Política

Xavantes prometem retomada de bloqueio e ameaçam queimar ponte

Os índios Xavantes, do município de Geral Carneiro, prometem bloquear a BR-070 e queimar a ponte do rio Sangradouro (MT-160) nos próximos dias em protesto a morte de dois indígenas. Após o luto, que dura uma semana e meia, os protestos devem ter início, e devem duram 50 dias.

Os indígenas estão de luto pela morte do Cacique Marino Tsimhone, 78 anos, que morreu na quinta-feira (24) e pelo estudante Benedito Xavante, 18 anos, morto na terça-feira (22), ambos atropelados. 

Ao todo, sete índios da etnia já morreram vitimas de atropelamento na BR-070 que liga Cuiabá a Barra do Garças. O Circuito Mato Grosso conversou com exclusividade com o Cacique maior, Alexandre Pseerppse, que relatou a revolta da aldeia. 

“Nós não somos animais para as pessoas passarem por cima da gente. Não respeitam o índio. Passam por cima do índio e não prestam socorro. Eu vou queimar a ponte e interditar a BR por 50 dias. Ninguém vai passar”, avisou o Cacique maior. Os xavantes já pediram a PRF que entre em contato com a superintendência do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) para pedir uma reunião com autoridades federais e estaduais.

O Cacique reforça que é necessário a presença do governador Pedro Taques (PSDB) para tratar da questão. “Eu gostaria de chamar a pessoa de ONU lá dos Estados Unidos, para olhar os povos indígenas, quero chamar eles, porque se um dia aparecer guerra, o Brasil vai perder”, disse. Os Xavantes ficarão em luto por uma semana e meia e só depois deverão protestar contra as mortes.

O professor e vereador, Bartolomeu Patirá (PP), revela que muitas outras pessoas fazem vandalismo, e culpam os indígenas.  “A nossa ideia é fechar a estrada e não deixar que tenha a recuperação, porque a estrada é Federal e a DNIT não está cumprindo com o compromisso que foi feito no projeto para fazer uma ciclovia e a redução de velocidade. Foi colocada uma lombada eletrônica, mas os caminhoneiros tiraram e acusam o índio de tirarem para poder assaltar os caminhões. Mas isso é mentira, pois generalizam, sempre sujando a imagem do indígena e hoje as coisas mudaram. A gente está acompanhando a transformação da humanidade não somos da época da pedra”, desabafou o professor.

A solicitação feita pela etnia é que sejam feitas lombadas, para que haja a redução de velocidade nas estradas das áreas indígenas. “A área indígena é grande, Sangradouro é muito grande, temos 42 aldeias dentro da área. Então nós gostaríamos que o Governo Federal, DNIT principalmente, faça alguma coisa ou venha até a aldeia fazer uma reunião. Nós precisamos que eles nos entendam para que a gente possa entender eles na questão governo, pois a estrada é federal. A gente é humano, não é bicho, vocês também é humano. Tem que entender o que é bom para os dois lados, bom pra vocês e bom pra nós”, explicou o vereador. 

MORTES

Bartolomeu Patirá (explicou que o jovem Benedito estava voltando para a escola, em uma motocicleta, quando uma caminhonete bateu contra o veículo. O motorista fugiu do local sem prestar socorro e foi perseguido pelos índios. Os indíginas estão em posse do veículo que matou o amigo, e prometem incendia-lo como demonstrar revolta do povo.

O professor Oswaldo Buruwé que está acompanhando o luto dos Xavantes contou que o jovem Benedito não tinha problemas com álcool nem drogas e que isso foi atestado no Certificado de óbito. “Ele tinha acabado de deixar o pai na aldeia e estava indo estudar, ai passaram por cima dele. Não sobrou nada na motocicleta, ele quebrou a clavícula e não resistiu. Os motoristas querem que a gente morra e por isso cobramos a presença das autoridades na aldeia”. As comunidades indigenas e os caciques estão reunidos para discutir as providências que serão tomadas. 

Já o Cacique, foi atropelado propositalmente durante um protesto realizado pelos índigina contra a morte do adolescente Benedito. Patirá explica que um caminhão, modelo Scania, foi em direção ao cacique em alta velocidade e o atropelou. O cacique não resistiu aos ferimentos e faleceu.

Bartolemeu explicou que na lei do povo Xavante é "olho por olho, dente por dente". “Para os Xavantes é: se o cara morreu, tem que matar. Eu sou professor, morei na cidade e entendo como é a burocracia do homem branco e que pela nossa lei isso não pode acontecer dentro das nossas terras indígenas. Nós somos seres humanos”. A aldeia fica a 50 km do município de Primavera do Leste (234 km de Cuiabá).

Confira áudio

 

Catia Alves

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