Lucas Rodrigues/ Midia News
O empresário Giovani Guizardi, em colaboração premiada firmada com o Ministério Público Estadual (MPE), afirmou que as fraudes na Secretaria Estadual de Educação (Seduc) teriam o intuito de pagar o investimento de R$ 10 milhões feito pelo empresário Alan Malouf, sócio do Buffet Leila Malouf, na campanha do governador Pedro Taques (PSDB), em 2014.
A informação consta no depoimento prestado pelo empresário, dono da Dínamo Construtora, no dia 16 de novembro. A oitiva foi feita no Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco). Guizardi foi preso em maio deste ano, durante a Operação Rêmora, sob a acusação de gerir o esquema de fraudes em licitações e propina na secretaria.
Ele foi solto nesta semana e passou a cumprir prisão domiciliar, após firmar a delação.
De acordo com a delação, a organização criminosa foi montada em 2015, com o objetivo de arrecadar "fundos ilícitos" para saldar pagamentos não declarados em campanhas eleitorais ocorridas no ano de 2014.
"Que pela visão do declarante não foi ele quem criou a referida organização, mas que se viu envolvido a participar do que abaixo relatará através da pessoa de Alan Malouf".
O dono da Dínamo disse que conhece Alan Malouf desde criança e que é casado com Jamille Guizardi, prima do sócio do buffet.
Guizardi contou que quando Alan Malouf o inseriu no esquema, já existia uma organização criminosa na pasta, que contava com a participação do então secretário Permínio Pinto, do ex-servidor Fábio Frigeri e dos empreiteiros Leonardo Guimarães e Ricardo Sguarezi.
"Que no final do ano de 2014, Alan Malouf mencionou ao declarante que investiu a quantia de R$ 10 milhões na campanha do atual Governador Pedro Taques, valor este não declarado, tendo dito também que teria que recuperar esse valor investido junto ao Estado".
Doação a Taques
O empresário disse que, possivelmente no segundo semestre do ano de 2014, fez uma doação de R$ 300 mil para a campanha de Taques, "valor esse que foi entregue em espécie nas mãos da pessoa de Alan Malouf".
"Que indagado ao declarante por qual motivo fez essa doação de R$ 300 mil, respondeu que tem o costume de fazer esse tipo de doação para não ter 'dificuldades' nas atividades junto ao Governo e que essa prática é comum entre os empresários, ressaltando que chegou a doar R$ 1 milhão na campanha de Silval Barbosa. Que não sabe informar se esse valor de R$ 300 mil foi declarado".
Guizardi contou que procurou Alan Malouf em março de 2015, ocasião em que pediu que sua empresa pudesse trabalhar em obras da Seduc, "pois segundo o declarante, este nunca teve obras na construção civil em tal secretaria".
"Que na mesma época, e tendo interesse em trabalhar na referida pasta, Alan Malouf marcou um encontro junto com o declarante com o então Secretário de Educação Estadual, Permínio Pinto Filho; que tal encontro ocorreu no Buffet Leila Malouf, de propriedade da família de Alan Malouf, localizada na Rodovia que liga Cuiabá ao Distrito da Guia, logo após o Colégio Plural".
"O encontro teria ocorrido em dia de semana, próximo ao horário de almoço, ou seja horário de almoço de Permínio; que neste encontro se faziam presentes apenas o declarante, Alan e Permínio; Que naquela oportunidade, o declarante e a pessoa de Permínio foram apresentados, e o declarante se colocou à disposição da Seduc em relação a eventuais obras que poderiam ser licitadas e que tinha interesse em concorrer".
Naquel momento, Permínio teria dito a Guizardi que os projetos das obras ainda estavam em fase de elaboração e que tinha algumas demandas mais específicas, como a questão de manutenção de prédios escolares, tendo perguntado ao empreiteiro se ele tinha conhecimento desta área.
"Que o declarante asseverou que não tinha conhecimento específico, mas que se colocou à disposição para pesquisar o que havia no mercado".
"Retorno" de campanha
Após a reunião, Guizardi relatou que procurou o então superintendente de estrutura escolar da Seduc, Wander Luiz (também réu da ação), para conversar sobre as obras.
"Que o declarante manteve vários contatos telefônicos com Wander, sendo que um mês após, em outra visita na sede da Seduc, questionou Wander sobre as obras que seriam licitadas em relação ao citado órgão; que Wander afirmou que estaria tendo dificuldades com os projetos, ocasião em que o declarante informou ao Wander que as pessoas que teriam investido na campanha do Governador Pedro Taques teriam que receber o dinheiro que haviam investido; Que Wander, no decorrer dessa conversa, teria entendido que a pessoa que investiu na citada campanha seria Alan Malouf".
Guizardi disse que Wander se mostrou surpreso com a declaração, uma vez que, conforme o então servidor, o secretário Permínio Pinto e o ex-servidor Fábio Frigeri já estavam recebendo dinheiro do esquema.
"Que o próprio Wander citou que as empresas Aroeira Construtora Ltda e Relumat, ambas de propriedade de Ricardo Sguarezi, bem como a empresa JER, de propriedade de Leonardo Guimarães Rodrigues, já estavam "operando" com o secretário Permínio Pinto, sendo entendido pelo declarante que haviam pagamentos de vantagens indevidas, propina. Que, naquele mesmo dia, o declarante solicitou à Wander que verificasse "como estava sendo essa operação".
Porcentagens de propina
Dias após a reunião, Guizardi disse que se encontrou novamente com Wander Luiz – em março ou abril de 2015 – para saber como funcionava o esquema.
"Wander afirmou que essa "operação" havia ocorrido da seguinte forma: solicitaram, de forma antecipada, 5% de propina do valor total, em relação a um dos contratos de prestação de serviços da empresa Aroeira e da empresa JER, sendo que essas obras sequer tinham sido executadas na sua totalidade".
Apesar de Wander não ter mencionado quem havia pedido o pagamento de propina antecipada, Guizardi entendeu que se tratava do então secretário, "pois o pessoal da Aroeira tinha acesso direto ao Permínio".
"Que Fábio Frigeri também relatou ao declarante que o Ricardo Sguarezi pagava um percentual de 15% de propina sobre o valor de contratos de locação de salas de aula com a empresa Relumat, sendo que o valor girava em torno de R$ 27 mil a R$ 30 mil de propina por mês e, segundo Fábio, eram entregues diretamente a ele ou ao Permínio".