Esportes

Roberto Diniz Vinagre: Correr, nadar e lutar

O nome dele é Roberto Diniz Vinagre, mas ele também é conhecido como Doutor Roberto ou professor Roberto. Aos 61 anos, o médico pediatra e professor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e da Universidade de Cuiabá (UNIC) esbanja saúde e disposição para enfrentar uma jornada de muito trabalho e exercício físico. Lutador de Jiu-jitsu, Karatê, Taekwondo, Water Polo e Triathlon consagrou-se no esporte nacional e internacional.

A prática começou muito cedo, dos 16 para 17 anos, após decidir prestar vestibular para o curso de medicina no Rio de Janeiro (RJ) onde morou por 25 anos. De volta a Mato Grosso, Vinagre morou em Corumbá, agora Mato Grosso do Sul e depois veio para a Capital, onde vive e trabalha até hoje. “Eu nasci aqui (Mato Grosso), mas meu pai era militar e foi transferido para o Rio, onde vivemos muito tempo”, contou.

Durante a faculdade, que lhe ocupava por tempo integral, ele deixou o Water Polo e começou o Karatê. “Durante a minha faculdade eu treinava, três, quatro vezes na semana, quando dava eu treinava. No final da faculdade eu conheci o Jiu-jitsu e comecei a treinar”. Com a mudança ele abandonou as modalidades e começou o Taekwondo, único esporte que encontrou para praticar.

“Treinei por cinco anos (Taekwondo) e foi quando eu descobri a corrida. Eu comecei a correr maratonas, na faixa dos 25 para os 30 anos, e durante as maratonas eu descobri o Triatlhon e ai eu comecei a treinar. Nesse mesmo período o mestre Chicão veio do Rio para Cuiabá e abriu a academia de Jiu-Jistu e eu voltei a praticar o esporte junto com o Triatlhon. Então eu tenho sempre por base: correr, nadar e lutar. É mais o menos uma sobrevivência e eu sempre tentei conciliar isso apesar da profissão”, explicou Vinagre ao Circuito Mato Grosso.

Triatlhon

A modalidade esportiva combina de forma sequencial e sem interrupção, provas de natação, ciclismo e corrida, que surgiu em 1970, na cidade de San Diego, sul do Estado da Califórnia. Mas se tornou um esporte olímpico apenas em 2000 em Sydney (Austrália). Nas provas oficiais, para homens e mulheres, o percurso pode ter no máximo 51,5 km. Nas olímpiadas, as provas são divididas da seguinte forma: 1,5 km de natação, 40 km de ciclismo e 10 km de corrida. Percurso esse que é utilizado, também, nas provas do Campeonato Mundial.

Em Mato Grosso, Roberto foi um dos primeiros a praticar o esporte. “Eu fui praticamente o percursor aqui. Eu ia para a Guia no final de década de 80, uma estrada tranquila por onde cruzavam de cinco a sete carros em todo o trajeto. Pedalava até a Salgadeira em Chapada ou Santo Antonio do Leverger. Eram três lugares tranquilos de pedalar, mas onde hoje é impossível”, recordou. Segundo ele, os treinos de hoje são feitos no Distrito Industrial, em um local afastado da BR e  para onde ele vai aos finais de semana para praticar.

Todos os anos a União Internacional de Triatlo organiza duas grandes competições: Campeonato Mundial e Copa do Mundo. No Estado, o médico disse que devem existir cerca de 200 atletas que disputam provas pelo mundo. “Você tem os atletas profissionais e os amadores, então eu acredito que tenha mais de 200 triatletas”, contou.

Itu Grande Final 2016

Roberto já foi bi-campeão brasileiro de Triathlon e acabou de vencer o ITU GRAND FINAL 2016, ou o Open Triatlhon (competição que antecipa o mundial) na categoria Amador. A competição aconteceu em Cancun no México e trouxe para Roberto duas grandes emoções: ganhar a competição na modalidade 60 anos e o reconhecimento através de uma foto postada no maior site de notícias do esporte do mundo, o Triatlhon Unic.

“Eu fiquei muito contente. Cheguei lá, ganhei uma prova, fui agraciado com essa foto e tudo deu certo. Eu soube da foto no aeroporto quando estávamos voltando para o Brasil e um amigo meu disse: Vinagre você está em todo o mundo. Brincando eu respondi que ele também estava e ele disse: Não, a sua foto saiu na homepage da ITU”. Entre as fotos, uma dos campeões espanhóis e da campeã Feminina na Categoria de juniores e do sub23.

Vegetariano: filosofia de vida

Há trinta anos Roberto escolheu ser vegetariano. A alimentação para ele nunca foi um problema, mas mudou os hábitos a partir do momento em que detectou que não era capaz de matar nenhum animal para suas necessidades. No começo, era mais radical e além da carne cortou também o açúcar, mas que isso mudou e hoje apenas é vegetariano.

“Não escolhi por um processo biológico. A mudança da alimentação pra mim foi mais filosofia do que biologia”, explicou. Hoje o açúcar já é tolerado, mas com cuidado. “A atividade física que eu faço conciliada com o fato de que eu não tenho vícios e por ser vegetariano já me satisfaz em termos de alimentação e saúde”.

O objetivo do Roberto é continuar com a saúde de ferro, que é possível para todos desde que, palavra de médico, tenha-se uma alimentação saudável e pratique exercícios. “O meu objetivo não é só ganhar competições, meu objetivo é ter 61 anos sem hipertensão, sobrepeso, diabetes, insônia e todas as enfermidades que as pessoas falam que é compatível com essa idade, mas não é não. É só você não querer, que você não apresenta esse tipo de doença”.

Falta patrocinadores

O esporte é considerado caro, devido às três modalidades que engloba: corrida, natação e ciclismo. Uma bicicleta para realizar as provas de ciclismo custa em torno de R$ 6 mil a R$ 30 mil, preço de um carro popular.  Para natação, é preciso óculos, roupas adequadas como a Neoprene e de borracha para quando está frio. E para corrida, é necessários tênis, óculos e viseira para praticar a atividade. Além do espaço para treinar.

Apesar da profissão, Roberto explica que é muito complicado participar do mundial, já que há muita dificuldade na hora de comprar os acessórios. “Se existe um legado que as olimpíadas poderiam deixar para o brasileiro fazer atividade física, era fazer diminuição de impostos sobre material esportivo. É muito difícil para o brasileiro. Não que eu seja rico, mas dentro da população brasileira eu sou um privilegiado em relação a isso e, mesmo assim, eu tenho dificuldade”.

Segundo ele, muitas vezes é preciso um patrocinador, alguém que apoie o atleta, o que é ainda mais difícil. “De alguma maneira as empresas de materiais de corrida deveriam ver uma oportunidade, porque eu ganhei esse Open e em meio a três mil atletas uma das minhas fotografias acabou saindo na internet no Triatlhon Unic e no meu macaquinho poderia ter logo, marcas de patrocinadores, do Estado, da prefeitura ou empresas, mas não tinha”, lamentou. 

Catia Alves

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