Nove crianças foram internadas na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Barra de Jangada, em Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife, no início da noite do domingo (20). Os meninos, com idade entre 6 e 12 anos, passaram mal após comer bolo e beber um suco de laranja misturado com refrigerante. Segundo as crianças, o síndico do conjunto residencial onde os garotos moram, em Cajueiro Seco, é quem teria oferecido o lanche aos pequenos na área de recreação do condomínio, onde vivem quase 400 pessoas distribuídas em 21 blocos.
O G1 foi até o local onde mora o síndico, mas ele não foi encontrado para comentar o ocorrido. [Veja vídeo acima]
Agitados, eles chegaram na unidade de saúde reclamando de fortes dores abdominais. Ainda com a marca do soro no braço, Robson de Souza, de 11 anos, contou que eles começaram a se sentir mal logo após comer. "Íamos caindo, tombando. Eu e meu irmão chegamos a ajudar um menino. Carregamos porque ele não conseguia nem ficar em pé", relembrou.
Para Robson, havia algo no suco e não no bolo. "Isso porque teve um menino, o mais novinho, que só bebeu o suco. Ele foi o que mais passou mal. Ele foi o último a beber. O suco já estava no finalzinho. Devia estar mais forte", afirmou, ressaltando também que o gosto da bebida estava "estranho". "Ele deve ter posto algo ali", complementou.
Robson ainda contou que estavam brincando de rodar peão quando o homem ofereceu o lanche. Essa não seria a primeira vez que o síndico serve guloseimas aos pequenos. "Ele já nos levou para tomar sorvete", disse o irmão mais novo de Robson, Thiago de Souza, de 8 anos, ao mencionar que o morador costuma ser carinhoso com as crianças: "Ele passa a mão na nossa cabeça".
Mãe de quatro meninos que estão internados, Edjane Maria da Silva suspeita que o síndico colocou tranquilizante na bebida. "No começo, pensei que eles estavam brincando, mas depois percebi que ninguém brinca de se jogar no chão assim. Foi assustador. Meu menino disse que estava com dor na cabeça, no estômago e no pé. Os que tomaram o restinho do suco foram os que sofreram mais. Acho que estava concentrado", disse.
Ela chegou a procurar o homem assim que percebeu o estado de saúde das crianças. "Bati na porta do síndico e perguntei o que tinha dado para eles. Ele disse que nada demais e mandou dar um pouquinho de água e deitar os meninos", completou.
De acordo com o morador Lindomar Gonçalves, o síndico mora no condômino há, pelo menos, um ano. "Nós não temos intimidade com ele, mas ele é conhecido por brincar e dar lanche para as crianças", falou. Ainda na noite do domingo, houve tumulto. A janela do apartamento do síndico foi quebrada e alguns brinquedos que ficavam no jardim do bloco foram levados.
Procedimentos médicos
Os pequenos ficaram internados sob obervação por cerca de 15h na enfermaria da UPA. Foi necessária a colocação de sonda estomacal. "Uma das nove crianças chegou um pouquinho pior e ficou na sala vermelha, que é uma área de cuidados mais intensivos", pontuou o médico e coordenador da unidade, Dyego Augusto. Elas foram liberadas por volta das 10h desta segunda-feira (21).
As crianças foram submetidas a exames de sangue e à coleta do suco gástrico. "Até o momento, não foi detectada nenhuma substância de envenenamento, como o chumbinho. Agora, vamos encaminhar esse material gástrico ao Centro de Assistência Toxicológica. Ele vai analisar o que tiver ali, o que elas ingeriram", explicou.
Investigação policial
Por telefone, a delegada Ana Luíza de Mendonça contou ao G1 que ainda não recebeu o inquérito. Porém, adiantou que enviou uma equipe até o apartamento do homem em busca de restos de comida. "Acho difícil encontrar, mas vamos tentar. Se acharmos, vamos encaminhar para o Instituto de Criminalística. Ele deve dizer que havia algo no alimento ou na bebida".
Segundo a delegada, foi o próprio homem que acionou a Polícia Militar na noite do domingo. "Ele ligou para a polícia porque quando chegou em casa os moradores estavam quebrando seu apartamento". Ele foi ouvido e liberado pela equipe de plantão da delegacia. Algumas mães também foram ouvidas durante a noite.
Se for encontrada alguma substância no lanche, o síndico responderá por tentativa de homicídio com agravante por ser contra menores e por envenenamento. A conclusão do inquérito deve sair em 30 dias, podendo ser postergado caso a análise das amostras não fiquem prontas a tempo.
Fonte: G1