Acordar cedo, ficar na cama um tempo, levantar lentamente, sair pegando nos móveis e paredes até chegar na cozinha. Já no cômodo, colocar a água no bule para fazer o tradicional cafezinho. Sem enxergar bem, a água escorre pelo lado de fora da garrafa. Essa é a descrição de apenas os primeiros minutos do dia de dona Oraldina Antonia Cruz, 77 anos, moradora de Canarana (823 km ao Leste).
Não enxergar bem era apenas uma das dificuldades enfrentadas por ela diariamente, nascida em Jandaia, no estado de Goiás, dona Dina, como é conhecida na cidade, é casada com Antônio Ferreira da Cruz, de 88 anos. Com idade avança, Antônio tem problema intestinal e não anda mais, necessitando de cuidados especiais e, até mesmo, de uso de respirador durante suas crises.
Dos nove filhos que teve com o seo Antonio, três já faleceram, quatro moram em outro estado e outros dois moram com eles. Ambos precisam de cuidados especiais, por conta de problemas neurológicos. Os recursos são precários, a aposentadoria dos dois é de um salário mínimo. No entanto, dois empréstimos que somam R$ 11 mil consomem boa parte do salário mensal, sobrando menos de R$ 600 para cada um.
Além da escassez dos recursos, o dinheiro acaba rendendo menos ainda, porque a família gasta cerca até R$ 180 reais de remédios. "Todos os meses temos que comprar o remédio, se não acho em uma farmácia de baixo custo, tenho que pagar R$ 180. Quando acho lá o valor diminui para R$ 80", contou.
Sem enxergar direito, não consegue fazer uma renda extra para ajudar no sustento da casa, por isso o sonho de poder voltar a costurar. A costura foi sua profissão durante oito anos. Quando parou de trabalhar com as linhas e agulhas, dona Dina teve depressão e ficou quatro anos doente.
Com o tempo a doença foi se agravando, até chegar ao ponto de dona Dina evitar sair de casa sozinha. "Eu não consigo enxergar quando um carro vem, para atravessar a rua eu coloco a mão na frente e vou", relatou a aposentada. Em casa, quando alguém bate palma na frente de casa, ela evita abrir o portão. Por não conseguir reconhecer, tem medo de que seja alguém que não conheça.
Dona Dina começou a virar a página da sua vida quando soube da Caravana da Transformação através de um dos 206 voluntários que atuaram na iniciativa do Governo do Estado. No segundo dia de consulta, lá estava ela. Chegou 5h, consultou cedo e foi embora feliz da vida e com a cirurgia marcada. O procedimento aconteceu na última sexta-feira (11.11).
A alegria ao descer da unidade móvel de atendimento cirúrgico era contagiante, agradecia a Deus pela oportunidade e ao Governo de Mato Grosso pela realização do grande mutirão de consultas e cirurgias que está sendo feito em Canarana. Com ela, o filho Emí Ferreira da Cruz e seu esposo Antonio, que mesmo com muita dificuldade fez questão de participar deste momento emocionante.
No sábado (12.11) quando teve a consulta de pós-operatório, conheceu o governador Pedro Taques e agradeceu pela realização da Caravana da Transformação. Com a vida transformada o dia a dia de dona Dina será com menos dificuldades.
Fonte: Gcom-MT