Familiares de dois dos cinco jovens encontrados mortos no domingo (6) em Mogi das Cruzes (Grande São Paulo) relataram nesta terça-feira (8) ao Condepe (Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana), órgão da Secretaria de Segurança Público do Estado, que estão sendo alvos de ameaças desde o domingo.
Um sobrinho e um irmão de vítimas foram questionados por supostos policiais sobre o parentesco com os mortos. Procurada, a PM não havia se pronunciado até a publicação da reportagem.
"No domingo, motos e um Celta cinza, todos descaracterizados, pararam um garoto de 18 anos e pediram para ver o celular. Quando viram a foto de uma das vítimas, perguntaram o parentesco e disseram que poderia acontecer o mesmo com ele. Ontem (7), eles disseram que a abordagem foi com um carro policial, que parou um sobrinho de uma das vítimas, de 13 anos", disse o vice-presidente e relator de violência do Condepe, Luiz Carlos dos Santos, 43.
Jones Ferreira Araújo, 30, César Augusto Gomes, 19, Jonathan Moreira, 18, Caique Henrique Machado, 18, e Robson Donato de Paula, 16, desapareceram no dia 21 de outubro no Jardim Rodolfo Pirani, na zona leste de São Paulo. Os corpos foram encontrados no domingo, em uma área rural de Mogi das Cruzes, em estado avançando de decomposição, enterrados em covas rasas e cobertos com cal. Apenas dois – Caique e Robson – foram reconhecidos até agora.
O Condepe deve ouvir as duas famílias nesta quarta-feira (9) e formalizar o pedido de entrada no PPCAAM (Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte) do garoto de 13 anos. Segundo o vice-presidente do Condepe, foi oferecida proteção aos familiares de outras vítimas, que resistem a deixar o local de residência.
Execução
A chacina tem características de execução, segundo o ouvidor das Polícias de São Paulo, Júlio César Fernandes Neves. Os tiros foram dados na cabeça e na nuca das vítimas com balas calibres .40 (de uso exclusivo e lote comprado pela Polícia Militar do Estado), 38 e 12. Um dos jovens estava com os pulsos amarrados. Outra vítima estava sem a cabeça quando encontrada.
As vítimas foram convidadas para um sítio na região de Ribeirão Pires por meio de uma rede social por uma mulher, cujo perfil foi apagado logo após o desaparecimento dos garotos. Nele, constava a foto da garota nua. No dia do sumiço, um dos jovens, Jonathan enviou um áudio para uma amiga pelo aplicativo WhatsApp, dizendo ter tomado um "enquadro" da polícia.
Apenas um dos jovens não tinha passagem pela polícia ou pela Fundação Casa: Jones Ferreira Araújo, que conduzia o carro. Jones tinha problemas psiquiátricos e estava interditado judicialmente. O mais novo dos garotos, Robson, era cadeirante, o que ajudou a identifica-lo. Ele havia sido baleado pela PM há dois anos, quando foi encontrado em um carro roubado.
A suspeita contra policiais foi confirmada nesta terça-feira pelo secretário Estadual de Segurança Pública, Mágino Alves, em entrevista à "Rádio Estadão". Ele, no entanto, disse que esta não é a principal linha de investigação e que é "prematura" associá-la a ação de policiais.
O UOL entrou em contato por e-mail e telefone com a assessoria de imprensa da Polícia Militar de São Paulo às 15h desta terça-feira (8), pedindo a resposta da corporação sobre as acusações dos familiares. Até a publicação desta notícia, no entanto, a PM não havia se posicionado.
Fonte: UOL