Era a primeira vez que eu ia ao Parque Antártica. Como não conhecia muito aquela parte da cidade, meu primo mais velho, Gilson, corinthiano roxo, iria me acompanhar. Tava na cara que ia dar muito certo. Em Sampa o transporte funciona. Saímos de Diadema, às margens da represa Billings, e fomos de ônibus até o terminal Jabaquara. Em Jabaquara pegamos o metrô e fomos até a estação Barra Funda. Fomos a pé até o estádio. Tudo muito tranquilo. O jogo já não valia muita coisa. . Estávamos em 1996, escutava no Walkman How Bizarre, How Bizzare, e ainda fumava igual um louco. Só tinha mais um cigarro. Em volta do estádio vários bares palmeirenses. Atravesso a rua para comprar cigarros e dou de cara com quem: Zinho. O tetracampeão Zinho. Na hora pedi pra me dar um autógrafo na minha carteira de cigarros quase vazia. Compramos ingresso e fomos para a arquibancada. Um estádio muito modesto, é verdade. Nem de longe honrava a história do recente bicampeão brasileiro Palmeiras. Sentamos próxima à torcida do Palmeiras. Um menino, do outro lado da grade me pede um cigarro.
– Não vai Junior. Essa torcida só tem marginal.
Corinthiano e suas manias. Claro que não dei bola para meu primo e fui até lá. Na grade dou um cigarro para o moleque, e aparece outro.
– E aí? Vocês não querem comprar um autógrafo do Zinho?
– Não, queremos mais um cigarro.
– Pô, fuma vocês dois esse aí!
– Que foi o cabeçudo? Tá tirando?
E plooff!!!! O cara me dá uma catarrada na cara. Sem nem pestanejar, devolvo a cusparada. Grande erro. Era a Mancha. Em segundos, mais de 30 pessoas me jurando de morte, arremessando garrafas, isqueiros o que fosse. Me jurando de morte. Nem o Gol de falta de Flávio Conceição acalmou os ânimos. Meu primo desesperado e puxa pelos braços e grita:
– Vamos agora! Vamos Agora!
A essa altura os 30 já eram 100. Saímos correndo em direção a um guarda que estava vendo o jogo. A multidão do outro lado corre também. O guarda sorrateiramente se nega a ajudar. A multidão correndo menos de 30 metros. Eu e Gilson corremos tanto que chamou atenção de uma guarda mulher.
– O que foi meninos?
Não precisamos nem responder. A tenente avista a multidão correndo em nossa direção. Rapidamente saca uma arma e nos empurra uma porta adentro. Passamos rapidamente por um corredor e entramos numa sala maior. Era o Vestuário do visitante. Lá apenas um jogador com gelo no joelho.
– Podem ficar tranquilos. Aqui ninguém entra. Ou melhor, vamos ficar comigo dentro do ônibus do Inter.
Era Caio Júnior. Ficamos conversando com ele até começar a chegar o restante da delegação do Inter. Saímos do ônibus, tudo calmo. Mesmo assim eu e Urso, apelido do meu primo pelo seu tamanho, fomos correndo igual malucos até o ponto de táxi mais próximo.
– Junior. Nunca mais saio com você pra jogo nenhum.
Promessa que cumpre até hoje.