que isso acontecia. Eu só escutei calado, não disse nada”.
Durante seu depoimento a Juíza Selma Arruda e ao Ministério Público Estadual (MPE), o ex-assessor falou sobre sua função na Secretária de Educação e que, ao contrário do que afirmou o empresário Guizardi em sua colaboração premiada, ele não foi indicado para assumir um cargo na Seduc pelo então deputado federal Nilson Leitão (PSDB), mas sim pelo ex-secretário da pasta Permínio Pinto.
“Ele disse que eu entrava em contato com empresário é mentira, por que eu só falava com empresários a pedido dele e do Permínio”. Bastante emocionado, Frigeri chorou por duas vezes ao falar da família. Ele pediu desculpas e disse que seu erro foi ser omisso as coisas que aconteciam. Ele afirma que apenas cumpriu ordens de seu superior, no caso Permínio Pinto.
A Operação Rêmora foi deflagrada pelo Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado (Gaeco) no dia 3 de maio. Naquela ocasião Frigeri ainda era servidor comissionado na Seduc e foi preso por determinação da juíza Selma Rosane.
Ele ocupava cargo comissionado na Seduc com salário de 9,3 mil e era assessor direto do então secretário de Educação, Permínio Pinto, que também foi exonerado do cargo um dia depois da Operação Rêmora. As investigações do Gaeco apontaram que Frigeri, dentro da organização criminosa, integrava o núcleo dos agentes públicos que tinha outros 2 funcionários públicos da Seduc.
Acompanhe aqui o depoimento:
14h18 – Com uma hora de atraso, o depoimento de Frigeri começa na Vara Contra o Crime Organizado da Capital. Logo, o ex-assessor pede que todos tenham paciência, pois ele está “há meses trabalhando neste caso”. Ele alega que as acusações são todas falsas quanto às fraudes nas licitações e de que ele teria integrado uma organização criminosa.
14h25 – Frigeri explica que foi indicado pelo ex-secretário de educação, Permínio Pinto para ocupar o cargo de assessor. “Já existia uma indicação política para que eu ocupasse um cargo na pasta de Engenharia, não sei se por ele [Permínio] confiar em mim ou pelo cargo que eu tinha lá dentro, me nomeou como assessor dele”.
14h39 – A juíza, Frigeri conta que atuou até ser exonerado, no entanto nesse meio tempo foi apresentado ao Guizardi pelo Alan Maluf. "Ele foi me apresou [Guizardi] como um membro do grupo do governo". Segundo Frigeri, Guizardi falava que precisava montar um grupo político para ajudar a sanar débitos de campanha.
14h42 – Ele diz que o primeiro empresário que o procurou, disse que tinha falado com Giovane e não concordava com a forma que estava sendo tratado. "Eles disseram que estavam sendo tratados de forma grosseira e ríspida. Ele era muito agressivo, eu identifiquei isso após trabalhar com ele algum tempo. Eu contei ao meu superior [Permínio] sobre as agressividades e os constrangimentos que Guizardi fazia os empresários passar."
14h47 – Frigeri afirma que foi procurado por um segundo empresário que alegou a mesma coisa. Guizardi estava o tratando da mesma forma que o primeiro já havia narrado. “Esse empresário até entendia a situação, porque ele já estava no ramo há muito tempo, já tinha participado de outras campanhas e que não via problema nenhum em ajudar, mas ele não concordava com a forma como ele, como empresário, estava sendo tratado”. Frigeri disse que ficou preocupado e levou a questão até o ex-secretário Permínio. “Procurei o secretário e ele se mostrou chateado porque achou talvez, que eu percebi, que ele não havia solucionado alguma coisa. Eu não sei se ele buscou resolver alguma questão, mas ele se mostrou assustado porque ainda estaria acontecendo isso”.
** O segundo empresário citado por Frigeri, era Ricardo Augusto Sguarezi, proprietário da empresa de Sguarezi é a Aroeira Construções LTDA.
14h51 – Neste momento, com a voz embargada, o ex-assessor pede desculpas por ter sido omisso. "Naquele momento eu não tinha visto que eu havia sido omisso. Quando chegava alguma reclamação na secretária eu não tinha nenhum subordinado, eu tinha apenas alguém acima de mim. Então eu só levava as informações até eles”.
14h58 – Frigeri diz à juíza que sua única renda era o salário que recebia na Seduc e a renda privada (ele não disse qual seria). “Nunca foi prometido vantagens nem recursos. Nada, absolutamente nada”. A única promessa que o secretário teria feito a Frigeri seria uma mudança no cargo. “Eu poderia estar no segundo nível. Onde eu deixaria de ser um auxiliar e passaria a uma pessoa com um cargo diferenciado”.
15h05 – Após a conversa com o secretário, Frigeri voltou a falar com o empresário e o tranquilizou dizendo que o secretário tomaria providências. “Nós não entediamos o porque o Giovani teria se desviado tanto do foco, por ele queria juntar um grupo político para pedir patrocínio para campanha”.
15h12 – Neste momento Frigeri cita um terceiro empresário, porém diz não recordar o nome apenas que era muito educado e o tratou muito bem. “Eu quero falar dele, pois ele me levou as mesmas reclamações dos outros dois empresários, porém ele disse que conhecia o Guizardi desde pequeno e as coisas que me disse sobre ele me deixaram bem assustado”. Frigeri diz a juíza que o homem afirmou que Guizardi era bipolar. “Ele me disse que ele era bipolar, fazia uso de remédios controlados e drogas ilícitas”.
15h26 – Ele interrompe a confissão e se emociona, pois começa a falar que se sentiu muito prejudicado por todos que já fizeram delação. “Meu filho, perguntou a mãe porque falavam que o pai dele era líder de uma organização criminosa. Esses empresários que vem até aqui, mentem sobre o recebimento de cheques. Eu parei de participar das audiências doutora, porque estavam tirando sarro da minha cara”.
15h39 – Frigeri volta a afirmar que não faz parte de organização criminosa e que apenas fiz o que lhe foi ordenado. “Entrei em contato com os empresários, não tinha como eu barrar o Giovani”.
15h42 – Neste momento ele fala sobre a proposta feita pro Alan Malouf. “Alan fez uma proposta para mim, perguntando se eu tinha condições de aceitar o lugar do Guizardi e explicou vários critérios que eu teria que seguir para entrar no lugar. Eu fiquei paralisado quando ele me disse o valor a ser ressarcido e não aceitei. Isso não é coisa pra mim. Foi então que ficou definido que as atividades do Giovani iriam parar".
15h50 – “Desde o dia em que eu fui preso eu fiquei muito assustado. Perdi meus dois empregos e só não passei por dificuldade porque minha família me ajuda muito”. Frigeri fala que não acredita ter sido omisso porque apenas ‘reportou ao seu superior’.
16h – Após a prisão, Frigeri disse que foi ameaçado quatro vezes por Guizardi. “Ele [Guizardi] disse que todos tinham família lá fora. Depois ele falou dos nossos filhos e eu fiquei muito preocupado, me calei e não discuti. Na última vez ele me chamou ao quarto dele e disse que tinha contratado quatro detetives que tinham levantado os horários e as rotinas de todos que estavam no processo, inclusive do Ministério Público. Ele relatou até que um promotor buscava a namorada na UNIC (Universidade de Cuiabá) e os horários que isso acontecia. Eu só escutei calado, não disse nada”.
16h08 – Relata ainda que durante seu depoimento ao MP, o promotor de Justiça Marco Aurélio teria chutado a mesa, a porta e batido na mesa, de modo que não se sentiu seguro. “Meu advogado falou que se continuasse daquele jeito não iria depor nada, as coisas foram se amenizando”.
16h10 – A juíza pergunta por que Guizardi teria mentido em depoimento e o que seria mentira. Frigeri diz que a indicação dele não foi por Leitão e sem por Permínio. “Ele disse que eu entrava em contato com empresário é mentira, por que eu só falava com empresários a pedido dele e do Permínio”.
Neste momento ele fala que Guizardi disse que Juliano Haddad foi indicado para o cargo por indicação de empresário e que isso seria mentira. “Juliano foi escolhido através do currículo profissional, por ter sido professor de engenharia”, explica Frigeri.
16h16 – O Ministério Público começa os questionamentos. O promotor de Justiça, Marcos Bulhões, passa a fazer perguntas. Ele questiona uma ligação telefônica para o “mote”. “Eu já esclareci isso mais vou dizer novamente. Era o servidor contratado Carlos Roberto Montenário. Ele foi uma indicação do secretário”.
16h20 – O MP questiona sobre os aparelhos de telefone e chips que Giovani disse ter usado. "Sim. Ele deixou dois aparelhos e eu levei pro meu superior, mas ele não disse nada. Eu não fazia uso desses aparelhos. Normalmente ficava na mochila ou dentro do carro”.
Qual era o motivo dos celulares, questionou o MP. Frigeri responde que o segundo aparelho era para o caso dele precisar me ligar. "Ele nunca chegou a ligar. Acredito que as três vezes que ele me ligou foi no primeiro aparelho, no segundo não teve ligação nenhuma".
16h30 – Neste momento o MPE encerra os questionamentos. Frigeri é questionado por um dos advogados sobre o depoimento de Guizardi onde o empresário diz que o ex-assessor teria a função de tumultuar as licitações. “É um absurdo isso. Isso nunca aconteceu”.
16h33 – Fim do depoimento.